Capítulo 17

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- Sim, eu insisto – Poncho retrucou, cerrando os olhos e franzindo rapidamente o nariz antes de me dar um beijo demorado. Os minutos foram passando (aliás, voando), a gente continuou se beijando, e assim que ele me prensou contra a parede do corredor, me dei conta de que aquilo estava durando demais e estava tomando um rumo que não devia tomar.

- Desculpa, eu me empolguei um pouquinho – ele sussurrou, abrindo devagar os olhos e me fazendo sorrir feito uma idiota quando eu o afastei pelo peito. Mesmo depois de quase dois meses juntos, ele ainda me fazia sorrir sem esforço.

- É, eu percebi, você tá que tá hoje – brinquei, lançando um breve olhar pro retorno do insistente volume em sua bermuda antes de dar as costas pra um Poncho desconcertado – Vamos?

Descemos as escadas rapidamente, sem esquecer de nos despedirmos de Andy, e caminhamos até o carro de Poncho, que estava estacionado bem em frente ao prédio. Rezando pra ninguém nos ver, entrei no carro pela porta do carona enquanto ele fazia o mesmo do outro lado, com um sorriso insistente de quem estava levando a namorada (ou sei lá o que eu era dele) pra casa pela primeira vez. Ele lançou um olhar de dúvida pra ignição do carro e subitamente começou a tatear os bolsos da bermuda, procurando alguma coisa.

- Droga – ele xingou, entortando a boca e desistindo de revirar seus bolsos – Esqueci a chave.

- Não acredito – falei, revirando os olhos e rindo de um jeito apreensivo por estar aparecendo com ele em público.

Olhava pra todas as direções, preocupada com as poucas pessoas que passavam pela rua e o que elas poderiam pensar.

- Viu o que você faz comigo? Me deixa todo desconcentrado – ele murmurou, com sua típica cara brincalhona de insatisfação enquanto saía do carro – Já volto.

Assim que Poncho sumiu pela portaria do prédio, eu me deixei escorregar no assento do carro, praticamente sumindo de vista. Apesar de ter olhado pra todos os lados possíveis e não ter visto quase ninguém na rua, eu não queria correr o risco de ser vista por gente demais, ou pelas pessoas erradas.

Encarando vagamente a barra de minha blusa, com a qual eu brincava com a mesma atenção, eu esperei, até ouvir leves batidas no vidro ao meu lado poucos segundos depois. Pulei de susto com o barulho repentino, e senti todo o sangue do meu corpo evaporar quando olhei na direção do som.

Meu olhar se fixou nos olhos irritantemente verdes de Maria do outro lado do vidro, que sorria pra mim com seu cinismo cotidiano. Não sei descrever o que se passava dentro de mim naquele momento, só sei que foi um dos piores sentimentos que eu já tive, como se tudo dentro de mim estivesse desmoronando. Ela não podia estar ali, ela não podia ter me visto, ela simplesmente não podia.

Quando eu pensei que ainda havia uma chance de driblar aquela situação, vi que havia uma meia dúzia de garotas igualmente patricinhas do outro lado da rua cochichando e rindo entre si enquanto nos observavam, algumas até fotografando a cena com a câmera de seus celulares caríssimos. Amigas dela, que também me conheciam de vista porque estudavam no mesmo colégio. Maravilha, eu realmente estava encurralada.

- Desce o vidro, quero falar com você – ouvi a voz de Maria pedir, abafada pela porta fechada entre nós. Tentei me mexer ou fazer algo básico como respirar, mas não deu. Eu estava totalmente paralisada, dura de pavor. Ela era só fruto da minha imaginação. Só podia ser.

Levei alguns segundos assimilando a situação, e como Maria continuou parada do meu lado e não sumiu como uma miragem normal, eu fiz a única coisa que podia fazer: abaixei o vidro, com o olhar trêmulo. Já era, ferrou tudo. Ela e suas amiguinhas iam mostrar fotos minhas no carro de Poncho pra diretora, ela chamaria minha mãe e aí minha vida estava acabada. Já dava até pra me ver mudando de escola e sendo tachada de piranha pro resto da vida.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora