Capítulo 17 - Comparar

1.4K 57 3
                                    

Capítulo 17 - Comparar

21 dias antes da Lua cheia.

Os raios que passavam pela fresta da cortina banhavam o rosto sonolento de Mya. Ela não queria acordar; queria continuar deitada, em seu próprio reino dos sonhos, enquanto as horas passavam e não a afetavam.

Mas o despertador não obedeceu ás suas ordens. O barulho que saía de dentro do aparelho rondou o quarto, e quando chegou aos ouvidos de Mya, ela enterrou sua cabeça embaixo do travesseiro, tentando abafar o som irritante. Mas como era de se esperar, o barulho parecia atravessar a fronha e o recheio do travesseiro.

-Mya! - gritou Denyse, do andar de baixo. "Já não basta o barulho desse despertador", pensou a garota, levando a mão de encontro ao botão que ficava em cima do relógio e batendo nele bruscamente. "Ainda tenho que ouvir os gritos de mamãe".

Ela se senta sobre o colchão, esfregando os olhos com os dedos. Agora que estava acordada - não completamente acordada -, podia perceber que não foi tão ruim ter sido acordada, pois estivera sonhando com Kyle. No sonho, a cena dele almoçando com ela e sua família voltava na sua mente, mas de uma forma diferente. Lá, Kyle começava a agir de forma estranha e desapropriada, como se fosse outra pessoa. No final, antes de ir embora, ele confessará que era um assassino em série e começou a matar todo mundo ali, começando por Mya.

Enquanto jogava as pernas para fora da cama, relembrou pequenos fragmentos desse sonho. Se lembrou de quando notou, com o canto do olho, ele segurando firme o cabo do garfo de metal, e segundos depois o aproximando rapidamente de seu olho. Só aquela parte do sonho já era assustadora o bastante para que ela desejasse que seu subconsciente apagasse.

No caminho para o banheiro, outra parte do sonho voltou á sua mente. Foi a parte em que ela teve a chance de olhar Kyle mais atentamente, e então pôde perceber um brilho ameaçador vindo de seus olhos; um brilho assassino. O mesmo brilho que se via quando um caçador encontrava uma presa, pronta para ser abatida.

Enquanto deposita as mãos nas laterais da pia e encara seu reflexo no espelho, tenta convencer á si mesma de que esses sonhos não tem nenhum significado, pois tinha conhecido Kyle no dia anterior - não sabia tudo sobre ele, mas algumas coisas ela tinha o conhecimento - e não era o mesmo daquele retratado no sonho.

-Kyle não é um assassino - dizia ela para si mesma. - Kyle não é um assassino.

Mas as palavras pareciam não ter significado quando saiam de sua boca. Na sua imaginação, ela as ouviria e passaria a acreditar naquilo; mas agora, enquanto seus olhos encaravam o seu reflexo, as palavras pareciam vagar fracamente pelo banheiro, sem ter forças suficiente para conseguir entrar na orelha e penetrar no cérebro. Era como se o subconsciente de Mya quisesse dizer alguma coisa. Brilho assassino. Era como se ele quisesse alertar algo, mas a garota-Beta ainda não tinha entendido o que.

***

Quando chegou na escola, Mya foi recebida pelo aglomerado de conversas e ruídos, típicos de uma segunda-feira normal.

-E aí, como foi o fim de semana de vocês? - perguntou Sara.

-Normal - disse Mya, sentindo que uma alegria interna começava a se balançar e se mexer. Era bom falar aquela palavra para definir um dia dela; fazia-a sentir uma pessoa "normal" de novo.

-E você, Ivyla? - perguntou Laysa, se voltando para a garota que estava ao seu lado. Ivyla estava com os olhos atentos ao seu celular, deslizando seu dedo polegar freneticamente para a direita da tela.

-Lendo "My Little Angel" de novo? - perguntou Mya, percebendo que a amiga estava andando e quase sempre batia no ombro de alguém.

Ivyla ficou calada, e seu dedo novamente deslizou na tela. As quatro pararam na frente do armário de Mya, mas mesmo assim a garota continuou muda.

Sangue de LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora