Capítulo 51

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- Claro – assenti, e o observei caminhar por entre os amigos até a porta do apartamento e abri-la, deixando que todos saíssem.

Seguimos o fluxo calmamente, e eu tentei disfarçar a ansiedade formigando em minhas pernas e mãos, fazendo-as vacilarem e tremerem de leve. Como eu imaginei, ele apenas fechou a porta, deixando a chave para o lado de dentro, provavelmente para Dulce trancá-la logo em seguida. Poncho deve ter imaginado (e com razão, por inúmeros motivos) que não seria bom deixá-la trancada, ou então que seria apropriado deixá-la com a chave caso mudasse de ideia e quisesse se unir a ele e aos outros convidados. Posso confessar que gostei de saber que ela não tinha uma cópia da chave do apartamento dele? Definitivamente, seria uma das medidas que eu já teria tomado se estivesse com ela há alguns meses.

- Pelo visto teremos que fazer duas viagens – Poncho observou, ao ver toda aquela gente esperando por um único elevador, e eu acordei de meus pensamentos agitados – Acho melhor você descer pela escada, Uckermann.

- Relaxa, eu já ia fazer isso mesmo – sorri, e com um breve aceno, me despedi dele, já que mais ninguém ali estava suficientemente sóbrio para notar meu gesto. Desci tranquilamente o primeiro lance de degraus, sentindo meu coração bater tão forte a ponto de doer, e assim que sumi de vista, parei e esperei, imóvel, até que todos tivessem subido para o salão de jogos e o andar estivesse finalmente deserto. Assim que ouvi o sutil ruído das portas do elevador em movimento e o silêncio predominou, respirei fundo, só então notando que havia praticamente parado de respirar durante aqueles minutos de espera.

Me esgueirei até poder ver o hall, e de fato, não havia mais ninguém. É agora, disse para mim mesmo em pensamento, e enchi meus pulmões de ar, pronto para executar meu plano. Subi os degraus rapidamente e logo cheguei à porta pela qual havia acabado de sair. Girei a maçaneta devagar para não fazer nenhum barulho, e assim que entrei no apartamento, tranquei-me silenciosamente. O fato de não correr o risco de ser pego no flagra fez um certo alívio percorrer meu corpo, e um sorriso tenso se alojou em meu rosto. Eu estava cada vez mais perto de conseguir o que tanto almejava.

Caminhei determinadamente até o quarto de Poncho, cuja porta estava entreaberta, porém não consegui ver nada. O silêncio predominava no apartamento, mas meu coração batia tão forte que eu cogitei a hipótese de meus batimentos terem sido ouvidos a quilômetros de distância. Parei à porta, sentindo o nervosismo me dominar, e lentamente entrei no quarto, deparando-me com a silhueta de Dulce sentada na ponta mais distante da cama, de costas para mim. Fiquei um tanto surpreso por não encontrá-la deitada, mas antes que eu pudesse sequer tentar me recuperar, ela virou um pouco a cabeça, como se tivesse sentido minha presença, e me desarmou completamente.

- Você veio mesmo... Exatamente como eu imaginei.

As palavras dela, ditas num tom tão grave, me fizeram estremecer. Então ela já imaginava que eu a procuraria? Talvez por isso ela tivesse preferido ficar no apartamento a ir com Poncho e os outros para o salão de jogos? Milhares de perguntas colidiam em minha mente, unidas à enorme tensão e ansiedade que atordoava meus sentidos. Engoli em seco, buscando as palavras e a voz para respondê-la, e após alguns segundos, que me pareceram horas, consegui me acalmar um pouco.

- Estou ficando tão previsível assim? – perguntei, e agradeci fervorosamente minhas cordas vocais por não permitirem que minha voz falhasse ou parecesse trêmula.

Dulce soltou um risinho mórbido, ainda sem me olhar, e eu mantive meus olhos fixos nela, atento a qualquer movimento que pudesse fazer. As palmas de minhas mãos chegavam a formigar de tanto desejo acumulado de tocá-la novamente, de sentir sua pele ardendo sob a minha, e eu sentia que meus olhos poderiam saltar de suas órbitas, desesperados pelos dela, que ainda se recusavam a me olhar.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora