Continuei encarando-o, sem saber se acreditava ou não. Preferi não ocupar minha mente com aquele assunto, já estava tudo resolvido, meu chaveiro estava comigo de novo e eu pouco me importava se ele estava dizendo a verdade ou não. Ele era um imbecil de marca maior e estar sendo sincero não o faria menos desprezível.
– Obrigada, se era isso que você queria – resmunguei, grossa, voltando a encarar a paisagem lá fora. Que estado calamitoso eu havia atingido, era capaz até de agradecê-lo pra vê-lo longe de mim.
– Eu quero bem mais de você – ouvi o professor Uckermann murmurar, com os olhos cravados em mim – Sei que minha vez vai chegar, e tenho paciência pra esperar.
Sem dizer mais nada, ele se levantou e voltou a se sentar em sua mesa junto com o professor Jonas Araripe, finalmente me deixando sozinha com meus pensamentos, e com um ódio cada vez maior dele. Se antes daquela excursão eu já estava decidida a contar tudo sobre o Uckermann pra Poncho, agora eu não perderia a chance de fazê-lo o mais breve possível.
– Mãe, cadê você?
Seis horas e cinquenta e três minutos. Eu estava parada na porta da escola, quase congelando de frio, falando com minha querida e pontual mãe ao celular. Por que raios ela não estava parada na frente do colégio pra me levar pra casa se a porcaria da excursão estava prevista pra acabar às seis e meia? Quase meia hora de atraso, bem típico de mamãe mesmo.
– Desculpe o atraso, filha, acabei cochilando e perdi a hora – ela respondeu, parecendo um tanto afobada do outro lado da linha – Já estou indo te buscar, querida, não demoro.
– Não demore mesmo, por favor – murmurei, ao ver que não havia mais sombra de nenhum aluno na porta da escola. Fechei o slide do celular lentamente, com frio demais pra me mover mais rápido que aquilo.
Depois de toda aquela chuvinha fraca irritante e incessante, veio um frio que ninguém estava esperando, acompanhado de uma escuridão precoce que dava a impressão de que já eram nove da noite. Todos deixaram o ônibus encolhidos e buscando o ambiente agradável de dentro dos carros dos pais. Só eu tinha que me conformar com mais alguns minutos de espera, sentindo a ponta de meus dedos dos pés e das mãos perderem a sensibilidade, meu nariz ficar gelado e ver minha respiração virar fumaça assim que entrava em contato com o ambiente. Legal, mãe, obrigada por se lembrar de mim.
Distraída com os poucos carros que passavam pela rua, nem percebi quando uma pessoa se aproximou de mim, e assim que notei sua presença, ergui meu olhar até o dela.
– Oi, gatinha – um garoto que eu não fazia a ideia de quem era disse, com um sorriso nada agradável no rosto e me olhando de cima a baixo. Ele devia ter uns 19 anos, alto, magro e com dentes muito amarelos. Usava um conjunto de moletom azul marinho que parecia ser três vezes maior que ele, tênis de basquete e uma touca cinza que fazia sua cabeça parecer deformada, junto com uma barba por fazer que só aumentava a impressão de sujo que o bafo de cerveja já o dava.
Engoli em seco novamente, sentindo meu coração acelerar e a boca secar. Droga, ele ia me roubar. Olhei em volta, e tudo que vi foi o Sr. Araripe arrancando com seu carro sem nem notar minha existência. Busquei desesperadamente algum sinal de vida naquela rua fora nós dois, mas não encontrei. Legal, eu estava definitivamente sozinha com aquele cara estranho enquanto minha mãe não chegasse. Fechei minha mão discretamente, tentando esconder meu celular, o que foi em vão, já que ele logo olhou naquela direção e aumentou seu sorriso pervertido.
– Que foi, tá com medo, gata? – ele riu, voltando a me encarar com a voz arrastada de quem tinha tomado um belo porre – Fica com medinho não, o papai aqui não vai te fazer mal.
Dei um passo pra trás na direção da porta da escola, tentando não demonstrar meu medo, mas o garoto me acompanhou, dando um passo na minha direção ao mesmo tempo. Que merda, eu não queria ser assaltada, muito menos estuprada, hipótese que me amedrontava mais que qualquer coisa só pelo simples fato de pensar nela.
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Meu Amado Professor (VONDY)
FanfictionEla? Apenas uma aluna do ensino médio. Ele? Um professor de Biologia. Ela o odiava. Ele aparentemente também a odiava. Mas, foi comprovado, que realmente o amor e o ódio são vizinhos de porta. O livro está sendo repostado na plataforma Wattpad. ...