Capítulo 48

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- Tô bem – falei simplesmente, e ao abrir os olhos, vi boa parte de meu quarto em borrões devido à água que se acumulava neles – E você? Como foi a viagem?

- Confesso que eu tô um pouco triste, porque faz um tempão que eu não te vejo, e isso me deprime! – Poncho respondeu, fingindo um desânimo fúnebre na voz, assim como eu fingia o contrário na minha – Mas a viagem foi ótima. Matei a saudade da família, descansei bastante, segui todas as suas recomendações... Digamos que estou fisicamente saudável. Meu emocional anda meio doente sem você pra cuidar dele.

Uma lágrima caiu por meu rosto, e eu prendi um soluço com esforço.

- Me desculpe por isso – falei baixinho, tentando fazer com que minha voz estrangulada soasse proposital. Ele ficou em silêncio por alguns segundos, me deixando um pouco preocupada, e quando voltou a falar, sua voz parecia séria.

- Dul... Tá tudo bem mesmo? Você me parece... Preocupada com alguma coisa. O que foi?

- Eu estou bem, Poncho, juro – sorri, esforçando-me ao máximo para disfarçar minhas lágrimas – Não se preocupe comigo.

Ficamos em silêncio por mais alguns segundos, enquanto ele provavelmente decidia se acreditava em mim ou não.

- Hm... Então tá – ele finalmente disse, agora com seu tom natural, e eu respirei fundo, aliviada – Vou desfazer as malas agora e dormir... Quero estar totalmente disposto pra voltar à rotina amanhã, e o mais importante, pra voltar pra você.

- Vai lá – murmurei, ainda sorrindo tristemente, enquanto as lágrimas continuavam transbordando – Boa noite.

- Boa noite, meu amor, até amanhã – Poncho sussurrou, e eu tive certeza de que estava sorrindo – Te amo muito!

- Eu também – falei, e desliguei logo em seguida. Apoiei meus pés sobre o colchão e abracei meus joelhos, enterrando meu rosto neles e deixando que a dor e o choro me engolissem.

Meu coração parecia rodeado de agulhas, porque a cada batimento, inúmeras fisgadas o dominavam. Ele me amava tanto... E eu, mesmo sabendo que não merecia todo aquele amor tão puro, era incapaz de dizer a verdade e afastá-lo de mim... Afastá-lo do monstro egoísta e inescrupuloso que eu era. Porque eu também o amava, e não conseguia me imaginar sem ele ao meu lado.

Mas havia outra pessoa ocupando o mesmo espaço em meu coração. E por mais que eu tentasse, escolher um só me parecia inaceitável. Ambos eram tudo o que eu sempre quis, e tudo que eu jamais teria. Era extremamente errado e impossível ter os dois... Meu coração não suportaria a culpa.

Poucos segundos depois, ergui meu rosto, enxugando as lágrimas e tentando contê-las em vão. Não adiantava chorar diante de meu dilema, de que adiantariam lágrimas? Por mais que aquela dúvida me corroesse, não fazia sentido algum ficar chorando ao invés de tentar ser o mais objetiva possível e pesar minhas opções. Fiquei de pé, fungando baixinho, e assim que dei um passo na direção do armário para me vestir, meu celular voltou a tocar.

Fechei os olhos com força, hesitante, com medo de que fosse Poncho novamente. Não sei se conseguiria fingir outra vez. Após alguns toques, engoli o choro com esforço, peguei o aparelho sem coragem de ver o número e atendi.

- Alô? – falei, tentando parecer firme, e a voz do outro lado da linha fez minhas pernas tremerem tanto que por pouco caí no chão, ao invés de sentar na cama outra vez.

- Por favor, diga que acordou há pouco tempo pra que eu me sinta menos preguiçoso por só ter acordado agora – Ucker sorriu, com a voz levemente sonolenta, e meus olhos se arregalaram ao ouvi-la.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora