Capítulo 7 - Falar

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Capítulo 7 - Falar

27 dias antes da Lua cheia

   Mya tinha visto ele. O garoto dentro do carro. Com certeza ele deve ter pensado que ela não poderia vê-lo, mas ela conseguia. Sua visão lupina conseguiu penetrar no papel fumê do carro, o que uma visão normal não conseguiria.

   - As pessoas têm razão - disse Sara, quando elas entraram na escola - A vida passa sim diante de seus olhos quando você está prestes a morrer.

   - A gente devia ter anotado a placa - argumentou Ivyla. Aparentemente ela parecia calma, mas Mya podia ouvir os batimentos cardíacos dela. E não estavam calmos. Estavam rápidos. - Com um processo adequado, poderiamos arrancar dinheiro daquela mulher.

   -Não era uma mulher - disse Mya, automaticamente. Mal parecia perceber as palavras saindo de sua boca - Era um homem. Um garoto, para ser verdade.

   Fez-se alguns segundos de silêncio. Quando Mya vira para olhar para as duas amigas, ambas estavam encarando-a com olhares duvidosos.

   - Como você sabe disso? - perguntou Sara. - Como pode ter tanta certeza de que era um homem?

   - Eh... eu...

   Mas - para a alegria e alívio de Mya - ela foi interrompida.

   Por Bill.

   Ele aparece ao lado de Ivyla, que o encarou como se estivesse vendo uma pedra preciosa: admirando sua beleza estimável. Sara fez o mesmo, mas de boca entreaberta.

   - Oi garotas - disse Bill, olhando para as duas rapidamente. Seus olhos azuis brilhavam naquele momento. -Será que eu posso conversar com Mya á sós?

   Mas Ivyla e Sara continuaram olhando para ele. Era impressão de Mya ou aquilo no canto da boca de Sara era baba?

   Sabendo que elas iriam demorar para sair daquele transe, Mya respondeu por si mesma:

   -Está bem. Vamos.

***

   -Não ligue para elas - disse Mya. Ela e Bill tinham se afastado das amigas dela e estavam caminhando lado a lado. Os alunos iam e vinham, em grupos e sozinhos. - Me refiro á Ivy e a Sara. Elas são assim meio... meio do jeito delas, mas são gente boa.

   -Eu sei. - disse Bill. Como sempre, suas mãos estavam nos bolsos. - Elas parecem muito legais.

   -E são. Mas tenho certeza de que não queria conversar comigo sobre minhas amigas. Então? O que queria tanto me dizer?

   -Eu... eu... - Mya olha para o rosto de Bill. Ele estava olhando para baixo, para seus sapatos. - Eu só queria me desculpar pelo modo que te tratei quando... você sabe... achou a foto.

   -Não, está tudo bem - disse Mya - Além do mais, eu não posso estar exigindo explicações para você, principalmente aquelas que você não quer fornecer.

   -Não é que eu não queira. É só que... - começou Bill, mas não terminou. De algum maneira - no modo de dizer ou de se comportar - Bill parecia sentir dor ao tentar formar as palavras. Como se, ao dizer isso, pudesse abrir uma ferida em seu coração não cicatrizado.

   -Que não quer se lembrar? - deduziu Mya. Agora os dois estavam parados, um de frente para o outro. Mya tentava olhar para a face dele, mas ele permanecia com a cabeça abaixada. - Bill... Quem era aquela garota? A da foto?

   Bill continuou quieto. Só depois de mais alguns segundos que ele se pronunciou. Levantou a cabeça, e pode ver que seus olhos estavam vermelhos. Não vermelhos quando se transforma em Lobo (sendo, nesse caso, apenas a íris), mas vermelhos depois de você ter chorado. Bill estava chorando; ainda havia vestígios de lágrimas em suas bochechas, e ele as limpou com as costas das mãos.

Sangue de LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora