Capítulo 57

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Minha pressão baixou instantaneamente assim que ouvi Ucker pronunciar seu nome, e foi ainda mais difícil não desmaiar ao ouvir sua voz ecoar pelas paredes.

- Cara, ainda bem que você não foi embora! – Poncho suspirou, com desespero e alívio na voz, e pude ouvir seus passos adentrando o laboratório – Eu preciso muito da sua ajuda.

- O que aconteceu? – Ucker perguntou, já com um pouco mais de firmeza. Diferentemente de mim, que mal conseguia respirar, tamanho era o meu nervosismo.

- Eu estou numa encrenca enorme – Poncho disse, e eu apenas me mantive imóvel, ouvindo-o com toda a minha atenção – A Jenny quer vir morar comigo!

Deixei meus olhos fixos no pé de um dos bancos próximos a mim, sentindo uma pontada forte em meu peito.

Quem era Jenny?

- A Jenny? – Ucker repetiu, surpreso – Como assim, morar com você? Ela não estava trabalhando em Leeds?

- Estava, mas eu fui visitá-la esse final de semana e ela disse que não aguenta mais viver sozinha naquela maldita cidade, que sente minha falta e todas essas idiotices de mulher – Poncho bufou, parecendo muito irritado, e surrealmente diferente do Poncho que eu conhecia – Ou seja, eu estou completamente ferrado, porque se ela vier morar comigo, provavelmente vou ter que casar! Quer dizer, enrolar uma mulher por três anos com um noivado à distância não é nada bom quando o pai dela é um militar aposentado que tem quase uma ogiva nuclear no quintal de casa! E se eu me casar com a Jenny, como vou fazer pra ficar com a Dulce? Pior ainda, como vou esconder meu casamento dela?

Alguns segundos de silêncio se seguiram às palavras de Poncho, porém eu não consegui mais ouvir quando a voz de Ucker surgiu. Suas palavras eram apenas sussurros, ruídos em meus tímpanos, absurdamente distantes de mim. A voz de Poncho, tão incomum à postura que ele costumava ter, ainda gritava em minha cabeça, fazendo tudo girar ao meu redor e o chão sumir sob meu corpo.

Poncho.

Jenny.

Casar.

Noivado.

De repente, eu só conhecia essas quatro palavras. Num piscar de olhos, eu só sabia pensar nessas quatro simples, e ao mesmo tempo, tão complexas palavras. Num segundo, meu vocabulário se resumiu a meras quatro palavras, que mudariam minha vida por completo. Alguns segundos de pane se passaram, sem que eu conseguisse mover um músculo ou pensar em qualquer outra coisa a não ser naquelas quatro palavras. E quando elas finalmente começaram a fazer sentido, foi como se tivessem golpeado fatalmente meu coração com uma estaca.

Poncho tinha uma noiva.

Poncho tinha uma noiva chamada Jenny.

Poncho tinha uma noiva chamada Jenny e provavelmente se casaria com ela.

Poncho tinha uma noiva chamada Jenny e provavelmente se casaria com ela sem nem ao menos me contar.

Quem era Poncho afinal? Que tipo de monstro ele era? Ele realmente me amava como fazia parecer?

Meu Deus do céu... A quem eu havia confiado meu coração durante todo aquele tempo?

Lágrimas embaçaram minha visão por completo em questão de segundos quando me vi diante de todas aquelas afirmações e dúvidas. Levei as mãos à boca para abafar um grito de horror que parecia ter entalado no enorme nó de minha garganta, e sem que eu sequer notasse, meu rosto foi lavado pelo oceano salgado que escapava por meus olhos. Grossas e pesadas gotas de minha dor líquida misturavam-se silenciosamente ao fluxo de água que já corria por minhas bochechas, enquanto eu aos poucos compreendia o que havia acabado de descobrir.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora