CAPÍTULO DEZESSEIS

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   Era surpreendente o quão inferior Akemi era quando comparada aos meio-youkais da Academia, até mesmo quando comparada com as recém chegadas crianças de sete anos de idade. A diferença entre o treinamento que recebia no bosque e o da Academia era monstruosa, tanto em eficácia quanto dor.

   O abismo de desvantagem que mantinha Akemi atrás de todos ali, só aumentou conforme duas semanas passaram, e ela deixou de frequentar as aulas ofensivas. Sua atenção se focou em matérias menos dolorosas. Demonologia tinha se tornado uma matéria que lhe chamava atenção de forma peculiar. Estudar e conhecer todas as espécies de espíritos e demônios já registrados era útil. Assim como técnicas de aprisionamento, que além de ser altamente essencial para sua sobrevivência, descobriu ser interessante. 

   A melhor parte das aulas teóricas e sem combate e armas envolvido, era que nem Endo ou Yamada estavam nelas. No entanto, claro que cabular todas as aulas dos dois professores a deixou com uma enorme desvantagem em relação aos outros aprendizes e com as chances de passar no exame ainda mais distante.

   Ela surpreendentemente não se importava, essa área ofensiva da Academia era algo com a qual não pretendia perder qualquer fio do seu lindo cabelo se importando. O fato de tanto Endo quanto Yamada não terem ido encher seu ouvido significava que eles também não se importavam.

   Assim como os professores, quem também parecia ignorar sua existência de forma bela e gélida era Hikari. Elas ainda não tinham sido liberadas da detenção, e por mais incrível que fosse a garota não havia dirigido nenhuma palavra a Akemi desde que iniciaram na cozinha. Era, de certa forma, uma alívio.

   Aparentemente seu azar recorrente que durante essas duas semanas havia se perdido em seu caminho até ela, infelizmente a encontrou. E não poupou esforços. 

   ㅡ Isso é culpa sua ㅡ disse Hikari cortando frutas para a salada tropical.

   Estavam sentadas uma de frente para a outra, com uma mesa de madeira marrom escuro separando-as. Hikari tinha dobrado as mangas do seu suéter preto para que não sujasse com o suco das frutas.

   Akemi levou algum tempo para perceber que a Garota Pomposa havia falado com ela.

   Duas semanas em completo silêncio e suas primeiras palavras eram "isso é culpa sua"? Como se Akemi a tivesse prendido em uma coleira e a puxado para que seguisse seus passos.

   ㅡ Achei que você fosse o sinônimo de prestatividade ㅡ retrucou com indiferença.  ㅡ Não pedi para que me seguisse até a área proibida.

   ㅡ Não estamos aqui esse tempo todo porque entramos em área proibida. Isso aqui já deixou de ser sobre quebrar regras a uma semana atrás.  ㅡ Hikari desdenhou, apontando para Akemi com a ponta de sua faca. ㅡ Estamos aqui porque você não é capaz de fazer suas próprias escolhas.

   Minhas escolhas?

   Akemi imitou o gesto que a outra havia feito com a faca.

   ㅡ O que você quer dizer?

   Hikari abriu um sorriso enquanto olhava para a ponta da faca apontada em sua direção. Seus olhos acinzentados estavam brilhando em divertimento. Ela estava visivelmente fazendo inúmeras piadas em sua mente, provavelmente. Akemi não era considerada uma ameaça a ela. Ter consciência disso somente olhando para o rosto dela, irritou Akemi.

   Os olhos de Hikari saíram da lâmina melada da faca e focaram-se no rosto da outra. 

   ㅡ Aqui não é um parque de diversões, Watanabe ㅡ disse. Akemi mordeu a bochecha interna. ㅡ Você não pode fazer o que quiser, o que bem entender. Caso continue a fazer suas próprias regras, nós continuaremos nessa cozinha até que a Mestra se irrite e me faça pagar pessoalmente por suas indecisões. E eu não quero ser punida por você. 

IY- Ao Cair Da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora