Capítulo 60

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- Obrigada por ter explicado tudo a ela – murmurei, brincando timidamente com a gola de sua camiseta pólo azul e branca, uma de minhas favoritas – Foi muito sensato da sua parte.

- Era o mínimo que eu poderia fazer – ele suspirou, fazendo com que sua respiração quente batesse em meus cabelos com mais força – A Portilla é uma garota muito legal... Não pensei que ela fosse aceitar tudo tão bem.

Sorri fraco, me sentindo a pessoa mais abençoada do universo por tê-la como amiga. Ela era realmente um anjo. Meus olhos se perderam por alguns segundos, vagando pela mobília da sala, e eu mordi meu lábio inferior, sem conseguir mais segurar a pergunta que ecoava em minha mente.

- Como foi hoje na escola?

Christopher ficou em silêncio por algum tempo, observando algum ponto distante, e eu o encarei, tensa por uma resposta.

- Ele não apareceu – sua voz grave falou, e seus olhos castanhos continuaram sem fitar os meus, talvez escondendo a raiva que seu timbre já denunciava – Tive que substituí-lo em duas aulas.

Soltei todo o ar que involuntariamente havia prendido em meus pulmões, me sentindo mais tranquila por não ter existido um contato entre os dois. Eu jamais me perdoaria se um deles perdesse a cabeça e iniciasse uma briga em pleno ambiente de trabalho, ainda mais sem que eu pudesse fazer algo para tentar evitar. Mesmo aprovando a ausência de Poncho, uma pequena parte de mim não conseguiu deixar de sentir preocupação e culpa por seu sumiço. Será que ele havia feito alguma loucura?

- Ainda bem – sussurrei, voltando a afundar meu rosto na curva perfumada de seu pescoço – Foi melhor assim.

- Não, não foi – Christopher rosnou, balançando negativamente a cabeça – Ele devia ter sido homem pelo menos uma vez na vida e ter aparecido. Eu o ensinaria a nunca mais agir feito um imbecil, e a cada vez que ele se olhasse no espelho e visse o estrago que minhas mãos causariam em sua arcada dentária, ele se lembraria nitidamente de mim.

- Calma, não fala assim – falei tentando acalmá-lo, acariciando seu peito, e senti suas mãos se fecharem em punhos – Não vamos perder a cabeça, por favor.

- Espere só até toda essa turbulência passar – ele disse, com os músculos tensos e o olhar distante, porém afiado como uma navalha – Ele ainda vai ter muitos pesadelos comigo.

- Christopher, olha pra mim – pedi, desaprovando toda aquela raiva crescendo dentro dele, e virei seu rosto até que seus olhos vingativos fitassem os meus – Se acalma, por favor... Vamos esquecer tudo isso, fingir que ele nunca existiu e virar essa página, está bem?

Ele me encarou por alguns segundos, com a expressão impassível, até que eu lhe dei um selinho demorado e seus músculos começaram a relaxar gradativamente.

- Eu tenho tanta raiva dele... – Christopher soprou, fechando os olhos por um momento e logo depois voltando a me olhar - Por ter te enganado durante todos esses meses, te fazendo de amante, te prendendo a ele, enquanto você podia ter sido minha... Só minha... Isso me envenena.

- Eu sei – assenti, com o rosto muito próximo ao dele, e um sorrisinho desanimado se formou em meu rosto – Eu sei como você se sente, acredite... Sei que é difícil controlar a raiva, mas pense que nós também o machucamos.

- Não foi planejado, Dulce – ele retrucou, adotando um tom de voz menos agressivo – As coisas foram muito rápidas e loucas entre a gente, não foi algo que pudéssemos ter evitado.

- Mesmo assim, Christopher – insisti, desviando meus olhos dos dele para baixo – Nós estamos errados também, e teremos de pagar um certo preço por isso, querendo ou não.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora