Novamente, após o horário, Akemi teve que ficar na sala de cultivo para aulas extras. Como havia gasto pouquíssimo de sua energia mística durante o dia, estava transbordando e pronta para qualquer coisa.Professor Kyoto estava tendo mais paciência do que na última aula pois nenhum dos gêmeos interferiu, nem se opôs a presença de Inoue ali — mas Akemi sabia que eles não haviam ido embora, os dois estavam praticando no salão de treinamento, no térreo. O homem inclusive parecia de bom humor, contradizendo o clima que rondava a Academia.
— Desde nosso último encontro, Srta. Watanabe. — Começou a dizer, andando de uma lado para o outro enquanto gesticulava com as mãos de dedos longos. — Você não tem um domínio. É por isso que não consegue sustentar sua energia mística por muito tempo.
— Domínio? — Indagou Akemi, franzindo a testa. Ela nem tinha ideia do que aquilo poderia significar.
O professor parou de andar e a olhou de lado. Hoje o homem havia prendido a parte superior do cabelo em uma pequena pituca, o que deixava a parte inferior amarelada — que Akemi percebeu não se tratar de manchas, mas sim de toda a parte inferior —, brilhante, acompanhado por seus olhos. Ele pareceu ter se lembrado sobre a deficiência de Akemi em questão de alguns assuntos.
— Hanyous ativos são meio-youkais que manifestaram uma certa quantidade das habilidades do progenitor youkai — se virou para olhá-la completamente, colocando as mãos nos bolsos. — Podem haver centenas de meio-youkais de uma determinada espécie youkai, como as kitsunes. Ou até mesmo de um mesmo youkai. Mas independente disso, o hanyou vai manifestar suas habilidades de forma única e específica, essa forma única de manifesto nós chamamos de domínio, uma vez que não pode ser copiado.
"Sua ligação, por exemplo — adicionou, percebendo que Akemi estava entendendo tanto o que ele dizia quanto entendia de respirar debaixo d'água. — A srta. Ishii tem ascendência de um bakeneko. Graças a isso ela tem habilidades de domínio excepcionais, o que torna a ela criar formas com energia mística mais fácil."
Akemi piscou lentamente, pensativa. Sabia o que era um bakeneko, um youkai com habilidades semelhantes aos de um kitsune, sendo capaz de evoluir com o passar do tempo. Akemi se lembrava de quão firmemente sua tia a proibia de ter um gato, pois corriam o risco do gato se tornar um bakeneko. Mas não foi isso que lhe tomou a atenção. Ela não deu importância ao que o professor lhe disse sobre domínio, seu foco ficou na informação passada sobre Hikari, fazendo com que ela se desse conta de uma coisa: ela sabia muito pouco sobre a garota por quem daria a vida, literalmente. Já tinha visto o pai dos gêmeos — um youkai de olhos vermelhos-acinzentado e cabelo escuro como carvão — e sua mãe — uma mulher de rosto suave com feições delicadas, envoltos em luto —, mas através das lembranças de Hikari, não sabia como eram de fato ou o que faziam, o que gostavam. Não sabia de nada se não que perderam um filho. Isso lhe proporcionou uma sensação desagradável.
— Por que está me olhando com essa cara de filhote na chuva? — Indagou Kyoto, chamando a atenção de Akemi de volta para a aula. Ele fez uma careta. — Ela nem estava prestando atenção! — Olhou para Inoue, encostado em uma das paredes da grande sala, para expressar sua indignação.
Inoue deu de ombro para o professor.
— Estou sim! — retrucou Akemi com convicção, em um quase um grito. O professor mudou sua expressão de incredulidade para descrença, fazendo com que Akemi acrescentasse: — Não atenção total.
O homem suspirou, parecendo um balão esvaziando.
— Enfim — voltou a dizer. — Dei uma olhada na sua ficha, e nela diz que sua ascendência é de kitsune. Podemos começar a partir disso. — Ele sinalizou para que Inoue se aproximasse. — É por isso que escolhi o Sr. Inoue para me auxiliar. Ele tem uma resistência formidável.
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IY- Ao Cair Da Noite
Aléatoire[EM PAUSA] Deixada num orfanato moribundo em Nova York aos 7 anos de idade, Akemi Watanabe foge do casarão mofado para viver como batedora de carteira nas ruas. Agora, 10 anos após a morte da mãe e o abandono da tia, ela continua sobrevivendo co...