Fiquei em silêncio, mas não porque ele pediu, mas pelo choque de estar nas minhas condições físicas atuais. Ainda me abraçando, com os músculos tensos, eu esperei até que ele voltasse a falar, encarando-o com raiva.
- Não vou dizer que não foi difícil pra mim resistir, porque foi. Eu sou homem, não consigo evitar esse tipo de pensamento. Mas eu não fiz nada, acredite você ou não. Acha que eu queria que você dormisse aqui? Acha que eu planejei isso, que eu fiz de propósito pra poder dormir com você? Eu não sou santo, mas não me aproveito de mulheres inconscientes pra conseguir o que quero. Não preciso disso.
- Você não espera que eu acredite nessa sua versão fajuta dos fatos, espera? Porque sinceramente, eu não engoli uma palavra do que você disse – rosnei, com vontade de sair correndo dali, mas pra isso, eu precisava do meu vestido – Eu jamais devia ter aceitado entrar num carro com você, onde eu estava com a cabeça?
Ucker desviou seu olhar do meu, olhando novamente pela janela com a expressão derrotada. Ontem ele quase conseguiu me amolecer com sua atitude politicamente correta, mas se agora ele queria o mesmo efeito, teria que ir muito mais além daquela carinha de cachorro sem dono.
- Nada do que eu diga ou faça vai te fazer mudar de ideia, não é? – ele murmurou, com os olhos cerrados pela claridade e a testa pesadamente franzida sobre eles – Eu devia ter feito tudo errado, só pra poder me sentir devidamente culpado pelas suas acusações.
Sua voz estava carregada de frustração, demonstrando que ele estava num dos seus raros momentos de sinceridade. Seus lábios estavam contraídos, seu maxilar estava tenso, seus olhos estavam fixos em algum ponto lá fora, mas ainda assim eu podia enxergar ressentimento neles. E se ele realmente estivesse dizendo a verdade? Se ele tinha sido capaz de fazer boas ações por mim, porque não acreditar em sua versão, já que eu não estava consciente pra comprovar a minha?
- Onde está meu vestido? – falei baixo algum tempo depois, sem conseguir esconder meus pensamentos conflituosos na voz e na expressão confusas.
Ucker se levantou, sem olhar pra mim, e novamente eu senti falta de seu contato visual. Ele era uma pessoa muito misteriosa pra mim, e sempre que ele me olhava, era como se eu pudesse lê-lo, decifrá-lo, entender o que ele estava pensando. Quando ele não me olhava, eu ficava no escuro, sem saber onde estava pisando. Ele caminhou pra fora do quarto e sumiu de vista por alguns segundos, até surgir novamente com meu vestido nas mãos. Sem nem se aproximar muito e ainda evitando meu olhar, ele o deixou sobre a beira da cama e saiu, fechando a porta atrás de si pra que eu me trocasse. Como se ele já não tivesse me visto de calcinha e sutiã.
Continuei sentada por alguns minutos, encarando os lençóis bagunçados ao meu redor. Meus sentimentos estavam remexidos, misturados, fundidos numa grande bola de neve. Ainda meio em transe, fiquei de pé e peguei meu vestido, colocando-o facilmente. Assim que o tecido deslizou pelo meu rosto, pude sentir o perfume masculino dele impregnado na roupa. Provavelmente ele tinha ido parar ali quando Ucker me carregou até o apartamento ontem.
Por um segundo, imaginei como teria sido pra ele ter me visto daquele jeito. Vulnerável, indefesa, desmaiada, totalmente sob o comando dele. Me lembrei do que ele tinha dito sobre resistir àquela situação, e estremeci de medo. Estranhamente, não de medo dele, e sim pelo fato de não estar consciente e não ter noção do que se passava ao meu redor. Eu odiava essa sensação. E por pior que aquilo pudesse parecer, eu tive a intuição de que ele não tinha me feito nada de mal. Se tivesse, estaria jogando na minha cara que conseguiu o que tanto queria, e não o contrário. Me sentei novamente na beirada da cama e calcei meus tênis que estavam ao lado da cama, ainda pensativa. Peguei minha bolsa, que estava sobre o criado-mudo, e após verificar rapidamente se tudo estava em seu devido lugar dentro dela, deixei o quarto, procurando por Ucker, encontrando-o no cômodo ao lado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu Amado Professor (VONDY)
FanfictionEla? Apenas uma aluna do ensino médio. Ele? Um professor de Biologia. Ela o odiava. Ele aparentemente também a odiava. Mas, foi comprovado, que realmente o amor e o ódio são vizinhos de porta. O livro está sendo repostado na plataforma Wattpad. ...