Capítulo 18

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Mais engraçada do que aquela situação toda foi a cara de tacho da Maria, totalmente sem resposta diante do meu divertimento. Nem pra chantagear alguém ela prestava. Ignorar o Uckermann é algo que eu adoro fazer, só ela ainda não tinha se tocado disso. Provavelmente ela sabia da cisma dele comigo, e estava se aproveitando daquela situação pra me manter longe dele e garantir sua atenção só pra ela, coitadinha.

- Se quiser que eu piore, é só falar - ela resmungou, totalmente desmoralizada, e eu engoli o riso. O assunto era sério, apesar do fracasso de Maria como chantagista.

- Não, eu aceito essas condições - assenti, colocando as mãos nos bolsos do vestido - Bom, se for só isso, eu já vou indo.

- Mas já? Pra que a pressa? - Maria perguntou, franzindo a testa do seu jeito cínico sem tirar um sorrisinho de canto do rosto - Bebe alguma coisa, senta um pouquinho. As meninas têm várias perguntas pra te fazer.

- Perguntas? - repeti, sem entender - Sobre o que?

- Oras, conquistar o professor mais desejado e intocado da escola não é motivo de curiosidade? - ela sorriu, encostando-se na porta e me impedindo de sair. Que absurdo, meu Deus do céu. Aquilo só podia ser uma piada. Como ela e as amiguinhas conseguiam ser tão putas?

- Você já conseguiu o que queria, agora me deixa ir embora - rosnei, quase dando um soco na fuça dela.

- Acho que esqueci de te avisar que os favores que vai fazer pra mim começam hoje - ela disse, como se eu tivesse problemas mentais e só entendesse as palavras se fossem ditas numa velocidade mais lenta que a normal - E o primeiro deles é ficar até o fim da festa. Quero ver como você se sai num ambiente completamente diferente do qual você tá acostumada a ficar. Talvez não seja tão divertido pra você, mas aposto que vou adorar a experiência.

Pude ver minha cara de perplexidade refletida nos olhos brilhantes de malícia de Maria, e soltei um suspiro derrotado ao pensar no que estava em jogo ali. Minha relação com Poncho, minha felicidade estava em risco, era um segredo perigoso demais pra arriscar uma rebeldia contra as condições dela.

- Que seja - murmurei, evitando encará-la e ver a alegria maldosa em seu rosto. Maria abriu a porta com um sorriso, finalmente me deixando sair, e eu a acompanhei até o andar de baixo, sem acreditar na cilada na qual eu tinha acabado de cair.

- A casa é sua, querida - Maria disse, cínica, quando descemos o último degrau da grande escadaria de mármore - Fique à vontade... Se conseguir.

Soltei um suspiro fúnebre enquanto me encaminhava pra qualquer lugar daquela mansão, fazendo questão de seguir a direção oposta à de Maria. Por onde eu passava, via pessoas conhecidas da escola, e as poucas ainda sóbrias demonstravam curiosidade por me ver naquele lugar. Encontrei um balcão onde um rapaz preparava alguns drinques, e resolvi ficar por lá, já que a meia dúzia de pessoas sentadas ali pareciam estar bêbadas demais pra sequer se mexer.

- Cerveja, por favor - rosnei ao barman, com a garganta coçando por álcool.

Se era pra encarar aquele martírio, que algo me ajudasse a passar o tempo mais rápido. Não sei te dizer em quantas línguas diferentes eu xingava Maria em pensamento por me manter presa naquela festa horrorosa. Ela sabia muito bem que eu não suportava ficar em lugares como aquele, e ainda me forçava a aturar aquele bando de gente que eu já odiava quando estavam lúcidos, e conseguia odiar mais ainda quando estavam bêbados.

O barman logo me entregou uma latinha de cerveja, cuja metade do conteúdo eu mandei garganta abaixo de uma vez só, sem hesitar. Sentindo o líquido gelado descer dentro de mim, voltei a observar a bagunça na qual aquela casa tinha se transformado. Nada parecia estar em seu lugar, ninguém parecia estar em seu juízo perfeito... A não ser aqueles olhos.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora