Capítulo 24

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Capítulo 24

Ane

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      Entro na sala de literatura inglesa e dessa vez, ao invés de me sentar nas últimas cadeiras como sempre, resolvo me sentar mais ao meio dos milhares de lugares ainda não ocupados. Odeio essa aula e só estou nela porque segundo Alice Prescott; toda dama deve aprender literatura. Afinal é extremamente patético perder tempo aqui, lendo e discutindo sobre páginas bobas de romances. Me acomodo em uma das poltronas e observo a todo vapor, pessoas de todas as mais variáveis formas, tamanhos e cores atravessarem as portas de entrada da sala, não demorando nada para que todo o lugar comece a lotar. Chega a ser mais patético ainda a forma como tantas pessoas se interessam nessa aula. Quer dizer, basicamente metade das pessoas desse campus acham mesmo que perder seu tempo lendo? Vai de alguma forma transformá-las ou ajudá-las a serem algo que não são. Bufo com esse pensamento e uma garota acima do peso se senta na cadeira vaga ao meu lado, ofegante, como se o mínimo movimento fosse extremamente difícil para ela. A garota regulariza sua respiração, ou tenta e apoia sua mochila sobre a barriga, a abrindo e retirando de lá de dentro um pacote de salgadinho industrial. A observo abrir a embalagem e começar a colocar punhados e punhados de gordura industrial na boca, mastigando de uma forma que aniquila toda e qualquer etiqueta de pelo menos três universos, o que faz com que eu conseguia escutar o barulho irritante da sua mastigação de onde estou e pior ainda; consigo vê-la os amassando com os dentes. Respiro fundo e retiro meu celular da bolsa, a fim de tentar me distrair nas redes sociais um pouco. Para me desestressar. Abro um vídeo de uma modelo que sigo no Instagram e a escuto falar como tais chás vem à fazendo bem e com a junção de certos hidratantes; sua pele está cada dia mais macia. Até tento prestar atenção nos nomes dos produtos ditos pela influencer, mas o barulho irritante de salgadinhos sendo triturados ao meu lado me faz apertar o celular entre meus dedos e transfiro minha atenção para a garota, com meu pior semblante. Ela continua comendo e sequer me percebe a encarando, céus. Aproximo minhas sobrancelhas e limpo a garganta, o que a faz me encarar.

— Você poderia comer isso depois? — a questiono, praticamente mandando e meus olhos caem no seu saco de salgadinho, o que me faz adotar uma careta — Quem sabe, talvez quando inventarem salgadinhos que não prejudique a sua saúde? — acrescento e volto a subir minha atenção para seus olhos.

A garota que estava com a boca completamente suja, cheia dos farelos do salgadinho alaranjado, une as sobrancelhas e antes que ela consiga engolir e me responder, o que quer que fosse falar; uma figura passa pela gente e se joga ao meu lado. Sinto meu coração acelerar mesmo que brevemente de uma forma patética. Antes mesmo de olhar para o lado, sei quem está se sentando a minha direita. Seu perfume é inconfundível. Respiro fundo e desvio minha atenção da devoradora de veneno, para seus olhos azuis, que já se encontravam me observando e sorrindo como se só de me ver já fosse algo o suficiente para que sua alegria surgisse. Esse pensamento patético me faz aproximar de leve minhas sobrancelhas, enquanto Nate estende a mão a frente do meu corpo, em direção à garota ao meu lado.

— Como está, Paige? — sua pergunta despreocupada para a garota ao meu lado soa como se eles já se conhecessem a anos e isso me incomoda um pouco, por mais que eu não gostasse de admitir.

        A garota abre um sorriso redondo, estendendo sua mão completamente suja na minha direção também e os dois trocam um rápido toque de mãos, o que faz com que algum dos farelos que estavam presos nos dedos dela caiam em meu colo e minha bolsa. Meus olhos caem dos pequenos pontos alaranjados sobre minha bolsa Bulgari preta e automaticamente todo o mundo perde o som, conforme internamente sinto aquela pequena raiva começar a se transformar em um monstro gigante com músculos e... Interrompo todos e quaisquer pensamentos meus, até mesmo os raivosos quando escuto e percebo Nate pegando alguns salgadinhos do saco dela.

Talvez ApaixonadosOnde histórias criam vida. Descubra agora