O dia se passou tediosamente, fora minha inquietação. Depois do intervalo, arrastei Poncho para uma sala que sempre ficava vazia no térreo e me desculpei pela pressa do dia anterior, restabelecendo a calma em nossa relação. Apesar de tudo estar se endireitando novamente, eu ainda estava determinada a pedir desculpas a Ucker e me ver livre daquela horrível sensação de culpa, mas só a hipótese de ter aquele olhar enfurecido no meu já me fazia tremer da cabeça aos pés. Eu não tive coragem de procurá-lo naquele dia, muito menos no dia seguinte, e só voltei a vê-lo quando minha aula de biologia laboratório chegou, mais rápido do que eu gostaria.
Entrei no laboratório, tensa apesar dos sempre agradáveis minutos sozinha com Poncho depois de sua aula, e vi o professor Ucker cercado por Maria e suas amigas. Ele estava encostado na lousa, com os braços cruzados na altura do peito e um sorriso charmoso, conversando amigavelmente com as meninas. Notei que ele já não usava mais o curativo na testa, e fiquei feliz por saber que ele estava fisicamente recuperado do acidente, que de certa forma, eu causara. Me sentei no lugar de sempre, tentando em vão não observá-lo demais durante a aula, mas olhar pra ele ou não era indiferente, já que seu rosto não se virou uma vez sequer na minha direção.
Ucker me fez sentir como se eu nem estivesse ali, coisa que ele sabia fazer e muito bem. O que eu estava esperando dele afinal? Que ele viesse me agradecer por tê-lo enfurecido tanto a ponto de fazê-lo ferrar com sua BMW? Ele tinha dito que nunca mais olharia na minha cara, e estava cumprindo com sua palavra.
Após o que me pareceu uma eternidade, o sinal tocou, anunciando o fim da aula, e todos seguiram em direção à mesa dele para lhe entregar seus relatórios. Diante da pressa do resto da classe para ir embora, eu apenas continuei sentada, encarando meu relatório feito pela metade com muito esforço, até me encontrar sozinha com Ucker no laboratório. Previsivelmente, ele apenas continuou sentado em sua cadeira, organizando os relatórios recém-entregues, com a expressão concentrada.
Respirei fundo, me enchendo de uma falsa coragem, e fiquei de pé para entregar meu relatório. Senti a folha tremer de leve em minhas mãos, denunciando meu nervosismo, mas continuei caminhando devagar até alcançar sua grande mesa. Assim que parei à sua frente, notei seu olhar se desviar brevemente dos relatórios e se erguer quase que imperceptivelmente até a altura de minha cintura, o bastante apenas pra me reconhecer e voltar a ignorar minha presença. Respirei fundo novamente, com o coração se debatendo dentro do peito.
- Professor... – comecei com a voz fraca, encarando sua cabeça baixa, e não tive coragem de terminar.
Minhas lágrimas estavam lá, como no dia anterior, sem que eu sequer permitisse ou as quisesse ali e tornando minha voz embargada, mas ele não pareceu se importar. Arrancou meu relatório de minhas mãos de um jeito brusco, ainda sem me olhar, e o colocou de qualquer jeito em sua pasta. Fechou-a, guardou-a em sua mochila e pôs-se de pé, já com uma de suas alças sobre o ombro e caminhando determinadamente até a saída do laboratório.
- Me desculpe – ouvi minha voz dizer, num sussurro esganiçado, e o silêncio substituiu o barulho de seus passos, denunciando que ele tinha parado de andar. Mesmo sem vê-lo, pude senti-lo ainda presente, mas não tive coragem de me virar para encará-lo e apenas esperei alguma reação sua, que demorou eternos segundos para finalmente vir.
- Não perca seu tempo – a voz fria dele rosnou, ecoando pelas paredes do laboratório, tão silencioso que me permitia ouvir os batimentos acelerados de meu coração com nitidez. Fechei os olhos com força, tentando parar de chorar por uma tristeza profunda que eu mal conseguia entender, enquanto seus passos revelavam que ele tinha me deixado a sós com minha culpa esmagadora.
Naquela semana, eu não fui à casa de Poncho. Segundo ele, Ucker o convidou para uma viagem de fim de semana com alguns amigos no iate de sua família, para comemorar a sorte dele por ter saído ileso de seu acidente. Poncho mencionou o nome da cidade litorânea para onde eles iriam, que era por sinal onde ficava a casa de praia dos Uckermann, mas eu estava com a cabeça carregada demais pra prestar atenção nesse detalhe.
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Meu Amado Professor (VONDY)
FanfictionEla? Apenas uma aluna do ensino médio. Ele? Um professor de Biologia. Ela o odiava. Ele aparentemente também a odiava. Mas, foi comprovado, que realmente o amor e o ódio são vizinhos de porta. O livro está sendo repostado na plataforma Wattpad. ...