Uma nova aliança

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Os corpos tinham um cheiro doce e podre ao mesmo tempo. Partes azuladas, negras e de coloração amarelada eram as que mais estavam empesteadas de moscas. Shikamaru usou a blusa que usava por debaixo da pesada cota de malha para tapar o nariz e arrastou Temari para longe daquela visão.

Acabou descobrindo naquele momento que não entendia absolutamente nada sobre mulheres e que era muito mais fácil ministrar conselhos de guerra do que tentar consolá-las. Não entendo, ele pensou, ela queria ver os fanáticos longe do povo. Queria que o joio fosse separado do trigo e agora chora pela morte dos que tanto atormentaram os religiosos.

— O que Sasuke fez? — ela disse, limpando as lágrimas com as costas das mãos. — E por que ele fez isso?

— Sasuke nunca teve nenhum tipo de amor por nenhuma religião, especialmente depois que os relig... fanáticos começaram a causar problemas. Tem que tentar entender o lado dele também.

— O lado dele? — questionou em eco.

— Sim — abriu caminho entre soldados que se aglomeravam na porta do castelo, puxando ela junto dele. — A rainha morreu e Itachi foi capturado, agora Sasuke é o rei por direito. Temos que levar em conta que não temos a mínima ideia do que Orochimaru pretende fazer com o mais velho. Tenho reparado Sasuke por um bom tempo, e ele tem andado calado demais. Não reparou em como ele estava quieto no conselho de guerra?

— É, mas ele nunca foi de falar muito.

— Mas chicoteava com o pouco que falava.

— Acha que devemos ir até a sala do trono agora? — ela questionou, parecendo bem mais calma que antes.

— Não. Preciso descansar primeiro, você também. — Temari estava vermelha, queimada pelo sol, os cabelos loiros estavam bagunçados e os verdes intensos dos olhos pareciam desbotados.

— Não vou conseguir dormir. Pensei que as coisas seriam bem diferentes. Achei que ganharíamos essa guerra, voltaríamos bem e as coisas ficariam ainda melhores. Itachi seria um ótimo rei, tenho certeza disso, mas ele nem teve tempo de mostrar o que era capaz de fazer.

— Entendo — ele disse, e um silêncio estranho se colocou no meio deles.

Shikamaru e Temari tinham ficado como suporte na guarnição de Itachi. Não tinham feito nada além de seguir e dar ordens, e de tentar passar confiança para os demais soldados. Só entraram realmente em duelo quando Itachi estava para ser capturado... e se não tivessem fugido a tempo, sabe-se lá o destino que teriam tomado.

No castelo Quatro Torres, foram montadas tendas de atendimento. Eles passaram rápido pela sala comum, antes que Tsunade os chamassem para exames. Estavam bem o suficiente para sentir vergonha de terem estado ao lado do rei no momento em que ele foi capturado. A simples ideia de ter que relatar o acontecido com detalhes que as cartas não davam para Sasuke já era aterrorizante o suficiente para eles pensarem em comentar sobre isso com mais alguém.

A despedida foi estranha, o quarto dos dois ficava separado por poucos metros de distância, tinham passado toda a caminhada de ida e de volta juntos, tinham falado sobre coisas do dia a dia, da infância, mas agora dizer um até logo parecia estranho demais, até que Temari simplesmente seguiu em frente.

Shikamaru se sentiu extremamente solitário ao entrar em seu quarto. Nada daquilo parecia fazer sentido mais. Os móveis, as roupas, a água quente que era colocada na banheira pela serviçal... tudo tinha um gosto insalubre e débil para ele.

Enquanto tomava banho, não conseguia parar de pensar nas vidas que tinham se perdido em batalha, nos rostos das pessoas que lutavam ao lado dele, no coral ululante que a voz dos híbridos gigantes erguia ao urrarem, enquanto cortavam, mutilavam, esmagavam.

A era dos TalamaursOnde histórias criam vida. Descubra agora