Capítulo 41 - Jogar

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Capítulo 41 - Jogar

3 dias antes da Lua cheia.

Enquanto os outros Lobos estavam fazendo o que se podia chamar de "festa", a fim de fazer uma homenagem especial para o novo Alfa do bando - Paul -, havia aqueles que negavam estar na diversão.

A inveja e a avareza cegavam os olhos de Josh, a tal ponto que parecia estar prestes a soltar fumaças pelas cavidades do corpo. Principalmente nas orelhas e no nariz, como uma locomotiva soltando vapor, que alimentava seu motor de raiva. Nunca tinha pensado que um sentimento inóspito como aquele poderia estar vangloriando em seu ser. Não pensara, em nenhum momento, em se transformar no vilão. Só achava essa nova posse de poder uma perda de tempo.

Para ele, Paul não servia para liderar. Quem devia estar no comando... era ele.

No momento, ele estava no exterior do mercado abandonado, onde, com sua audição lupina, conseguia ouvir as risadas e os "vivas" de todos lá dentro, enquanto brindavam com copos descartáveis, contendo cerveja, que eles mantinham armazenadas com o devido cuidado em uma caixa térmica, cheia de gelo.

Suas costas estavam apoiadas no tronco da árvore, tão grande que as copas pareciam se perder na imensidão do céu - naquela manhã limpo e com nuvens tempestuosas, mas passageiras.

Em sua mão se encontrava uma lata contendo cerveja, que ele tratou de roubar antes de sair daquele local em disparada, tentando ficar sozinho para manter os pensamentos no lugar. Enquanto olhava para a frente, inclinava a cabeça para trás, deixando a bebida escorregar pela garganta, mas sem o álcool fazer o efeito premeditado.

Lobos não ficam bêbados. Não importa o quanto bebam, ou a quantidade de álcool que entra em seu organismo, mas Escravos da Lua não ficam bêbados. O poder de cura impede o efeito da bebida.

Ou seja, a cerveja para eles era como água.

Seus ouvidos, porém, recebem um novo som, diferente do que antes ouvia. Era algo natural; um som que significava vida. O de um coração batendo. O frequente batimento cardíaco estava cada vez mais próximo. Josh se vira, pronto para "dar de cara" com o invasor. Mas era apenas Richard, se aproximando lentamente, com um copo descartável na mão direita.

-O que você quer aqui? - perguntou Josh, sem se preocupar em estar sendo muito rude com seu melhor amigo. Richard parou aonde estava, mas sem demonstrar se iria deixar ou não Josh sozinho ali. O garoto tinha cerca de dezenove anos - um ano mais velho que Josh -, e suas vestimentas eram quase o que se podia distinguir como "maltrapilha". Os Noturnos não tinham um vasto acesso com roupas ou trajes. Os que conseguiam era a base de roubo - assim como as comidas e as cervejas.

-Apenas vim ver se você está bem. - disse ele, terminando o líquido marrom do copo com apenas um gole. Seu pomo-de-Adão subindo e descendo conforme a bebida era levada ao fundo da garganta.

-Estou, se é isso mesmo o que você tanto quer saber. - retrucou Josh, sem olhar para Richard. - Fala a verdade, logo... - continuou, com o desprezo claro na voz. - Você veio aqui apenas por que o Paul mandou. Provavelmente quer que eu esteja lá, para ficar jogando na minha cara o fato dele ser o Alfa dos Noturnos, e eu não.

-Se você acha que eu vou fazer parte daqueles que apoiam a nova posse de poder, então não me conhece de verdade. - o que era algo tosco de se imaginar, já que ambos eram amigos desde que tornaram Lobos (uma diferença de pouco mais de duas semanas, provavelmente).

Josh vira sua cabeça na direção do amigo. A fala anterior de Richard chegou até ele como uma música melódica que ele gostava. Um sorriso brotou em seu rosto. Saber que seu amigo apoiava as mesmas idéias que ele era algo bom.

Sangue de LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora