Capítulo 10

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Soltei uma risada baixa, e fiquei na ponta dos pés pra lhe dar um selinho rápido antes de ir me sentar numa das cadeiras. Poncho fez o mesmo, e me serviu, enchendo seu prato logo depois. Peguei o garfo, inalando o cheiro ótimo que vinha do meu prato, e o enrosquei no macarrão, sentindo um olhar meio apreensivo dele sobre mim.

– Hm, vamos ver se já pode casar - brinquei, lançando um rápido olhar pra ele antes de colocar o garfo na boca.

Nos vários dias em que tive que preparar meu próprio almoço em casa porque mamãe estava trabalhando, eu costumava fazer macarrão, porque eu achava que era mais prático e gostoso. Eu considerava meu macarrão uma obra prima, me sentia o máximo por conseguir fazer um molho tão bom, mas tinha acabado de descobrir que não era tão boa cozinheira assim. Poncho conseguia ser melhor. Bem melhor.

– E aí? - ele perguntou, com o garfo pairando sobre seu prato ainda intocado e um sorriso nervoso.

– Ainda bem que você não cozinha pra viver - respondi quando terminei de mastigar, com uma expressão séria, e vi pânico nos olhos dele – Porque se cozinhasse, eu já teria virado uma coisa gorda e celulitosa de tanto comer seu macarrão.

– É agora que eu jogo todo esse macarrão na sua cabeça ou deixo pra mais tarde? - Poncho sorriu, parecendo transtornado e aliviado ao mesmo tempo, enquanto eu ria.

– Isso aqui tá ótimo - exclamei, quase passando mal de tanto rir da cara de horror que ele tinha feito – Não vai desperdiçar tudo na minha cabeça, por favor.

– Da próxima vez tente ir direto ao ponto, pode ser? - ele resmungou, sem conseguir evitar um sorriso e finalmente comendo um pouco do macarrão.

– Own, ele ficou chateado - falei, com uma voz cuti cuti – Desculpa, bebezão.

– Bebezão... Olha só quem fala - Poncho murmurou, me lançando um olhar brincalhão, e eu senti meu rosto esquentar de vergonha. Às vezes eu esquecia que ele já tinha treze anos quando eu nasci. Quer dizer, eu mal tinha dentes e ele já devia ter um protótipo de bigode. Tá, melhor não continuar pensando no que ele tinha ou fazia quando era pivete e eu chupava dedo. Ficamos alguns segundos em silêncio, apenas mastigando, até que ele voltou a falar:

– Por que você fez essa carinha e ficou quieta?

– Nada, eu só tava pensando aqui - respondi, sem olhar pra ele.

– Pensando no que? - ele insistiu, com a voz mais baixa e inclinando sua cabeça tentando ver o meu rosto. Sorri fraco e ergui meu olhar até o dele. – Isso tudo é muito doido... Não acha? - falei, sem graça.

– Isso tudo? - ele repetiu, com a testa franzida. Lerdo. Mas tudo bem, ninguém funciona direito com estômago vazio, principalmente homens.

– É... A gente ficar junto - expliquei, com o olhar fixo no dele. Poncho ficou sério, parecendo um pouco assustado por pensar no assunto.

– Por que você tá dizendo isso agora? - ele perguntou, com a voz igualmente séria e me deixando nervosa – Você tá pensando em desistir, ou sei lá, meu macarrão é tão ruim assim...

– Não, não, claro que não, seu macarrão é ótimo - interrompi, aflita apesar de ainda estar sorrindo, e ele continuou me encarando, esperando uma explicação melhor – Eu só tava pensando, sei lá... Em como isso foi acontecer entre a gente com toda essa diferença de idade.

Poncho sorriu fraco, e eu fiz o mesmo. Depois de quase um mês juntos, era a primeira vez que eu tinha parado pra pensar naquilo, e quanto mais eu encarava aqueles olhos brilhantes, menos eu conseguia encontrar uma resposta racional. Nós dois nos gostarmos não era nada racional, era meio que uma feliz coincidência. Dentre tantas alunas bonitas e inteligentes que eu sabia que ele tinha, ele foi escolher se envolver justo comigo, que não tinha nada de especial ou diferente delas. Talvez eu só estivesse me perguntando por que eu merecia tamanho presente.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora