Capítulo 47 - Bater

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Capítulo 47 - Bater

1 dia antes da Lua cheia.

   Mya já sabia que aquela noite não seriam apenas danças, ou diversão. Quando viu o líder de seu bando aparecendo na clareira, já sabia o que se podia esperar a seguir.

   Uma briga já estava declarada, de maneira silenciosa, mas com o estilo fulminante encontrado no olhar de cada um. E a garota já tinha certeza que haveria derramamento de sangue nesse duelo. Muito.

   -Sai daqui, Tod! - era a voz de Bill, saindo em um tom ameaçador. Não era agora no tom que costumava falar com a namorada - doce e cheio de ternura -. Naquele momento, ele estava agindo de maneira protetora, agora não só protegendo Mya, mas á todos de seu bando. Ao seus amigos, ao seu lar. A sua dignidade. - Este lugar não é para você, e nem para os seus comparsas.

   Alguns Selvagens inclinaram a parte acima da cintura de seus corpos para a frente. Suas bocas estavam meio-abertas, enquanto seus dentes estavam trincados. Em alguns, ainda se podia ver dentes normais; mas em outros, as presas já estavam á postos. E não tardaria para que as garras crescessem e a Transformação se completasse.

   Os Uivantes estavam da mesma forma: em posição de ataque. Mas haviam aqueles que ainda estavam de braços cruzados, com a expressão de quem estava esperando uma boa luta há muito tempo. Tod era um deles. Mesmo diante da ameaça de seu inimigo, ele continuava com o seu sorriso malicioso nos lábios. Ou estava duvidando da real intenção de Bill, achando que suas palavras não tinham valor; ou estava ansiando para um momento como aquele acontecer. Para uma pessoa "na casa" dos vinte anos, Tod já havia se metido em inúmeras brigas, tantas quando qualquer indivíduo durante toda a vida. Sentia prazer em brigar, e ainda mais quando matava um inimigo.

   E naquele momento, Bill Jordan era seu inimigo mais renomado.

***

   Fernanda se dirigiu até a janela do quarto quando viu, pelo vidro da janela, os invasores. Nem precisou pensar muito para saber que se tratavam de Uivantes. Antes que pudesse ser vista, ela se distanciou da janela, com graciosidade o suficiente para não fazer nenhum barulho.

   -O que foi? - perguntou José, perto da porta. Fernanda se virou rapidamente e, usando sua velocidade licantropica, se aproxima dele e coloca sua mão sobre a boca do garoto.

   -Shh... - esbravejou o som que significava para não falar nada. - Não fala nada. - o som se propagou muito baixo. Tão baixo que José quase não ouviu. Porém sua audição aguçada estava "ligada" naquele instante, e ele conseguiu escutar o aviso da garota. - Temos invasores.

   Aos poucos, a mão de Fernanda foi se distanciando da boca de José, explicando que ela consentiu á ele a permissão de falar.

   Quando estava com a boca livre, ele começa a gesticular a boca de formas diferentes. Nenhum som saiu dela, mas quem percebesse saberia que ele estava falando. Palavras mudas.

   Graças á visão ampliada dos Escravos da Lua, Fernanda entendeu cada palavra, como se ele estivesse falando em voz alta.

   "Quem são". Foram as palavras de José.

   "Uivantes". Fernanda falou do mesmo jeito: de maneira silenciosa. "E vão atacar"

   "Vamos lutar, então". José falou com confiança, mesmo sem ter usado a voz. Mesmo parecendo medroso, o garoto era corajoso nos momentos em que precisava. Instintivamente Fernanda se lembrou de Thiago, mas lutou consigo mesma para não derramar uma lágrima. Não era o momento para isso.

   Antes que pudesse impedir José de correr até lá fora para sua suposta morte - os Uivantes pareciam ter um número maior de integrantes -, Fernanda se lembra do que o próprio garoto dissera: de que o assassino de seu namorado era um Uivante.

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