Capítulo 31

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Entender era uma coisa. Gostar da ideia, ou melhor, me acostumar com ela, não me arrepiar com o simples fato de que aquela casa pertencia a Ucker e saber que eu estava lá com outro cara? Ah, isso era uma coisa bem diferente. Mas eu tinha prometido a mim mesma que não deixaria nada atrapalhar meu fim de semana com Poncho, e me apeguei a essa promessa.

- Bom, vou aproveitar a interrupção desnecessária pra te mostrar o resto da casa – Poncho disse, me dando um breve selinho – Você vai adorar a vista do quarto, ainda mais com o pôr-do-sol.

Me deixei ser guiada por ele em nosso tour pelos cômodos, totalmente absorta em pensamentos. Por mais que eu conseguisse sorrir de vez em quando com as descrições maravilhadas de Poncho sobre cada móvel, meu pensamento continuava distante dali, perigosamente próximo do proprietário daquela casa.

Imaginei por um momento se Ucker já havia levado mulheres pra lá. Com certeza já... Mas quantas? Várias de uma só vez? Será que Maria já teria passado um fim de semana com ele naquela mesma casa?

Definitivamente, eu teria um certo trabalho pra afastar aqueles tipos de pensamento da minha mente.

Imaginar Maria passeando pelos cômodos só de roupas íntimas (ou até mesmo sem elas), enquanto os olhos dele a acompanhavam, me causou uma súbita queimação dentro do peito, que eu logo reprimi furiosamente. Eu estava começando a me convencer de que tinha alguma doença psicológica incurável.

- Agora chegamos ao lugar mais lindo da casa – Poncho avisou, empolgado, antes de abrir a porta de um dos cômodos no andar de cima – Feche os olhos.

Suspirei, tentando relaxar, e obedeci. Ouvi a porta se abrir e logo as mãos de Poncho me guiaram pela cintura alguns passos pra dentro. O barulho do mar ali era bem mais alto, e um vento agradavelmente fresco e com cheirinho de praia nos atingiu após algumas passadas. Ele me mandou parar, e me abraçou por trás antes de sussurrar ao pé do meu ouvido:

- Pode abrir.

Fiz o que ele pediu devagar, e uma forte luz alaranjada infestou meus olhos. Estávamos na sacada do quarto, de onde podíamos ver uma faixa relativamente curta de areia estender-se até ser encoberta pelo mar sereno. O sol estava prestes a "tocar" a água no horizonte, irradiando laranja sobre tudo que havia abaixo de si e reinando solitário no céu, já que nenhuma nuvem ousara aparecer ao seu redor.

Aquela vista me tirou o fôlego. Pra mim, o pôr-do-sol era um dos espetáculos mais lindos da natureza. Sempre que eu podia, costumava ficar observando as oscilações de cores lindas e vibrantes no céu enquanto o sol se punha, refletindo sobre qualquer coisa ou simplesmente ouvindo alguma música. Era extremamente terapêutico, me deixava muito mais calma à noite e me fazia dormir melhor. Claro que com as reviravoltas dos últimos dias, não havia pôr-do-sol que me acalmasse, mas eu não deixava de tentar.

- Poncho... É lindo! – soprei, levando uma mão à boca em sinal de deslumbramento. Ele não respondeu, apenas soltou um risinho mudo e acomodou melhor seu queixo em meu ombro, com a lateral de seu rosto colada ao meu.

Aquela vista me fez enxergar as coisas com muito mais clareza, analisar todas aquelas preocupações que a lembrança de Ucker havia trazido com mais calma, e até mesmo chegar a uma conclusão. Eu tinha que colocar em minha mente que eu amava Poncho e não precisava de mais nada. Tantas pessoas esperam a vida inteira para encontrar sua alma gêmea, e eu com meus míseros 17 anos, tive a sorte de encontrar a minha.

Mas ainda assim, conseguia ser baixa ao ponto de pensar em outro homem... Ao ponto de tê-lo traído com outro homem. Aquilo me sufocou. A culpa e a censura me estrangularam, cruéis e dolorosamente justas. Ucker nunca seria capaz de fazer por mim nem a metade do que Poncho fazia.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora