Capítulo 14 - Manchar

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Capítulo 14 - Manchar

24 dias antes da Lua cheia

   Quando Mya acordou, a primeira coisa que sentiu de diferente foi a sua perna. Não estava mais doendo.

   Pegou a barra de sua calça e á levantou, tendo o cuidado necessário na hora de levantar a barra do joelho. No local onde antes estava seu machucado se encontrava uma pele rosada e fina.

   Bill tinha razão. Seu machucado sarou-se, mas não sem dor. Durante toda a noite Mya tinha suado, sentindo que a dor deixava toda a sua perna dormente.

   -Mya! - chamou Denyse, do andar de baixo. A garota agradeceu silenciosamente por ser sexta-feira e jogou suas pernas para fora da cama, se dirigindo para o banheiro.

   Quando olhou o seu reflexo no espelho, primeiramente só viu uma imagem distorcida á sua frente, devido aos seus olhos estarem semi-abertos. Esfregou os olhos com os punhos fechados e em seguida olha novamente para o reflexo de si mesma. Seus olhos percorreram os cabelos desgrenhados, a pele de sua bochecha rosada, seu ombro...

   Mas então ela percebeu a mancha branca nas costas de sua mão esquerda. E tinha a certeza de que não estava ali no dia anterior. Virou a atenção para sua mão, se distanciando do espelho. A mancha ocupava o centro do sua mão quase que por completo, e quando ela levou a ponta dos dedos na direção dela, parou no meio do caminho. Seja o que fosse aquilo, não parecia ter a aparência de algo que se queira tocar.

   -Mya, vou começar á contar até dez... - disse Denyse, com a voz perdendo a paciência que tinha antes.

    Seja lá o que acontecer quando sua mãe chegasse ao dez, Mya não quis descobrir. Olhou mais uma vez para a mancha esbranquiçada nas costas de sua mão antes de tirar a roupa e tomar banho.

***

   Quando chegou na cozinha, todos estavam sentados em torno da mesa, inclusive Laysa e Raul. Quando ela se sentou ao lado da prima, a garota a encara de maneira estranha.

   -Não está um pouco quente para você usar uma blusa de frio com mangas compridas? - perguntou ela. Mya, não querendo deixar a sua mãe ou seu pai preocupados com sua mancha, resolveu usar um casaco de frio em que as mangas chegavam ás pontas dos dedos. E começou a sentir os efeitos de estar embaixo daquilo, pois enquanto descia as escadas, sentia as gotas de suor se acumulando no alto de sua testa. Antes de entrar na cozinha, passou as costas da mão direita - a que não tinha a mancha - para enxugar o rastro do suor.

   Quando ouviu á pergunta de Laysa, Mya se obrigou á mostrar o seu melhor sorriso sincero e confiante.

   -Não - disse Mya, pegando o pão da cesta central da mesa com a mão direita. Não queria correr o perigo de pegar com a mão esquerda e a barra da camisa escorregar para dentro, deixando a mancha ligeiramente visível. - Se querem mesmo saber, acordei com um pouco de frio hoje.

   -Será que está começando a ter febre? - perguntou Denyse, a encarando com seus incríveis olhos verdes. Apesar de ambas terem a mesma coloração ocular, Mya sempre viu que os olhos da mãe tinham um brilho próprio, como as estrelas. E isso sempre acontecia quando suas emoções estavam muito ampliadas. Como naquele momento; e a emoção só podia ser preocupação. - Será que isso é por causa da sua alérgia?

    A alérgia. Para Mya, parecia que tinha acontecido há décadas, e não há menos de vinte e quatro horas. Se lembrou do que Bill disse para ela na floresta: "Algo aconteceu com você, e não foi por causa do cheiro das tulipas". Ele também tinha se referido á uma flor. Silva Lupus. Ele achava que, de algum modo, essa flor era uma referência ao seu desmaio. E se fosse mesmo? Será que foi por causa dela que apareceu essa mancha em sua pele? E, o mais importante, por que esse cheiro estava impresso na roupa de Kyle?

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