Um aroma doce fez com que Akemi acordasse rapidamente, encontrando na cozinha, para sua surpresa ㅡ ou nem tantaㅡ, um Ren animado e imerso no preparo do café da manhã.Olhou ao redor, para a sala da cabana, franzindo a testa. Ela não sabia como havia chegado ali, nem se lembrava de ter deixado a enfermaria.
Hikari saiu do quarto, chamando a atenção de Akemi. A jovem meio-youkai estava vestida com roupas confortáveis para a corrida matinal, usava uma calça legging e uma blusa de frio vermelho vinho com barra curta. Ela olhou para Akemi sentada no sofá embutido e franziu a testa.
ㅡ Arrume-se e coma.
Akemi assentiu com a cabeça e ergueu-se imediatamente do emaranhado de lençóis. Se havia algo que ela não queria naquele momento era começar uma "DR" antes de comer algo, isso provavelmente lhe cansaria azia pelo resto do dia. Selecionou algumas peças de roupas em sua bolsa e foi se arrumar no banheiro, saindo minutos depois com uma legging preta e um suéter de lã azul com cinza, de gola alta, que não tinha certeza se era realmente sua.
Na bancada da cozinha, Ren colocou para ela um prato com rolinhos de canela com calda açucarada, uma tigela de cereais com pedaços de fruta, um copo de leite e um de suco. Akemi comeu tudo, não deixando nada para trás e lambendo os lábios ao terminar. Ela amava as habilidades culinárias de Ren, era uma dádiva.
Não demorou até que Hikari a intimasse para darem início a corrida matinal.
Com uma garrafa de água presa ao pulso, Akemi acompanhou Hikari pela "trilha" que elas sempre percorriam na floresta. Ela se mantinha a poucos centímetros atrás da outra, tentando ignorar o silêncio que pairava entre elas de maneira desconcertante. Geralmente o silêncio que surgia momentaneamente durante as corridas matinais não a incomodavam, ela sabia que Hikari não era muito falante e levando em conta que saiam para correr quando o sol ainda não tinha saído, ela agradecia pela outra ser uma jovem de poucas palavras. Mas desta vez o silêncio era diferente.
Akemi não foi a primeira a quebrar o gelo, apenas continuou a correr com uma distância segura. Apesar de achar a situação desconfortável, esta manhã Akemi não podia evitar reparar em tudo o que estava ao seu redor. As árvores escurecidas com copas verde musgo mesclados a um tom de folhas mais claras; as pequenas partículas úmidas da bruma gélida que caia, fazendo cócegas em seu nariz vermelho e tornando respirar um pouco mais complicado conforme o frio penetrava em seus pulmões.
Quando estavam se aproximando do penhasco a qual se encerrava a "trilha", o céu já abrira mão do cinzento triste e abraçava as cores quentes do alvorecer.
Hikari se sentou na ponta e jogou as penas para fora das pedras, balançando-as no ar enquanto observava o horizonte. Akemi sentou calmamente ao seu lado, abriu a garrafinha de água e deu dois longos goles no líquido cristalino, depois o fechou.
Akemi estava observando um bando de pássaros em formação de V passar ao longe quando Hikari decidiu quebrar o voto de silêncio.
ㅡ Há algo que queira me contar?
Akemi achou que o ar que respirava fosse água e tossiu como se tivesse se engasgado. Hikari era sempre tão direta que dificultava ainda mais na não sinceridade de Akemi. Tirou sua atenção do horizonte e olhou para a garota ao lado.
Akemi sentia-se como se tivesse um trilhão de coisas que queria contar a Hikari, uma vastidão de sentimentos turbulentos que gostaria de compartilhar, mas era como se não parecessem relevantes o suficiente para isso, como se fossem um pontinho preto em uma nevasca. Algo sem importância. E quando, mesmo assim, decidia contar, algo, como um nó, surgia em sua garganta.
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IY- Ao Cair Da Noite
Random[EM PAUSA] Deixada num orfanato moribundo em Nova York aos 7 anos de idade, Akemi Watanabe foge do casarão mofado para viver como batedora de carteira nas ruas. Agora, 10 anos após a morte da mãe e o abandono da tia, ela continua sobrevivendo co...