Capítulo 25

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                            Capítulo 25

                                     Nate

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Ane respira fundo antes de desviar sua atenção para a sua frente novamente. Uma mistura de mágoa e nervosismo reflete do seu rosto no meu e quero continuar a conversa que acabamos de ter, afinal pressão psicológica é uma das piores opressões que alguém pode ser submetido, mas a aula se inicia e a ruiva faz questão de não desviar olhar da professora um segundo sequer. Não é a primeira vez em que a vejo estourar por conta da pressão da sua família em cima de si, para obviamente ser quem ela não quer ser. Mesmo que a aula esteja rolando à nossa frente; meus olhos se mantém fixos em Ane, em cada micro detalhe do seu rosto. Por mais que eu tente, não consigo imaginar um cenário onde pessoas, ou melhor, familiares apontam o dedo para ela e lhe dizem o que fazer, o que conquistar e o que seguir. Isso é errado em tantos níveis, porquê está claro que Ane não está nem um pouco confortável com nada do que lhe submetem, com nada do que ela faz para agrada-los. Deveríamos ter o poder de decidir o que queremos seguir, o que queremos conquistar e o que queremos fazer. Passo a aula inteira pensando em como abordar esse tema com ela, de uma forma que Ane não venha a ficar brava comigo. Quando somos dispensados, coloco uma alça da minha mochila no ombro e após me despedir rapidamente de Paige, me apresso em caminhar lado a lado de Ane, que ainda mantém os olhos longe.

— Nunca tinha te visto antes nessa aula — decido começar por algo que talvez ela possa me responder e não apenas continuar me ignorando.

— Ás vezes só enxergamos algo quando queremos realmente vê-lo — Ane me responde e o peso das suas palavras, me fazem ter certeza que não fui o único a pensar na razão da nossa conversa anterior; ela também ficou pensando a aula inteira sobre isso.

— Então eu teria te visto, desde o segundo em que coloquei meu nome na lista — pronuncio da forma mais leve que consigo e tento a enviar um sorriso, mesmo que seus olhos esverdeados continuem longe, olhando tudo e nada ao mesmo tempo.

— Não precisa me acompanhar para checar se estou bem Nate, porquê eu estou — Ane corta o assunto como tesoura no papel e finalmente olha na minha direção, fazendo com que mesmo nesse clima estranho a eletricidade que inexplicavelmente liga nossos corpos; surja.

— Não quero te chamar de mentirosa, na verdade longe disso, mas você não parece bem — respiro fundo e ao soltar o ar deixo sair o que venho pensando nesse instante, passeando olhar em seu rosto inexpressivo.

— E como é estar bem pra você? — Ane para de caminhar de repente e suas sobrancelhas por alguma razão se unem, junto com seu semblante que se fecha em questão de segundos — É sorrir para qualquer coisa? É acreditar que fracassados podem ser algo? É me encher de salgadinhos, hambúrgueres, refrigerantes e milkshake? É não perceber o que está embaixo do seu nariz? É achar que gente como você pode ficar andando com pessoas como eu? — conforme declarava tópico por tópico, percebo sua raiva repentina aumentar um grau, após o outro, enquanto seu rosto começa a adotar um tom leve de vermelho.

— Na verdade, há muitas variações de um "estar bem" e eu estou me referindo a você estar confortável enfrentando tudo isso — engulo o leve ardume da sua última pergunta, porquê tenho consciência de que falamos muitas coisas sem pensar quando estamos braços e explico sem deixar de passear meus olhos em seu rosto, porquê por alguma razão, sempre encontro algo ali escondido, algo que ela não consegue dizer, mas acaba deixando expressar.

— Do que está falando? — Ane substitui seu semblante sério por uma careta, como se eu tivesse falado anteriormente em outra língua.

— A pressão que sua família coloca em você para cursar tais cursos, para chegar ao... Como você disse mesmo? Pódio? Topo? — esclareço e tudo isso faz com que minhas sobrancelhas se juntem — Seja sincera Ane, você ao menos quer metade dessas coisas? — a questiono de repente tão sério quanto ela própria e por alguns instantes ficamos apenas sustentando olhar um do outro, alimentando a chama e o vácuo dentro dos nossos inconscientes.

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