Capítulo 58

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Meu maior temor, meu pior pesadelo, havia enfim, se tornado realidade.

Minha cabeça parecia estar dentro de um liquidificador quando meu olhar encontrou o dele. Os dedos de Christopher se fecharam com força entre os meus, como se ele soubesse que eu seria capaz de desfalecer a qualquer segundo. Porém, sua força foi inútil; minhas pernas vacilaram perigosamente para baixo, mas num último esforço, eu me mantive de pé, disfarçando meu equilíbrio prejudicado. Eu tinha que ficar consciente. Eu não podia me permitir ser tão fraca, não num momento como aquele, por mais que tudo que eu quisesse fosse simplesmente apagar.

- Dulce? – a voz falha de Poncho pronunciou meu nome, fazendo jus à sua expressão perplexa – O que... O que você tá fazendo aqui?

Meus pulmões pareciam completamente vazios, causando-me uma falta de ar insuportável, porém era como se eu os fosse explodir se inspirasse. Tudo ao meu redor girava a uma velocidade alucinante, fazendo com que apenas Poncho se mantivesse parado à minha frente enquanto todo o resto rodopiava, transformando-se em borrões coloridos e desnorteando-me por completo.

- Christopher, o que está acontecendo? – ele voltou a falar, demorando a desviar seu olhar do meu para encarar o amigo – Alguém pode me explicar o que...

Sua voz, já um pouco mais alta que o habitual, subitamente cessou quando ele finalmente encontrou a resposta muda às suas dúvidas. O assombro percorreu seu rosto por alguns segundos, fazendo-o soltar todo o seu ar de uma única vez e contorcer seus traços em uma compreensão indesejada.

Meus dedos, firmemente entrelaçados aos de Christopher, o fizeram entender o que estava acontecendo todo o tempo, bem debaixo de seu nariz.

- Poncho, calma – Christopher pediu, com a voz determinada, porém assim que ele fez menção de continuar, foi bruscamente interrompido.

- Calma? – Poncho exclamou, encarando-o com olhos vidrados e gradativamente homicidas – Por que eu deveria ficar calmo ao ver você de mãos dadas com a minha namorada?

- Porque não é ele quem está segurando minha mão – pude ouvir minha própria voz dizer, estrangulada, fazendo com que Poncho transferisse seu olhar colérico até mim – Eu estou segurando a mão dele.

Seus olhos castanhos continuaram me fitando com horror por alguns segundos, como se testassem minha capacidade de encará-lo. Não consegui fitá-lo por muito tempo, e logo voltei a olhar para o chão, sentindo mais lágrimas se formarem. Após minhas recentes descobertas sobre Poncho, meus sentimentos por ele haviam mudado da água para o vinho, mas ainda assim não era daquele jeito que as coisas deveriam estar acontecendo. Christopher não deveria ter sido envolvido em nenhum momento de meu acerto de contas com Poncho.

- Então... Você acabou de dizer que está me traindo, Dulce? – Poncho perguntou entre dentes, e eu fechei os olhos, me sentindo um monstro ao ouvir sua voz trêmula sintetizar nossa situação – E ainda por cima com o meu melhor amigo?

- Não aja como se ela fosse a única errada nessa história – Christopher interveio, com a voz grave, e um soluço baixo escapou por entre meus lábios – Suas atitudes também não foram das mais nobres com ela.

- Não foram das mais nobres? – Poncho repetiu, e mesmo sem olhá-lo, senti a ironia em seu tom – Por acaso eu fui um mau namorado? Por acaso eu deixei de dar o que ela queria em algum momento?

- Você não pode estar falando sério – sussurrei, sem conseguir conter minha raiva diante de sua postura, fechando meus olhos com mais força – Esconder uma noiva por todos esses meses lhe parece uma atitude nobre?

- Noiva? Que noiva? – Poncho questionou, tentando isentar-se da culpa, e Christopher logo fracassou suas expectativas.

- Ela nos ouviu conversando sobre a Jenny agora pouco, não adianta tentar negar. Assuma seus erros, Herrera, assim como estamos assumindo o nosso.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora