Horas haviam se passado desde que Shin deixará a cabana do Vale para buscar suprimentos medicinais. Cada parte do corpo de Hikari estava submerso em ansiedade devido a essa demora, e cada gota do seu autocontrole era focada no controle da vontade que tinha de gritar.Sentada no sofá embutido da sala, imóvel como uma escultura de mármore, seu cérebro captou claramente o sinal sutil, fazendo com que sua atenção recaísse completamente sobre a garota deitada dentro de um ninho de lençóis, que abria os olhos vagarosamente.
Akemi permaneceu deitada de costas, quieta demais para alguém que estava viva, mas Hikari sabia que ela estava ali, e estava consciente, pois conseguia sentir em seu próprio corpo as dores que ela sentia, o que só era possível sentir caso Akemi estivesse ciente sobre elas.
No entanto, Akemi não se mexeu, continuou apenas olhando para o teto por mais um tempo enquanto respirava uniformemente, somente fazendo a inquietude de Hikari aumentar.
"Cutuque ela", sugeriu sua voz interior, se intrometendo onde não era chamado, como de costume.
"Vou cutucar seu olho", retrucou mentalmente para Ren.
"Ao menos verifique se ela está respirando".
"Ela está respirando".
Inesperadamente Akemi ergueu o braço em um movimento abrupto, tocando o lado esquerdo do rosto, onde havia um belo conjunto de arranhões e hematomas arroxeados. Ao toque dos dedos ela franziu o cenho pela dor na têmpora e testa, que responderam ao toque imediatamente.
— Ei! Cuidado! — Sibilou Hikari, se impulsionando para a frente, segurando com gentileza a mão de Akemi. Calmamente desceu o braço dela. — Como está se sentido?
Hikari sabia como a outra se sentia, um trapo, no mínimo dos adjetivos, mas queria que dissesse por si mesma. Queria escutar a voz dela e saber que estava ali.
Akemi não respondeu imediatamente. Ela apenas direcionou o olhar para Hikari, os olhos lilases cintilantes carregados de sentimento, sentimentos tão intensos que pareciam que iriam engoli-la. Não haviam palavras capazes de descrever o deslumbramento de Akemi naquele momento, era como um devoto olhava para sua divindade protetora. Ela apertou um pouco as mãos frias de Hikari.
— Ei, pare já com isso — disse Hikari, inclinando-se um para trás, enquanto franziu a testa. Mas não tirou sua mão do lugar. — Está me assustando.
Um sorriso fraco escapou dos lábios de Akemi.
— Estou bem — respondeu finalmente, a voz rouca.
— Corta essa! — A carranca abrupta modificou completamente a expressão de Hikari, mas sua voz não demonstrou nenhuma aspereza. E a inquietude permaneceu ali, pulsante, como um segundo coração batendo em seu peito. — Eu sinto o que você sente, se lembra? Não minta na minha cara.
Estendeu a mão livre, tocando o rosto de Akemi. A pele da garota parecia em chamas. "Está febril". Ela estava muito mais quente do que a sensação morna que era passada pelo laço.
— Não estou mentindo.
— Só não está dizendo a verdade completa — retrucou. Olhou para trás em seguida. — Já faz algum tempo que ele saiu…
Um Kurama desgrenhado e fora de seu alto padrão usual a qual gostava de se apresentar frequentemente, sentado em um puff cinza no canto da sala, passou as mãos no rosto. Ele estava bem apesar de aparentar ter saído de uma máquina de lavar com um dos conjuntos de moletom azul claro de Ren, que havia ficado curto nos braços e pernas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
IY- Ao Cair Da Noite
Random[EM PAUSA] Deixada num orfanato moribundo em Nova York aos 7 anos de idade, Akemi Watanabe foge do casarão mofado para viver como batedora de carteira nas ruas. Agora, 10 anos após a morte da mãe e o abandono da tia, ela continua sobrevivendo co...