Capítulo 38 - Inventar

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Capítulo 38 - Inventar

4 dias antes da Lua cheia.

   Mya sentiu a fúria fechando sua garganta. Sua testa ficou franzida, enquanto seus olhos se semi fecharam diante da raiva que brotava em seu estômago, como se fosse um tipo de erva daninha, crescendo e apodrecendo tudo ao seu redor. Uma sensação nojenta.

   E tudo porque viu ele, parado mais á frente, conversando com duas outras alunas. Elas pareciam tão animadas, como se estivessem felizes com a conversa que estavam tendo com Tod Brandstifter.

   "Não sabem o quão desprezível ele é", pensou. Mya sentia repugnância. Como ele podia estar de volta àquele local, depois que ela e Bill descobriram sobre sua verdadeira identidade?

   A ira fez suas pernas se moverem até onde os três estavam. A cada centímetro em que se aproximava, podia ouvir as vozes com mais clareza. Podia notar o tom animado da menina da esquerda - provavelmente tinha a idade dela -; notava, com a maior facilidade, o tom entretido da outra.

   E se podia perceber também o tom de Tod. Ele falava com uma incrível sensualidade. "Ele está mesmo tentando conquistar essas garotas?!", mas a resposta já estava óbvia, estampada na própria voz e no rosto do professor.

   Quando Mya já tinha se aproximado do pequeno grupo, todos os olhares se voltaram para ela. Principalmente o de Tod, que a encarava com um olhar penetrante. A garota não conseguia decifrá-lo. Seu rosto parecia incrivelmente difícil de "se ler", principalmente usando sua visão lupina.

   -Mya, que surpresa! - indagou o homem, falando com tanta calma que era difícil de se imitar. Seus olhos, cinzas como prata, a olharam com admiração. "Ele ainda me quer". Mas é claro! Ele a mordera, então era, como ele próprio confirmava, seu dono. - O que foi?

   -Será que eu poderia falar com você? - perguntou ela, cruzando os braços. Tentava não sentir medo. Após dizer isso, ela encara as duas outras garotas. Ambas continuavam encarando Tod, admiradas com sua beleza. - A sós.

   -Como queira. - disse ele, com um sorriso que causava enjôo em Mya, mas o oposto nas outras garotas. - Meninas, será que vocês poderiam nos dar licença por alguns minutos? Eu gostaria de conversar a sós com a senhorita Minger.

   As meninas deram um longo suspiro antes de se afastarem - contra suas vontades, disso Mya tinha certeza. Quando ficaram sozinhos (algo que não estava acontecendo, já que estavam em um dos corredores mais movimentados da Make High School: o da entrada), Tod continuou mostrando seu sorriso intimidador. Tinha colocado os óculos, apesar dela saber que não necessitava desse objeto. Seus cabelos castanhos estavam bagunçados, como se fosse um adolescente rebelde. Ele parecia incrivelmente jovem.

   -Não tem vergonha de assediar garotas que tem mais que o dobro de sua idade? - perguntou Mya, falando a primeira coisa que lhe veio a mente, apesar de pedofilia não ser algo que ela se importasse tanto.

   Tod começa a rir e encosta o seu braço no armário ao seu lado, colocando seu corpo em uma posição quase em diagonal. Seus movimentos, naquele momento, estavam calmos. Ele parecia estar se interessando com a conversa, a passo que antes Mya nem queria chegar perto dele.

   -Acha mesmo que eu tenho mais que o dobro da idade delas? - perguntou ele, falando de maneira entretida. - Quando anos acha que eu tenho? 40?

   -Bom... sim. - disse Mya. "É provável que ele tenha até mais que isso".

   -Mya, eu tenho 21 anos.

   "O quê?!", se perguntou Mya. "Mas como...", então, olhando-o com mais clareza, se podia ver os traços jovens do "professor". Ele não aparentava mais ser tão velho. A Beta tinha percebido que tinha feito a própria imagem do homem. Uma completamente diferente daquela que tinha surgido á sua frente.

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