A era dos Talamaurs

Tremor

Hinata ainda mancava um pouco. Sua perna, que outrora estava quebrada, agora já estava praticamente toda recuperada, mas ainda sentia um repuxar em cada coxear. Todos já estavam fora do matagal esperando a melhora de Kiba e pelo momento em que Naruto acordaria. Ele estava deitado perto da conífera que Ino usava como observatório.

A Hyuuga ainda pensava no que tinha acontecido durante a luta e na aparição de Klaus, por esse motivo deixou a todos e foi em direção à sua amiga, que colhia gravetos para fazer uma fogueira até estivessem devidamente recuperados e prontos para seguir.

— Pena que eu não estava lá para ver — disse Ino ao ver Hinata. Ao saírem da caverna, Kiba cantarolou pelos quatro ventos a explosão diabólica que o mordido causou, e a Yamanaka se sentiu visivelmente desapontada por não ter presenciado aquilo.

— Ainda bem que não estava lá — falou Hinata, ajudando a amiga com os gravetos.

— Por quê? O que aconteceu?

— Eu fiquei com medo de que ele te visse, Ino... Ainda bem que não.

— Do que está falando? — questionou, enquanto caminhavam lentamente de volta para onde todos os outros estavam.

— Klaus, Ino... Klaus. Ele estava lá, mas fugiu.

Ino pareceu não se importar, mas Hinata sabia que o perigo era grande para ser ignorado.

— Ino, você o humilhou... ele não perdoaria, já sabia disso, e algo me diz que precisa tomar cuidado.

— Eu o humilhei? — Ino parou, indignada. — Hinata, ele mentiu para mim, e eu, como uma boba que sou, acreditei nele. Acreditei que ele gostava de verdade de mim. Eu estava disposta a largar tudo, a fugir, abandonar meu clã e tudo o que eu conhecia como família para poder ficar com ele, só que... Klaus só estava me enganando, ele só queria chegar perto o suficiente para tentar conseguir informações sobre nossos clãs. Por sorte, nunca disse nada. No dia que os nossos líderes iam se reunir, eu contei para ele, sem querer, e só depois percebi que ele tinha ficado interessado demais no que eu tinha falado... se eu não tivesse desconfiado e alertado meu pai... nem sei o que teria acontecido! O jeito que fiz ele fugir naquele dia ainda foi digno, deveria tê-lo matado. Mas eu ainda o amava...

Hinata não sabia o que dizer depois da explosão de sua amiga. O que era aquela dor nos olhos de Ino?, ela pensou. Isso foi há tanto tempo, mas era como se ela ainda sentisse a decepção que sofreu como se fosse capaz de reviver o momento. Hinata olhou em direção aos seus companheiros que conversavam baixo à espera da volta delas, tornando a olhar para sua amiga com pesar. Estava magra, com a pele enrugada, os olhos fundos, com as olheiras ainda mais marcadas do que antes. Estava fraca demais, tudo pela teimosia em se alimentar. Tudo por causa de Deidara...

As coisas pareciam começar a se clarear agora na mente da Hyuuga. Ino amava demais, enquanto ela de menos. Apesar de saber da dor que esse sentimento causava a Yamanaka, Hinata não conseguiu deixar de invejá-la por tê-lo com tanta propriedade. Tomou os gravetos da mão da amiga e a encarou com mais seriedade agora.

— Vai, Ino. Vá se alimentar. O amor que você tanto espera pode ter te traído várias vezes, pode até te trair mais algumas outras, mas eu nunca te traí. E eu estou sempre aqui por você, quero que esteja aqui por mim também, porque sinto que você é a única coisa verdadeira que tenho. Por favor... — sussurrou.

Hinata deu de costas para sua amiga e caminhou de encontro aos outros, entregou os gravetos para Shino e se sentou ao lado de Naruto. Aquela conversa havia sido tão intensa para ela, que nem notou que sua perna já estava completamente curada. Ficou observando a face do mordido por alguns segundos, depois olhou em volta, já ouvindo o crepitar do fogo... Ino tinha partido.