Olho-de-boneca

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Kenitra, 206 km da Cidade Colossal — agora conhecida como "Cortina de Ferro"

Depois de toda devastação causada pelo cataclismo global e os desentendimentos dos humanos com os híbridos gigantes, todos começaram a vaguear pela terra. Estavam em busca não só de terras férteis, como também de mais sobreviventes. Muitos chegaram a caminhar por meses a fio, encarando todo tipo de dificuldade pelo caminho.

Aos poucos, as pessoas foram se juntando, buscando apoio uns nos outros, o problema era que nem todo mundo falava a mesma língua. O inglês, que era a língua mais falada no mundo antes de todo ocorrido, acabou sendo a base para a comunicação. Quem não o sabia foi aprendendo com o esforço, sendo impulsionado pela necessidade, e então uma nova sociedade começou a se formar.

No começo de tudo, os híbridos viviam no mesmo local que os humanos. Foram eles que construíram as imensas muralhas que cercavam pouco menos de setenta e cinco quilômetros do terreno ocupado agora pelos homens. Elas eram encravadas de espadas na parte de fora, tanto no chão quanto no próprio muro — o que deu o nome à cidade. A cidade possuía Três Círculos concêntricos: o dos agricultores na borda; a feira e os artesãos no meio e por último o castelo e os membros da nobreza.

De início, as pessoas seguiam as ordens de um homem bom e inteligente chamado Hashirama, que logo foi consagrado rei. Existia o castelo principal, o Quatro Torres, depois, o castelo da cozinha e, atrás, um outro castelo menor, com os calabouços, pois crimes já eram cometidos. O castelo também tinha uma proteção na porta principal, para possíveis ataques, do mesmo modo que o muro foi criado com o mesmo propósito. Isso porque os habitantes daquela área não poderiam afirmar, com certeza, se eles eram os únicos sobreviventes. Outras pessoas poderiam estar vivas, formando uma nova civilização, assim como eles. E o medo de um ataque híbrido ou humano era latente, pois algo assim poderia ser terrível logo agora que eles começavam a se reerguer.

O tempo passou e algumas coisas mudaram, mas foram coisas pequenas. Agora, no portão de entrada, encontravam-se vários pedintes, que eram pessoas velhas — que não possuíam família alguma — e outros que não mais podiam trabalhar, já que o duro labor do campo, junto com o escasso serviço médico resultavam em fraturas irreversíveis, assim como amputações. Essas pessoas ficavam na entrada da cidade esperando pelos que saíam para caçar — já que lá só se criava em larga escala boi e galinha —, pediam esmolas também para quem ia e vinha pelos enormes portões para tratar sobre negócios na Cidade Colossal. Havia também uma nova rua, onde o comércio se centralizou, larga e extensa, pegando quase todo o território. Podia-se encontrar quase tudo por ali, só era difícil de achar caças e frutos do mar frescos. Mas nesse dia as coisas estavam diferentes, afinal, os insurgentes descobriram que os irmãos de criação, que eram conselheiros do rei, estariam na grande feira.

Fugaku era o atual rei. Nem todos gostaram quando ele recebeu o título após o último regente falecer sem ter um filho para passar o trono. O rei Fugaku e sua esposa pertenciam à raça de híbridos que obtiveram sucesso em sua criação; os Uchiha. Eles eram como humanos normais, caracterizados por sua pele clara, cabelos pretos e olhos peculiares, em um tom vermelho, com vírgulas dentro, chamadas de tomoe. Mesmo tendo sido escolhido como rei através de uma votação unânime pelo conselho, ainda assim ele era rejeitado por algumas pessoas da cidade. Alguns cidadãos não gostavam dele pelo simples fato de ele ser um híbrido, outras porque não confiavam na habilidade que tais híbridos tinham de conseguir armazenar qualquer tipo de informação em sua mente, viam isso como um perigo para os humanos. O rei já estava velho, e os insurgentes queriam acabar com seu reinado antes que seu trono fosse passado para seu filho mais velho.

Fugaku era considerado imensamente abençoado, pois possuía dois filhos. Depois de toda a perda sofrida no mundo, agora as pessoas também enfrentavam uma outra dificuldade: nem todos conseguiam ter filhos, alguns nasciam mortos, outros eram abortados espontaneamente logo no início da gestação, e as pessoas acabavam se sentindo abençoadas quando conseguiam ter ao menos um, mas Fugaku tinha dois. Ninguém entendia o motivo da dificuldade de procriação, mas imaginavam que era algum tipo de efeito do cataclismo.

A era dos TalamaursOnde histórias criam vida. Descubra agora