Talvez Apaixonados

Prólogo

      Prólogo 

Ane

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     É ridículo. Não há outra palavra para descrever o que estou sendo obrigada à engolir. Gretta Daytes — a queridinha da treinadora — está tentando demonstrar como será o novo passo da nossa coreografia para que possamos aprender, mas nenhuma das várias bocas ao meu redor se pronúncia para dizer o óbvio; que esse "novo" passo é ridículo. Claro que elas não vão falar nada, todas as garotas da equipe beijariam os pés de Gretta se ela pedisse... A nova passada consiste em efetuarmos algumas estrelas no ar e quando formos pousar pela última vez no chão, teremos que fazer um rodopio, o finalizando com um erguer de pompons no ar. Ainda não sei como a treinadora teve coragem de entregar o título de líder à Gretta. Não que eu não suporte ela, apenas a prefiro longe, já que ela é a única com quem tenho que batalhar pelo posto de líder das líderes de torcida e toda a sua áurea de; "uma por todas e todas por uma" me irrita. Em um certo ponto estava indo tudo bem, na verdade estava tudo indo maravilhosamente bem, como se meus sonhos se tornassem realidade; quando Gretta foi expulsa da equipe, após modificar — sem que a nossa treinadora soubesse — a coreografia inteira, antes da abertura dos jogos da temporada. Estarei mentindo se disser que não amei a semana de treino em que a loira não deu as caras, porém por alguma infeliz razão, a treinadora a aceitou de volta na equipe alguns dias depois... O que fez minha raiva diária retornar novamente. Agora estou aqui, de braços cruzados a encarando, como se ela estivesse dizendo para que cada uma de nós cortasse uma mecha do próprio cabelo.

— Conseguiram entender? — Gretta questiona levemente ofegante, assim que para de demonstrar pela terceira vez, como seria a passada e abaixa seus braços, que antes estavam erguendo os pompons no ar.

      Espero, espero e espero, mas como sempre ninguém diz nada, o que me faz rir sem humor atraindo atenção de algumas garotas ao meu redor.

— Por que raios temos que fazer esse passe? — questiono quando nenhuma outra medrosa abre a boca.

Os olhos de Gretta me procuram dentre as demais garotas da equipe e quando me encontram; a mesma abre um sorriso tão... Falso, que me da vontade de enfiar o dedo na garganta.

— Porque é um movimento bonito e tanto eu, quanto a treinadora achamos que vai se encaixar legal no refrão da terceira música — sua explicação soa sincera e nem um pouco incomodada pela minha pergunta anterior.

Acho que dentre todos os milhares de motivos pelos quais não gosto de Gretta, esse é o primeiro. Aquele que está no topo da lista; porquê ela sempre, sempre mesmo age como se qualquer pessoa, fosse a sua pessoa favorita no mundo. Mas a verdade é que a princesa de papel na verdade rasga, ela já rasgou na minha frente uma vez e isso ninguém vê. As pessoas só vem a Gretta que sempre está disposta a ajudar, sem ganhar nada em troca. Ela me enjoa. Outro tópico que vale ressaltar é que; dentre todos os inúmeros caras dessa universidade, Gretta Daytes resolveu que ficaria logo com o qual eu estava afim na época. Entretanto esse detalhe nem é lá o mais importante, já que para mim; primeiro vem o reconhecimento, o meu mérito, o meu próprio nome, depois os caras. Ah sim, dentre todos os inúmeros tópicos anti-Gretta outro que vale a pena ressaltar e que realmente me faz perder a cabeça; é o fato de que todos sempre a colocam em um pedestal.

— É um passe ridículo — a informo e algumas garotas me encaram como se eu tivesse xingado suas mães e não apenas apontado a verdade.

— Cala a droga da boca, Ane — Julie, a melhor amiga de Gretta, intervém suspirando, como se tivesse dito aquilo milhares e milhares de vezes só hoje.