Capítulo 44

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Fazia tanto tempo que eu não dirigia por aquele trajeto que mal me recordei desse fato tão relevante. Só me dei conta desse detalhe quando meus olhos se depararam com a casa familiar, poucos metros à minha frente. Quando estive ali pela primeira e até então única vez, após a última festa de Maria à qual tinha ido, terminei num poste, com minha BMW amassada feito sucata. Senti meus pulmões se contraírem de tensão devido às sensações que aquele lugar me trazia, e não consegui conter a vontade de frear bem em frente à casa, tentando não chamar muita atenção, é claro.

Observei atentamente as janelas, buscando por alguma luz acesa, mas não encontrei nada, a não ser por um detalhe no mínimo curioso: os vidros de uma janela próxima à porta estavam abertos. Perigoso descuido, sem dúvida, apesar de aquele ser um bairro bastante famoso por seu baixo índice de criminalidade. Provavelmente, sua mãe ainda estava em algum cômodo e logo notaria a discreta abertura, por isso nem me preocupei em tomar qualquer atitude.

- Como eu sou idiota – murmurei para mim mesmo após mais alguns segundos na espreita, relaxando meus ombros e balançando negativamente a cabeça, porém sem tirar os olhos da casa – Ela deve estar chegando ao baile enquanto você a espera aqui, feito uma mula.

Suspirei profundamente, sentindo o peso da ignorância me desanimar, e após mais alguns segundos de tola esperança, voltei a girar a chave na ignição, rindo de minha própria burrice. Lancei um último e ansioso olhar à casa escura, contendo minha curiosidade em saber como ela era por dentro, e assim que meus olhos voltaram a se afastar dela, vi algo que me pareceu uma miragem a princípio, mas depois se tornou fato.

Uma das luzes havia sido acesa no andar de cima.

Voltei a fixar meu olhar no cômodo agora iluminado, sentindo meu coração palpitar ansiosamente, e não precisei esperar muito para que o responsável por ativar aquela iluminação passasse bem em frente à janela, perto o suficiente para que eu o reconhecesse.

Perto o suficiente para que eu recebesse a melhor notícia de minha noite.

Aquele só podia ser o quarto de Dulce.

Porque era justamente ela quem estava lá dentro.

- Eu não acredito nisso – sussurrei para mim mesmo, ouvindo os batimentos eufóricos de meu coração ao constatar tais fatos, e como num piscar de olhos, todas as peças se uniram em minha mente, formando uma imagem muito mais do que clara, apesar dos riscos que me oferecia – Então... Ela não vai ao baile?

Meus olhos foram da janela de Dulce até os vidros abertos no andar de baixo, e continuaram fazendo esse percurso vicioso por alguns segundos, buscando por possíveis falhas. Encontrei algumas, como a possibilidade de sua mãe estar em casa, mas eu estava tão boquiaberto diante daquela situação tão favorecedora que hipóteses como essa me pareceram meros detalhes.

Está tão fácil!, uma voz ecoou em minha cabeça, e eu não pude fazer nada a não ser concordar com ela. Após mais alguns poucos segundos de indecisão, respirei fundo e me desfiz da gravata, sentindo que precisaria de mais ar do que o normal. Minha escolha estava feita; estimulada pela exorbitante recompensa que sua presença poderia me trazer, a coragem necessária para lidar com as piores derrotas agora zunia em minhas veias.

Porque para a doce vitória, eu já estava mais do que preparado.

- Hm... – pensei alto, cerrando meus olhos agora fixos na janela do andar de baixo, e um sorriso criminoso surgiu em meu rosto – Por que não?

Dulce Saviñón

Deus do céu. Que tédio! Se eu soubesse que ficaria naquele estado absurdo de marasmo, teria me atirado de um prédio antes de ter que passar por aquele fim de semana.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora