Capítulo 26

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- Anahí! – falei de novo, passando por ela e caminhando de volta para o quarto, embrenhando meus dedos desesperadamente em meus cabelos – Você entendeu o que eu disse ou vou ter que repetir outra vez? Eu traí o Poncho com o Ucker!

- Tá, e daí? – ela retrucou, parecendo meio impaciente e sentando-se pesadamente em minha cama – Eu já entendi isso, você é que não pareceu entender minha pergunta! Me diz, o que eu posso fazer agora que você já fez a besteira? Vai adiantar eu ficar falando mil baboseiras inúteis, chorar pelo leite derramado com você?

- Eu sei que não tem mais volta, foi um erro, mas você podia pelo menos fingir ser uma pessoa normal e me dar a maior bronca ou algo do tipo, e não me perguntar como foi! – eu disse, encarando-a energicamente.

- Achei que você já me conhecesse há tempo suficiente pra saber que eu não me surpreendo assim tão fácil – Anahí murmurou, erguendo as sobrancelhas de um jeito desafiador – Em momento nenhum eu fui ou pretendo ser falsa com você, e é isso o que eu estaria sendo agora se estivesse te dando uma bronca. Atração física acontece aos montes, Dulce, é mais normal do que se pensa. A única diferença disso pra um relacionamento normal é que ninguém costuma sair contando pra todo mundo, mantêm as coisas em segredo.

Fitei os olhos compreensivos de Anahí por alguns segundos, totalmente desarmada. Me deixei cair sentada no chão, ainda encarando-a sem entender, e ela subitamente riu de minha atitude. Por que eu tinha que ter uma amiga tão mente aberta e liberal?

- Não precisa se martirizar tanto só porque não resistiu às tentações da carne, Dulce – ela sorriu, sentando-se no chão à minha frente – Se não teve sentimento, não foi exatamente uma traição... Então, pra que se preocupar?

Abaixei meu olhar pro chão, refletindo sobre o que eu já sabia, mas que ela tinha feito o favor de repetir.

Tudo tinha sido tão rápido, tão inesperado, tão mecânico... Não havia um pingo de sentimento ali, era puro tesão. Meu amor por Poncho continuava intocado, apesar do fato de que todas as transas com ele não equivaliam à única com Ucker no quesito físico. Mas eu não devia nem queria comparar os dois. Pra mim, só existia um homem, e ele se chamava Alfonso Herrera.

Suspirei, psicologicamente exausta pra continuar travando aquela luta interna, e voltei a encarar Anahí, ainda sorrindo docemente.

- Foi tudo tão... Confuso – foi tudo o que consegui sussurrar, pela primeira vez conseguindo demonstrar alguma emoção sobre o assunto, e seu sorriso se alargou. Ela dobrou as pernas contra seu tronco e abraçou os joelhos, carregando sua expressão de curiosidade novamente.

- Agora que você já está mais calminha... Pode me dizer como foi? – ela murmurou, parecendo prevenida quanto aos meus súbitos acessos de desespero, e eu não pude deixar de sorrir fraco. Um calor súbito passou por mim, e meu olhar se perdeu em meio aos meus pensamentos, que dessa vez eu simplesmente deixei fluir, tornando meu sorriso mais largo.

- Foi o melhor erro que eu já cometi.

- Tchau, meninas, boa aula!

Saí do carro de mamãe, mais trêmula que bambu em ventania, e Anahí fez o mesmo do outro lado, cumprindo a parte simpática do relacionamento com mamãe, a qual eu tinha desfalcado desde o dia anterior. Anahí tinha dormido em casa, me dando todo o apoio que eu precisava pra não sair correndo quando a manhã seguinte chegasse, mas tudo pareceu ter sido em vão quando me dei conta de que estávamos paradas em frente ao colégio. Quer dizer, eu estava, porque ela me arrastava escola adentro, como se carregasse uma estátua de mármore.

- Quer fazer o favor de entrar? – ela resmungou, me puxando pelo braço com uma careta mal educada – Lembra do que eu te falei? Você não tem motivos pra ter medo!

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora