Capítulo 45 - Preparar

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Capítulo 45 - Preparar

1 dia antes da Lua cheia.

   O que Mya ansiava era voltar a dormir. Deviam ser sete horas da manhã, e o clima no lado de fora da casa parecia perfeito para: piqueniques em família, passeios no parque, encontros românticos com seu namorado... tudo que seria sinônimo para um "domingo perfeito". Mas Mya não queria fazer piquenique, ou passear, ou encontrar Bill - apesar dessa última opção poder ser repensada mais tarde -. Queria dormir. Dormir de verdade, porque durante toda a última noite, cada vez que fechava os olhos, emergia em um pesadelo. Mas não era um simples pesadelo comum: tinha seus momentos de terror intenso.

   Nessa "aversão a realidade", Mya foi teletransportada para um medo que ela passara a sentir desde que descobrira sobre o mundo dos Lobos. Um medo profundo, que barrava a abnegação que vivia dentro dela.

   Se senta sobre o colchão, esfregando o rosto com a mão, a fim de limpar os vestígios de suor encontrados ali. Mas não havia nenhum. Porém, depois de alguns momentos, percebe que fez esse gesto não para tentar limpar uma poça molhada em sua testa. Fizera aquilo porque queria apagar tudo o que testemunhara - em perspectiva única -, em seu mundo surreal.

   Não queria, mas seu subconsciente, contra sua vontade, trouxe até ela lembranças fortes e frescas desse pesadelo; um que ela nunca tivera antes: com tanta intensidade, parecendo marcar seu cérebro e seu consciente a ferro.

   O pesadelo retratou o seu temor mais bruto: machucar alguém durante a Lua cheia. Que seria no dia seguinte.

***

   Enquanto a Lua cheia brilhava no alto do céu, em seu esplendor majestoso e, ao mesmo tempo, perigoso, as ruas de Golden Make se banhavam em sangue de pessoas comuns, com a inocência as transformando em últimas pessoas a serem vistas como "alvos". Não tiveram tempo de se defender. Não puderam pedir - implorar - clemência. Em um momento, seus corações ainda borbardeavam sangue para todo o corpo. Mas, no momento seguinte, veias, artérias, ossos... tudo isso estava no lado externo dos corpos mortos, criando poças do que ainda sobrou de seu sangue, ficando negros devido ao contraste com a escuridão da noite.

   Mya andava entre os corpos. Mas não era na forma humana. Era como uma Loba.

   Suas patas enormes e peludas quebravam alguns ossos frágeis que estavam no seu caminho. Não olhava para trás. Seus olhos vermelhos se fixavam na sua frente. Havia sangue em suas presas e em suas garras. Mas o pior era que ela não ligava para esse detalhe. Seu instinto assassino refletia em seus atos, em seus passos, em seu olhar.

   Estava andando na direção da Tree Red. Na opinião dela, já tinha feito seu trabalho na cidade. E, apesar de seu Lobo interior estar descontrolado, ela conseguia manter o foco. Não sabia como, mas podia. Mas não por muito tempo.

   Mas então sua audição amparada capta algo. Seu corpo enorme e peludo para, e sua cabeça vira lentamente em um ângulo de quase cento e oitenta graus. Sabia previamente o que aquele barulho significava. Seus olhos da morte ficaram semicerrados, e em sua boca parecia estar estampado um sorriso. Não era um sorriso.

   Seu corpo todo vira-se na direção do som. Suas patas começaram a caminhar, enquanto seus olhos, "armados" com visão ampliada e noturna, viam suas próximas vítimas. Péssima hora para saírem de sua casa.

   Eram três pessoas. Um homem, uma mulher, e uma criança. Estavam no meio da rua, olhando para os corpos, com o medo estampados nos olhos. O homem tentava ser forte, mas olhava para aqueles corpos em estado morto com nojo e temor; a mulher, com lágrimas nos olhos, olhava para os rostos caídos, parecendo procurar algum conhecido; a criança abraçava a perna do homem, com medo de tudo o que estava acontecendo ao seu redor. Sua inocência não o deixando ver o que aquilo significava de verdade: uma carnificina.

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