Capítulo 43

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- Uckermann? – uma voz melada emanou do celular, e por um segundo, me arrependi de ter sido tão piedoso. O enjoo pelo qual fui atingido em sonho retornou com força total assim que ouvi Maria pronunciar meu nome daquele jeito vulgar de sempre, me fazendo pensar que vomitaria a qualquer momento.

- Queria poder dizer que não – grunhi, respirando fundo logo em seguida para conter a movimentação suspeita do conteúdo de meu estômago.

- Ih, pelo jeito acordou de mau humor – ela notou, com a voz levemente ofendida, o que me causou uma súbita vontade de rir – O que houve? Andou tendo sonhos ruins?

Ah, foi macumba sua eu ter sonhado aquelas coisas, não foi, sua piranha? Eu já devia saber que estar prestes a conviver algumas horas com você fora do calendário escolar semanal seria traumático o suficiente para me causar noites ruins.

- Meus sonhos não são da sua conta – falei, com a voz encharcada de tédio – Já a maneira como você os interrompe desnecessariamente devia lhe render pena de morte.

A hipótese de ver Maria recebendo uma injeção letal ou numa das câmaras de gás famosas na época de Hitler me fez divagar por técnicas de tortura bastante interessantes, distraindo-me por tempo suficiente para que eu quase perdesse sua resposta.

- Como você é estúpido às vezes, Christopher – sua voz afetada reclamou, provocando um sorriso maldoso e satisfeito em meu rosto por ter conseguido demonstrar o efeito péssimo que ela tinha em meu humor – E, pra sua informação, eu não liguei para falar baboseiras, tá? Só queria saber que horas você vai passar aqui hoje, pra poder estar pronta a tempo.

Ergui uma sobrancelha, adotando uma expressão horrorizada, e olhei rapidamente para o relógio: nove e cinco da manhã. Meu rosto se contorceu ainda mais, num reflexo chocado por sua atitude idiota. Quem em sã consciência acorda às nove da manhã num sábado para acordar outra pessoa e falar sobre um baile de primavera idiota?

Pois é. Maria Smithers parecia ser exatamente esse tipo de pessoa. E eu era o tipo de babaca que se deixava acordar por gente como ela. Você pode até tentar me consolar dizendo que eu provavelmente não era o único cara a ser acordado por sua acompanhante naquele dia, e eu te respondo que tal fato não me consola nem um pouco.

Aposto que Dulce ainda estava dormindo, mal se preocupando com futilidades como bailes de primavera. Pra que programar o dia todo ao redor de uma festa idiota, sendo que em pouco mais de meia hora ela já poderia estar magnífica dentro de qualquer roupa?

Soltei um suspiro levemente irritado comigo mesmo por minha capacidade de desviar meus pensamentos para ela com tamanha facilidade. Calma, Uckermann, desse jeito não vai sobreviver até a noite. Seu coração de trinta anos não resiste ao mesmo ritmo frenético de dez anos atrás, apesar de ser perfeitamente saudável e acostumado a situações como essa.

- Ahn... Sei lá, Smithers, se vira – respondi, retornando ao assunto com certa dificuldade de concentração e sentindo os últimos vestígios de minha bondade se esvaírem rapidamente – Agora se me der licença, vou voltar a dormir.

- Mas Ucker... – ouvi Maria protestar, com sua típica voz de biscate revoltada, mas não a dei chance de continuar.

- E não corra o risco de quebrar suas unhas tentando me ligar de novo, porque eu vou desligar o celular. Siga meu exemplo e volte a dormir também, pelo bem da humanidade.

Com um sorriso sacana no rosto e sem ouvir mais uma palavra sequer, encerrei a ligação, colocando o aparelho no modo silencioso logo em seguida. Um homem sempre precisava de um pouco de paz após um diálogo tão desgastante com Maria Smithers, e eu estava prestes a ter o meu.

Meu Amado Professor (VONDY)Onde histórias criam vida. Descubra agora