Ventos passados

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Ino estava mais linda do que nunca. Os primeiros raios de sol tocavam sua pele como um beijo de luz... luz divina, amorosa, forte, tão forte como aço dobrado. Não havia nela um rastro do rosado das bochechas ou dos lábios vermelhos, antes uma palidez... uma que lhe caía bem e deixava o azul de seus olhos mais escuros e seus cabelos mais amarelos. Escaldada naquela beleza triste e etérea, ela caminhou rigidamente para fora do castelo, contemplando as coníferas que se erguiam pelo solo sem fim. De certo modo, pareceu a ela que eram de brinquedo.

Agora a notícia já tinha se espalhado e já devia correr pela boca de todos os talamaurs, Otsutsuki e Hyuuga, que amara um humano intensamente e que com a mesma intensidade o sugara. Seu pai nada lhe disse sobre isso, mas ela já sabia o que ele pensava a respeito. Vivemos para experimentar as coisas ruins, mas, sobretudo, as boas, ele sempre falava e nunca a impedia de ir atrás do que queria. Quanto aos outros, os que cochichavam e a olhavam de soslaio, para ela eles não importavam. Nada importava.

Estava pronta para entregar sua vida para que Deidara vivesse, mas, de qualquer forma, ele não viveria se ela morresse. Então ele se entregou à morte para que um dos dois tivesse chance, e agora o sangue dele corria em suas veias, alimentava-lhe a alma e lhe fazia forte como nunca pensou que pudesse ser.

Imaginou que choraria, que se entregaria ao luto por anos a fio até que enfim conseguisse parar de sofrer, mas nada disso pareceu preciso. De uma forma estranha, Ino sentia como se sua vida tivesse acabado de começar e como se ainda houvesse muito chão para percorrer.

E é verdade, ela pensou, uma guerra... uma guerra, e não irei morrer.

Ela sabia que aquela era uma promessa tola e entupida de vazio, mas estava tão certa daquilo como nunca estivera sobre nada antes. Afina de contas: desistir não era mais uma opção, pois fazer isso seria o mesmo que abrir mão do sacrifício que Deidara fez para que ela estivesse respirando.

Do alto da torre esquerda de Geri, Hinata a observava. Também estava sozinha como ela, mas não tão confiante. De repente, todas as lições que a Hyuuga aprendeu com os diários dos líderes antigos e com Inoichi lhe invadiram a mente... o motivo de os talamaurs nunca, nunca ficarem atrás de muros: "Muros servem de proteção para os humanos, nós somos os nossos próprios muros, com couro duro e cura acelerada, com consciência e força. Mais aptos que muros, mais fortes que lanças, mais rápidos que o vento de uma tempestade. Bondosos como a terra e cruéis como o tempo..." ela lera uma vez, e concordava como nunca.

Noite passada, quando se retirara do salão, da vista de todos, e já estava pronta para dormir, Hiashi a mandou que fosse até os aposentos dele. "Agora todos querem a guerra. Sou o Líder Supremo, e como tal irei aguentar o peso da morte dos nossos companheiros, mas você... você será a minha linha de frente quando toda essa loucura começar e eu não sei o que vai fazer, se vai rasgar os Otsutsuki com as presas, se irá estraçalhá-los com as unhas... só sei que você os matará. E não ouse morrer. Eu não te dou permissão. Se for para ser punida, será pelas minhas mãos, não pelas de outros." Então, depois disso, Hinata foi para seu quarto outra vez, resignada com seu destino ao perceber que, mesmo tentando esconder, seu pai mostrou com aquelas palavras que ainda se importava com ela.

— Os outros estão esperando — disse Naruto, despertando-a de seus devaneios.

Hinata se virou para olhá-lo. O mordido era bom, mas um tolo. Tinham-lhe feito roupas de couro, que ele insistira que fossem tingidas de laranja e que lhe fizessem uma jaqueta. Estava quente, ele morreria ali dentro. A Hyuuga vestia uma calça leve, uma blusa regata de seda e calçava sandálias confortáveis.

— Você está pronto? — ela questionou em um sussurro arranhado.

— Sim.

— Você se lembra como fez para que seu poder se manifestasse na caverna?

A era dos TalamaursOnde histórias criam vida. Descubra agora