Amizade

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Castelo Quatro Torres

Já era noite e os relâmpagos riscavam o céu escuro e chuvoso. A tempestade estava tão forte que, ao olhar pela janela, Sakura não conseguia enxergar nada além da água que caía e os clarões que não cessavam. A cada estalo de um trovão, era um pulinho que ela dava. Tentava disfarçar ao máximo o seu temor, mas Karin já havia notado. Sakura achou que, ao perceber, sua amiga faria disso um escarcéu, mas não foi o que aconteceu.

A sala ampla, mesmo com tantas luminárias, ainda estava escura. Era como se o horror estivesse presente em cada um daqueles corpos, e a mente de Sakura trabalhava a todo vapor para construir histórias para assombrá-la ainda mais. Já havia examinado um cadáver antes quando menina. Agora tinha 21 anos de idade e, diante de tamanha atrocidade, sentia-se tremular pelas inúmeras possibilidades daquele caso.

Tsunade tinha razão. Aquilo não devia ser obra de um animal. Qual animal mataria para comer e nada comeria? E se fosse um animal, que tipo de bicho seria? Ela só conseguia pensar em um ser capaz de fazer aquilo: o homem.

As médicas ficaram sabendo, através de um soldado, que um grupo de busca composto por alguns moradores da cidade foi montado, sem a permissão do rei, para vasculhar a cidade em busca de animais. Uma tropa foi enviada para impedir a ação desses moradores antes que o temporal chegasse, mas sequer conseguiram sair de dentro do castelo, pois a chuva os impediu.

Sakura só conseguia pensar nas pessoas mais desprovidas, se suas casas conseguiriam resistir àquela que parecia ser uma das piores tempestades já vistas por ela. Era o Pai de Todos chorando pelos mortos. Certamente o Senhor da Guerra não deixaria o culpado por tamanha atrocidade impune.

Como já era sabido por todo povo a inconstância do tempo, medidas eram tomadas para que, durante situações como essa, a população pudesse ficar protegida. As telhas eram reforçadas, e até mesmo nas casas de pau a pique era tudo muito bem-estruturado. A maioria das casas também possuía um porão para caso as telhas não suportassem. Sempre aconteciam mortes, mas, de acordo com os astrônomos do castelo, o tempo estava melhorando, considerando cem anos atrás.

As médicas, exaustas, passaram o dia inteiro apenas ingerindo água. O frio estava intenso, mas aparentemente a chuva começava a diminuir, e os trovões estavam cessando. O trabalho delas já havia terminado; Sakura agora fechava o último corpo que examinou, Karin higienizava os instrumentos que haviam usado e Tsunade se sentou em uma cadeira, com suas pernas abertas, retirou a máscara de seu rosto e soltou um suspiro de alívio.

— Então é isso — ela falou, batendo suas mãos nas pernas.

— Como, é isso? Ainda não entendi nada — Karin disse.

— Eu também não consigo pensar em nenhuma criatura que se alimente com sangue humano — Sakura acrescentou.

Todos os corpos examinados estavam escassos em sangue. Quando perceberam isso, ainda ao olharem os primeiros cadáveres, começaram uma enorme discussão sobre o que deveria ter causado aquilo, mas não conseguiram chegar em ponto algum. Resolveram ressuscitar um mito para poderem usar como explicação, mas elas temiam que isso fosse prejudicar ainda mais a população, então o caso ficaria a critério do rei. Enfim Sakura o conheceria.

Desde que chegou no castelo, conseguiu se aproximar dos conselheiros, vigiar de longe os filhos do rei, mas nunca conseguiu ver o Rei Fugaku. O homem ainda era um mistério para ela, já que, aparentemente, vivia em reuniões, caçadas e jantares diplomáticos com as figuras influentes da cidade. A mulher dele, Mikoto, era uma inspiração para Sakura. Uma guerreira destemida, que, em sua opinião, deveria ser a dona do trono. Mas infelizmente também ainda não a tinha visto.

A era dos TalamaursOnde histórias criam vida. Descubra agora