Novo mundo

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Tânger — Marrocos / atualmente conhecida como "Cidade Colossal"

Assim que os seres humanos saíram das cavernas com intuito de recomeçar a povoação do mundo, as nações se separaram em dois grupos. O primeiro deles era composto por humanos, em que foi permitido apenas a raça de híbrido capaz de se reproduzir normalmente permanecer junto a eles, e o segundo grupo era composto apenas por híbridos gigantes.

Esses híbridos gigantes sucumbiram ao poder dos homens com o passar do tempo, tornando-se trabalhadores braçais e vivendo em um lugar separado, de onde tiravam seu sustento da mineração.

Os híbridos eram uma espécie complicada, incompreendida. Alguns deles chegavam a medir quase quatro metros de altura e todos tinham alguma deformação corpórea por terem sido cruzados com espécies diferentes de animais e plantas. Em alguns, a cor da pele era diferente; outros possuíam guelras; já outros, trombas de elefantes, e nenhum conseguia se reproduzir. Não se tinha noção da expectativa de vida de um híbrido — apesar de ser certo passar de um século —, sua anatomia era parecida com a do homem, mas eles eram extremamente distintos quanto a várias outras coisas.

Alguns seres humanos religiosos acreditavam que toda aquela desgraça que caiu sobre a terra foi por culpa da criação dos híbridos. Eles diziam que o homem pecou tanto ao tentar imitar Deus, criando uma nova raça, que o divino se enfureceu e enviou o cataclismo para dizimar tais seres impuros do mundo. Essa crença se espalhou durante esses cem anos, despertando uma enorme discriminação dos homens para com os híbridos, que baixaram a cabeça aceitando a inferioridade.

A Cidade Colossal se tornou um grande buraco ao longo dos anos por causa da incessante mineração, com vários outros buracos menores ao seu redor. O local mais plano ficava ao leste, onde os líderes habitavam. O barulho de batidas de instrumentos contra as rochas, explosões e raspagens de pedras era perturbador, sem contar com o mal cheiro que os híbridos exalavam, cada um de acordo com a espécie com que foi cruzado, mas eles já haviam se acostumado com tudo aquilo, inclusive com o calor infernal que fazia naquele lugar, que era intensificado por conta das fornalhas de redução direta, assim como os fornos de fundição. Um verdadeiro inferno na terra.

Contudo, e apesar de todo o trabalho pesado e tensão, eles eram quase como humanos comuns. Seguiam rotinas diárias, casavam-se, faziam amizades uns com os outros... a única coisa que realmente os diferia era a condição física que possuíam, o fato de não poderem se reproduzir e terem um ciclo vital ainda indeterminado.

Dentro do escritório principal da sede de comando, que mais se parecia com uma taverna larga e extremamente alta, com mesas e cadeiras de madeira talhadas com desenhos quase infantis de um gigante híbrido apertando a mão de um humano, estava Maito Gai, com seu corpo musculoso de quase três metros de altura. Tinha a cor da pele verde e espessos cabelos pretos cortados em formato de cuia. Seus grandes olhos castanhos escuros estavam fixados em um papel com os números das últimas extrações realizadas. Ele estava decepcionado, pois no mês passado haviam conseguido trabalhar de forma mais eficaz.

Os híbridos mineravam fosfato, zinco, chumbo, manganês, cobre, pirita e, principalmente, ferro. Infelizmente, como eles não se reproduziam, havia poucos deles para o trabalho.

Gai era o representante geral de sua espécie, considerado como rei entre eles. O problema era que nem todos o aceitavam como líder; diziam que ele era submisso demais para ocupar tal cargo. Estava ficando cada vez mais difícil manter os trabalhadores unidos, principalmente quando Orochimaru se envolvia nas reuniões principais do conselho dos mineradores. Ele, assim como vários outros híbridos, era contra o poder dos humanos sobre sua espécie. Acreditava que, se seu povo lutasse, poderia ser livre e considerado igual perante os humanos. Mas esse sonho parecia algo distante demais diante da realidade que viviam.

A era dos TalamaursOnde histórias criam vida. Descubra agora