Sangue de Lobo

Capítulo 49 - Estar

Capítulo 49 - Estar

Dia de Lua cheia

   A dor se propagou sobre a barriga de Mindy em um momento desafortunado. Ela e Flinty continuavam correndo. Não pararam em momento algum. Apesar de não ouvirem mais passos atrás deles, a certeza de que continuavam sendo seguidos era grande. A mão de Flinty estava agarrada a dela com precisão e força, e ele não estava pronto para soltá-la.

   Estavam prontos para saltar sobre um tronco oco mais á frente. Não aparentava ser um obstáculo "digno de um Escravo da Lua", devido às habilidades apresentadas por eles. Tanto Mindy quanto Flinty calcularam mentalmente todos os fatores que fariam com que seus corpos "voassem" pelo tronco. Não seria uma dificuldade. Só precisavam ajustar a velocidade um pouco, e pular no momento certo.

   E conseguiram. A cem centímetros do tronco, eles flexionaram os joelhos e impulsionaram para cima, o máximo que puderam. Estavam desferindo um arco perfeito por cima deste, e foi no alto, quando a gravidade estavam puxando-os para baixo, que o Lobo interior embrulhou o estômago da garota. Foi tão rápido, mas tão intenso, que a garota não teve como conter, nem como se preparar. Durante a descida, tentou posicionar-se na posição fetal, com os joelhos encostados no peito, e nem percebeu o erro.

   O que seria uma aterrissagem perfeita, acabou se transformando em caos. O corpo de Mindy, pela posição em que estava, rolou para longe, como uma bola. A mão largou a de Flinty involuntariamente, e o garoto teve que vê-la rolar à frente, até bater com toda a potência em uma árvore no caminho.

   A garganta do garoto se fechou, como se dedos invisíveis tivessem fazendo isso. Ele ficou congelado no lugar durante alguns segundos, apenas olhando para o corpo de Mindy, sem saber o que fazer. O desespero apossou de sua mente, e ele teve que lutar contra si mesmo para correr à garota.

   E foi o que fez.

   Correu tão rápido - usando a velocidade licantropica -, que chegou até ela em um segundo. Não teve tempo de parar, então seus joelhos foram arrastando pelo chão de terra até parar ao lado do corpo de Mindy.

   -Mindy! - a voz saiu tão embargada que ele mal a reconheceu.

   A cabeça estava virado para o lado oposto do qual Flinty estava; os cabelos por cima do rosto. O corpo estava em posição diagonal; as palmas das mãos estavam vermelhas; sua roupa, suja.

   Lágrimas brilhavam sobre a face do fugitivo. Mas ele obrigou a si mesmo de não chorar mais. Com os dedos trêmulos, tirou os cabelos da face dela. As bochechas continuaram coradas; os olhos, fechados. Um filete de sangue escorria do alto da testa, saindo de uma ferida em aberto.

   Ele sabia que não iria conseguir acordá-la. E não tinha tempo para avaliar o dano da queda. Não poderia parar, ou seria alcançado.

   Passando os braços por baixo do corpo de Mindy, ele a ergue, um dos braços sobre as costas, perto das omoplatas; o outro, encaixado nas dobras de trás dos joelhos. A cabeça pendeu para o lado, fazendo o filete de sangue mudar de trajeto, andando pela testa dela em um percurso lento.

   Controlando a respiração, Flinty voltou a correr. Não podia se desesperar. Mindy ficaria bem. A queda não poderia tirar-lhe a vida.

   Mas fatores apontavam que sim. Flinty obrigou-se a não pensar neles. Tinha que ter esperança.

***

   Myrella não poderia estar mais animada. No dia seguinte, encontraria o amor da sua vida.

   Em mais ou menos vinte e quatro, encontraria Bill Jordan. E enfim seria dela por completo.

   Isahk dirigia como sempre: com atenção. Não demonstrava estar animado com a chegada em Golden Make.