Capítulo 25

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Absorver o turbilhão de loucuras que tinham acontecido em tão pouco tempo parecia impossível, mas quando a compreensão finalmente começou a aparecer e eu consegui organizar meus pensamentos, as perguntas sem resposta me engoliram como uma onda gigante. Como eu deixei isso acontecer? Por que eu deixei isso acontecer? Eu amava Poncho, podia sentir meu coração doer de culpa a cada batimento!

Mas ao mesmo tempo, podia sentir os leves tremores que percorriam minha espinha a cada segundo gasto pensando em Ucker; apesar de estar debaixo do chuveiro, ainda podia sentir o cheiro dele em minha pele, o cheiro do qual eu me tornei inconscientemente dependente há algum tempo. Não era certo querer um cafajeste daquele jeito, somente por pura atração física, enquanto eu tinha um príncipe encantado me dando todo o amor que eu precisava.

Com os olhos fortemente fechados, eu permaneci naquela posição por incontáveis minutos. Era extremamente doloroso, mas eu nem tentei me impedir de pensar em Poncho. A imagem de seu rosto sorridente, radiante, apaixonado, logo dominou minha mente, a não ser quando os olhos castanhos do professor Uckermann teimavam em surgir, tão hipnotizantes que tirariam do chão até a pessoa mais insensível. Como eu fui um dia em relação a ele.

Me abracei, sentindo as pontas de meus dedos ficarem cada vez mais frias, e abri os olhos, já que mantê-los fechados só piorava minha situação. Focalizei o vidro molhado do box à minha frente, bem aonde havia uma pequena prateleira com meu shampoo, sabonete e condicionador. Num cantinho da prateleira, estava uma esponja praticamente intocada que mamãe havia me dado há algum tempo atrás, esperando até seu próximo e raro uso. Não precisei pensar duas vezes.

Peguei a esponja, encharcando-a e esfregando meu sabonete nela até me certificar de que a espuma era suficiente. Com o lado áspero, eu comecei a me esfregar por inteiro num movimento frenético e masoquista, começando pelos braços e seguindo pelo resto do corpo. Os vergões avermelhados que a esponja deixava em minha pele mal apareciam, escondidos sob a grossa camada de espuma que os cobriam, mas eu podia senti-los ardendo insistentemente. Desesperada, eu passei a esfregar com ainda mais força, e cada lugar que a esponja percorria me trazia uma lembrança de tudo que eu e Ucker tínhamos feito. Um nó enorme e doloroso se formou em minha garganta, mas prometi pra mim mesma que não derramaria uma lágrima.

Não por ele. Não por Ucker.

Aquilo tinha sido só um momento de insanidade, nada mais. Nunca aconteceria de novo, isso era certeza. Poncho não precisaria saber, não houve sentimento nenhum, nunca existiu e nunca vai existir. Eu odiava Ucker, e não sabia como viveria sem Poncho. E por todos os aspetos que os tornavam duas pessoas completamente diferentes, eu guardei aquele erro dentro de mim, num canto deserto de minha memória, de onde ninguém o tiraria. Era isso... Estava acabado.

Me deixei cair no chão do box, cansada e arfante pelo esforço com a esponja. Encostei minha cabeça na parede atrás de mim, sentindo minha pele arder ainda mais quando os respingos de água gelada me atingiam, e encarei o vazio por um tempo. Totalmente entorpecida. Eu tinha tomado minha decisão. Eu sabia que não seria capaz de encarar Poncho novamente sem me lembrar de minha mentira, mas o simples pensamento de contar a ele e ver a repulsa em seu olhar fazia meu corpo se encolher involuntariamente. Poncho não merecia ser enganado, e eu sabia que não o merecia, mas eu era egoísta demais pra dizer a verdade e vê-lo me abandonar.

Após um longo tempo que não consegui calcular, ouvi batidas na porta de meu quarto. Ignorei-as totalmente, sem condições de falar com ninguém. Eu me sentia um pouco mais calma, mas ainda não totalmente de volta à realidade.

Foi quando eu ouvi uma voz inesperada do outro lado da porta.

- Dulce?

Olhei na direção da voz, como se fazendo isso pudesse ver se ela realmente pertencia a quem eu estava pensando. Com cuidado pra não escorregar, me levantei do chão, me enxaguei rapidamente pra tirar o resto de espuma e saí do banheiro, com uma toalha enrolada no corpo e a outra no cabelo.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora