Capítulo 38

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- É, ele... Ele chegou – falei, com muito esforço pra respirar, e só desgrudei meus olhos dele quando não era mais possível vê-lo pela janela. Pude ouvi-lo abrir a porta no andar de baixo e subir as escadas, arrastando os pés a cada degrau, como se aquilo lhe custasse a vida. Christopher entrou no quarto, colocando os óculos escuros na gola da camiseta, e a única coisa que fez foi olhar para Poncho e arregalar levemente seus olhos cansados.

- Caralho, Herrera... Que cagada.

- É, eu sei – Poncho resmungou, encarando o amigo com um olhar envergonhado. Não sei por que, mas senti uma vontade enorme de gargalhar. Como tenho amor à minha vida (pode até não parecer em alguns momentos, mas eu juro que tenho), me contentei em continuar quieta, interpretando parte da mobília do quarto.

- Bom... Vamos? - Christopher perguntou, parecendo segurar o riso assim como eu, e me lançou um rápido olhar divertido. Foi impossível não sorrir de volta, mesmo que discretamente, e uma incrível vontade de abraçá-lo e sentir a textura macia de seu casaco surgiu em minha mente.

- Claro, eu só preciso de ajuda pra me levantar – Poncho apressou-se em responder, me lançando um olhar embaraçado. Entendendo o recado, assenti depressa, com medo de ter viajado demais nos caminhos sinuosos do olhar de Christopher, e caminhei até a cama para ajudá-lo a ficar de pé. Estendi uma mão para que ele se apoiasse, e quando fui oferecer a outra, a mão de Christopher substituiu o vazio, e sua presença inesperadamente próxima me arrepiou da cabeça aos pés.

- Se você pretende mesmo levantar, acho melhor se apoiar em alguém forte de verdade – Christopher explicou, quando Poncho o olhou surpreso, e por mais incrível que isso possa parecer, não identifiquei nenhum rastro de provocação implícita em sua voz. Tentei engolir uma resposta diante da surpreendente educação dele, mas a vontade de retrucar foi mais forte do que eu.

- Eu sou forte de verdade – murmurei, mais pra mim mesma do que para ele, tentando abafar meu leve incômodo com seu comentário, que até então, me parecia benigno. O problema era que, por mais que eu realmente achasse que Christopher conseguiria ajudá-lo a se levantar com mais habilidade do que eu, meu humor sempre ficava um pouco fora dos eixos diante da presença dele, pendendo pra uma certa rispidez desnecessária.

- Dul, calma – Poncho pediu baixinho, me encarando por um momento com o olhar levemente repreensivo, e logo e seguida ficando de pé, graças ao apoio de nossas mãos. Christopher passou cuidadosamente um dos braços do amigo por cima de seus ombros (e se eu não estiver ficando doida de vez, pude jurar ter visto um sorrisinho esperto desenhar seus lábios) e eu fiz o mesmo do outro lado, diminuindo o peso em suas pernas.

Descemos as escadas devagar, poupando Poncho de quase todo o contato entre seus pés e o chão – como eu previa, Christopher foi muito mais habilidoso nessa parte do que eu, mesmo carregando também nossas mochilas, graças a sua massa muscular muito mais desenvolvida que a minha -, e rapidamente o colocamos no banco traseiro de seu carro. Quando estava prestes a me sentar ao lado dele, Christopher, que até então guardava nossas coisas no porta-malas, surgiu bem ao meu lado e interferiu:

- Saviñón, é melhor você ir na frente. Ele vai precisar de bastante espaço.

Olhei pra Christopher, sem saber ao certo como reagir, e como Poncho não demonstrou resistência, e até pareceu concordar com ele, fui para o banco do carona. Assim que coloquei o cinto de segurança e vi Christopher sentar-se em seu banco, bem ao meu lado, soube que aquela viagem seria perigosa. Inspirei fundo, esperando que o oxigênio me trouxesse algum conforto logo, mas foi simplesmente inútil. O perfume dele entrou com tudo em meus pulmões, devido à nossa proximidade, e eu rapidamente expirei, como se aquilo fosse me ajudar em alguma coisa.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora