Capítulo 29

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                             Capítulo 29

                                       Ane

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        Ele rasgou o meu vestido. Observo atônita o cachorro que havia arrancado uma parte do meu vestido; o sacudir de um lado para o outro, com raiva nos olhos, como se o tecido fosse algum rato e ele quisesse ter certeza que o bicho não sairia vivo dos seus dentes. A cena faz com que meu lado racional saia do lugar onde eu estava o guardando desde o segundo em que chegamos nesse lugar. Processo tudo com um novo ponto de vista e o medo de antes, da lugar à uma raiva gigantesca e me faz encarar o loiro idiota que me fez vir até aqui.

— Isso é culpa sua! — rosno e ignoro o latido dos cachorros ficando única e exclusivamente em Nate — Perdi meu salto em meio a esse... Lixo! Me sujei inteira de lama! Meu cabelo está duro! Quase fui mordida por um pulguento, que rasgou o meu vestido! Minhas mãos estão doendo! E isso tudo é culpa sua! — declaro os fatos sem me importar em manter uma postura e sem acobertar minha raiva, que cresce a cada latido irritante dos cachorros, enquanto o sorriso de Nate vai se enfraquecendo.

— Acho que você está sendo um pouco injusta, não é como se eu soubesse que teria os cachorros e nos divertimos — o loiro declara com as sobrancelhas levemente juntas, quase como se estivesse magoado e me faz rir sem humor.

— Você sabia que não tinha ninguém! Sabia que estávamos invadindo! Eu posso ser presa! — a mera menção hipotética de ter que dividir uma cela extremamente suja e usar roupas alaranjadas, me faz querer vomitar.

— Mesmo assim não é como se eu tivesse armado tudo como um plano para ferrar você, Ane — Nate faz aquilo; ele corre seus olhos azuis em meu rosto, mas dessa vez não me "distraio" com isso, minha raiva da sua idiotice de ter me puxado para cá, não deixa.

— Eu não ligo, quero voltar pro campus, já! — me levanto e passo minhas mãos sujas em meu vestido em uma tentativa patética e inútil de "ajeitá-lo".

Nate permanece me observando e respira fundo. Seus olhos em certo momento voam em alguma direção ao longe e só após alguns instantes retornam para mim.

— Teremos que ir pulando de carro em carro, até o próximo corredor e correr até o meu carro, antes dos cachorros conseguirem nos alcançar — seu tom de voz soa em uma mistura de derrota e magoa, que não mexe nem um pouco comigo.

— E você acha que eu tenho cara de corredora? — o questiono sem deixar de expressar uma careta.

— Ou é isso, ou é esperarmos até alguém que trabalhe aqui chegar — Nate suspira, enquanto eu acabo rindo.

— Ótimo — resmungo percebendo que é só o que me resta e tento olhar para a direção que ele havia montado a rota de escape antes.

Consigo identificar o teto de três carros juntos, porém os demais, já é uma mistura embaçada. Nate diz algo como; "Vamos ter tempo, não se preocupe" e pula pro teto do carro alguns centímetros ao lado do qual estávamos. Os cachorros se atiçam com isso e correm para o breve e quase inexistente corredor que Nate acabará de pular entre os dois carros. Olho para baixo identificando os milhares de dentes e respiro fundo. Não, não não. Isso não vai dar certo, vou cair, minha perna vai me deixar na mão, como vem deixando nesses últimos meses e esses pulguentos vão me comer como comem insetos.

— Olhe pra mim, esqueça eles, você é uma líder lembra? Consegue dar um salto simples — Nate tenta me incentivar e isso faz com que meus olhos subam até os seus. 

Talvez ApaixonadosOnde histórias criam vida. Descubra agora