Capítulo 12

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– E amanhã é a sua – Anahí disse, e eu pude sentir seu olhar tristonho sobre mim – Você vai à casa dele nessa sexta?

– Só vou se ele me chamar – falei, dando de ombros tristemente – Não vou simplesmente aparecer sem ter sido convidada.

Desde a primeira vez em que fui à casa dele, não tinha deixado de passar as tardes de sexta-feira lá uma vez sequer, nem que fosse pra ajudá-lo com a correção de algumas provas e trabalhos enquanto conversávamos. Talvez essa fosse ser a primeira vez em que não nos veríamos, e era tudo culpa da minha imaturidade. Palmas pra mim.

– Eu acho que ele vai te chamar sim – Anahí me encorajou, deitando sua cabeça em meu ombro de um jeito carinhoso e até um pouco engraçado – No mínimo pra vocês se resolverem.

– Assim espero – sorri fraco, olhando vagamente os carros que passavam pela rua, com o pensamento a algumas horas de distância dali.

– Dulce Saviñón!

Ergui minha mão assim que a diretora berrou meu nome no microfone, entediada e com todos os tipos de sentimentos negativos em relação àquela excursão idiota. Me senti ainda pior quando o professor Araripe, com sua usual cara de quem tinha estrume de vaca debaixo do nariz, indicou que eu já podia ir para o ônibus com um aceno de mão. Ajeitando minha pequena mochila no ombro, andei vagarosamente até o veículo, como se eu pudesse evitar aquela tortura se andasse devagar. Como eu era tosca algumas vezes.

– Eu já mandei você escolher um lugar e se sentar, Maria – ouvi uma voz murmurar assim que me aproximei do ônibus, e quando cheguei à porta, vi o professor Uckermann e a Maria conversando a uma distância menor do que a recomendada. E pela cara de dor de barriga dela, o clima não era dos melhores.

– Tudo bem, professor – ela concordou, me lançando um olhar surpreso, e entrou no ônibus. O professor Uckermann passou uma mão pelos cabelos, usando sua técnica mais que aprovada de me tratar com indiferença, e eu apenas o ignorei, entrando no ônibus logo depois.

Me sentei num dos primeiros assentos, evitando me misturar demais com o povo fútil que provavelmente começaria uma bagunça no fundo do ônibus. Peguei meu iPod de dentro da bolsa e coloquei a primeira música mal educada que achei no volume máximo, com uma cara espontânea de poucos amigos. Talvez porque eu realmente não quisesse estar ali, num ônibus cheio de gente que eu odeio, rumo a um lugar distante, cheio de mato, terra e bichos. Talvez porque tudo que eu quisesse era estar com Poncho e resolver as coisas entre nós, pra exterminar o aperto em meu peito que quase me sufocava.

Não demorou muito e o professor Araripe entrou no ônibus, acompanhado do Uckermann. Contaram rapidamente o número de pessoas, pra ter certeza de que todos estavam no ônibus, e assim que terminaram, fizeram sinal para que o motorista começasse a dirigir. Tirei um dos fones, entediada, para (infelizmente) ouvir o que o Uckermann estava dizendo enquanto o veículo andava os primeiros metros em direção à reserva.

– Tentem não se afastar do grupo, o local é enorme e bastante confuso, portanto, todo cuidado é pouco – ele avisou, sério, e eu notei que seus olhos estavam especialmente castanhos hoje, talvez porque estivessem realçados pela blusa da mesma cor – Não se distraiam com os animais ou plantas exóticas que virem e prestem atenção nas explicações que os guias lhes darão, informações como aquelas não existem nos livros escolares. Qualquer problema, basta chamar o professor Araripe ou eu.

Mudo, o sr. Araripe apenas assentiu devagar para todos que o observavam, e os dois professores se encaminharam na direção de seus assentos. Que, por sinal, ficavam bem à minha frente. Eu já devia saber que aquela excursão seria ainda pior do que eu imaginava.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora