A era dos Talamaurs

Conflitos

    O barulho dos pássaros cantando harmoniosamente suas melodias matinais trazia um aconchego a mais a todas as manhãs na estrada. O sol ainda não havia nascido, mas o tempo abafado fez com que Sakura se sentisse mais agitada, despertando com facilidade de seu sono. No céu uma única estrela brilhava em meio às poucas nuvens, parecendo querer brincar com o sol, que demorava a aparecer.

O rio estreito, que ficava próximo ao local de acampamento que fizeram, estava com sua água gélida e agitada e os peixes pulavam aparecendo na superfície, debatendo-se e encurvando-se, para depois caírem novamente no rio. Era como se dançassem, sem medo de nada, expondo-se, até que uma flecha rumou ao encontro de um deles, balançando no ar, rodopiando em torno de si mesma, e acertou o alvo em seu meio, lançando-o de encontro a uma árvore do outro lado do rio. Sakura, que estava deitada no chão com seu arco e flecha, olhou chateada para Karin, que tinha pegado justamente o peixe que ela estava prestes a acertar. O oficial general ria da brincadeira das duas, já sabia o resultado daquilo; por mais que Sakura fosse acostumada a caçar, Karin era uma das arqueiras mais habilidosas que existia em todo reino. Mas foi divertido.

Cada uma das duas pegou dois peixes, enquanto Kakashi e o cocheiro ficaram conversando, quase que apostando secretamente em suas mentes quem atingiria o primeiro peixe. No fim, acabou não importando muito para elas, a verdade era que só queriam chegar logo no castelo. O treinamento que tiveram com Tenten foi produtivo, mas acabou mais rápido do que tinham imaginado. Já estavam há dois dias na estrada, portanto logo poderiam ver os muros da Cidade de Ferro outra vez.

Acender a fogueira ficou por conta de Karin, já que a garota não tinha noção de como fazer isso até terem ido nessa pequena jornada. Agora, estavam testando o que ela tinha aprendido. Catou os gravetos sozinha, enquanto Sakura observava de longe, preparando os peixes para assarem. Karin não encontrou dificuldade, como nas três primeiras tentativas dos dias anteriores. Ela era esperta, aprendia rápido.

Ao terminarem a refeição, todos começaram a arrumar as selas dos cavalos e a verificar o conteúdo desgarrado de dentro da carroça, para começarem a cavalgar novamente. Era cansativo viajar daquele jeito, o sol castigando durante o dia, os insetos durante a noite, e ainda haviam de suportar a dor incômoda que sentiam nas costas e nádegas por conta da cavalgada. Mas valeu a pena cada momento, já que além de ter enfim começado seu treinamento, Sakura também teve a oportunidade de ganhar uma nova amiga, uma amiga gigante.

Depois de algumas horas, Karin já estava praticamente debruçada no pescoço de seu cavalo, seus olhos, levemente fechados, fugindo da forte luz do sol que agora clareava o céu, esquentando ainda mais o dia. Poucas nuvens eram vistas, e o caminho já começava a ficar escasso de plantas e árvores, anunciando que estavam chegando na entrada da cidade.

Kakashi segurava um livro velho em uma das mãos, apertando as rédeas com força com a outra. De tempo em tempo, ele olhava de canto para as garotas, impressionado em ver como duas pessoas tão diferentes puderam fazer amizade tão rápido. Sakura faltava pular de seu cavalo, empolgada com algumas borboletas que brincavam, fazendo piruetas graciosas no ar. A garota estava sempre agitada, ao contrário de sua amiga, que vivia a variar de humor.

— Saaaakuuuraaa — Karin cantou, endireitando-se e puxando a rédea para esquerda, soltando beijinhos para o cavalo, guiando-o para mais perto de sua amiga. — Então... Eu estava pensando no motivo de você ter tanto interesse em se tornar um soldado. Quase não falamos sobre isso.

Sakura ficou mais séria, fitando o nada, como se buscasse em sua memória algo para dizer. Mas na verdade nem mesmo ela sabia quando essa paixão havia surgido em seu peito. Não sabia dizer se fazia isso apenas por ter vontade de ser lembrada de alguma forma, por causa de sua religião, ou se era porque pensava que poderia mudar alguma coisa no mundo com isso. Na verdade, talvez fosse tudo isso junto.