Na manhã seguinte, dois conjuntos pretos de kimonos de cetim com espirais prateadas bem embalados em papel seda, foram deixados no miradouro do Vale.Os uniformes do secundário eram uma forma de homenagear as famílias dos aprendizes com seus kamons estampados. O designer do kimono de cada aprendiz era escolhido pelo primeiro integrante da família ingressado na Academia, e ele continuava sendo o mesmo conforme as próximas gerações eram sucedidas.
Era esperado que cada aprendiz fosse instruído em seus lares sobre qual era o koman de sua família, sobre seus significados e valores que deveriam ser passados. Mas Akemi não só não fora instruída sobre o seu, quanto não sabia absolutamente nada sobre a ume* estampada no topo de cada uma de suas mangas.
Vestida com uma calça de poliéster preta, larga nas pernas, regata também preta com o novo kimono de sobretudo, Akemi sentia-se uma farsa da cabeça às solas do seu tênis baixo. Ela nem mesmo sabia sua própria história.
Junto a suas novas vestes, Akemi também recebeu seu novo horário.
CRONOGRAMA DE AULA: Secundário
ㅡ Desjejum ㅡ
1. Musculação e Ginástica;
2. Técnicas de Combate Armado 2;
3. Técnicas de Combate Pessoal 2;
4. Cultivo de Armamento de Ligação;
5. Técnicas avançadas de aprisionamento e banimento;
ㅡ Intervalo ㅡ
6. Cultivo Espiritual;
7. Prática Mista;
8. Demonologia 2;
9. Estudo do Latim;
10. Herbalismo.
ㅡ Jantar ㅡ
Akemi teve que implorar ao seu autocontrole para conter o impulso de amassar o papel e o arremessar longe.
Os gêmeos Ishii ficaram prontos ao mesmo tempo que ela, ambos exibindo seus uniformes de carpas. Aquela seria a primeira vez em que eles iriam juntos para uma aula.
Quando Akemi contou a eles sobre suas notas assim que o dia raiou, Hikari não demonstrou nenhuma reação imediata, mas poucos minutos depois se gabou de que era um resultado esperado, pois havia sido treinada pela prodígio da Classe A. Ren por outro lado ficou realmente empolgado com a notícia.
O trio deixou o Vale assim que todos estavam prontos.
***
Os secundários não frequentavam o recinto Central fora do horário do jantar, o que com o passar do tempo foi deixando Akemi curiosa sobre onde eles passavam o dia senão nos edifícios usuais. Mas agora, conforme acompanhava o trio pela floresta da Academia, desejou ter permanecido na ignorância.ㅡ Ao menos agora não precisamos mais ir até a Central e depois voltar ㅡ comentou Ren avoado, como se refletisse em voz alta.
Era uma cortesia devido a sua presença, Akemi sabia. Os gêmeos possuíam uma ligação psíquica, segundo Hikari nenhum outro par de gêmeos havia demonstrado ter esses dons, mas eles sim, seu palpite era de que devia-se ao fato de Ren ser ligado a alma da irmã. Era devido a essa habilidade que Hikari sempre parecia avoada quando Akemi a via, muitas vezes falando sozinha ou rindo. Mas desde que Akemi passara a andar com eles, ambos estavam contendo o impulso de conversar psiquicamente e tentando conversar em voz alta, para que ela fosse incluída.
ㅡ Eu realmente sinto muito por todas a vezes que fiz vocês me levarem até o recinto Central ㅡ desculpou-se Akemi envergonhada, sentindo-se realmente mal. Ela não havia sido grata nenhuma das várias vezes que eles iam e vinham de um lado para o outro somente para que ela não ficasse com medo de andar pela floresta. Ela nem sequer havia parado para analisar a distância torturante que eles percorriam.
Ren deu de ombro com um sorriso nos lábios.
ㅡ Você nos recompensou com sua nota ㅡ entoou Hikari ao lado de Akemi, se esquivando de um galho.
ㅡ Com certeza essa a melhor retribuição ㅡ concordou o rapaz, passando a mão no cabelo negro.
Akemi riu.
ㅡ O valor da cobrança de dívidas de vocês é muito medíocre. ㅡ Saltou uma raiz, jogando seu rabo de cavalo baixo para trás. Seu olhar se focou mais adiante, não conseguia ver nada além de tons generosos de verde e uma abundante quantidade de folhas secas no solo. ㅡ Para onde estamos indo exatamente?
ㅡ Para o território dos secundários, terminamos separados para não precisarmos nos segurar. ㅡ Falou Ren, esboçando um sorriso ladino ao ver a testa franzida de Akemi. ㅡ No primário temos muitas aulas teóricas, além de combate, e geralmente as matérias fora desse campo de luta só aprendemos a como estabilizar nossa energia mística. Mas no secundário o foco é em moldar essa energia e aprender a usá-la tanto na ofensiva quanto na defensiva. Quando se trata de algo tão… imprevisível, é limitante fazê-lo em um local onde há crianças. Por isso treinamos separados, para não corrermos o risco de machucar alguém que não seja da nossa classe.
Akemi pigarreou, cômica.
ㅡ Então tudo bem machucar alguém desde que seja do secundário?
Ren jogou os braços para cima, em sinal de defesa.
ㅡ Talvez?
ㅡ A taxa de mortalidade da Academia diminuiu mais de vinte por cento na última década ㅡ comentou Hikari, com um sorriso endiabrado no rosto pálido.
ㅡ Isso é acolhedor.
Cobrindo o rosto, Akemi acompanhou os irmãos por um mar de arbustos altos, odiando internamente as folhas e pequenos galhos que batiam em sua pele enquanto atravessavam.
Do outro lado do muro de arbustos, o céu azul pálido se abria sobre uma enorme clareira. Um torii* vermelho vinho encontrava-se posto de frente a eles ㅡ recebendo os recém chegados ㅡ, atrás dele havia um pátio de ladrilhos claros assustadoramente grande, com degraus ao final, que levavam a um edifício de dois andares, ambos andares de alturas impressionantes.
De prontidão na formação que Akemi já conhecia, agrupados no pátio em diversas fileiras de kimonos com cores variadas, estavam os aprendizes do secundário. Diferentemente das crianças com quem Akemi esteve, esses meio-youkais exalavam poder, muito poder.
ㅡ Bem-vinda, Akemi ㅡ cantarolou Ren. ㅡ Ao Pavilhão Nuances.
Diferente de seu primeiro dia na Academia, Akemi se via ansiosa para começar. Uma chama ardente queimava dentro de si, ansiando fazer parte daquele lugar.
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SIGNIFICADO DAS PALAVRAS》Ume (flor de ameixa): Esta flor tem significados lisonjeiros de elegância, fidelidade e um coração puro. O fruto da árvore de ume, também é usada para fazer licor, este chamado de umeshu, que é muito apreciado pelos japoneses.
》Torii: O torii é um dos elementos mais reconhecidos quando se fala em Japão. O monumento tem duas colunas que representam os alicerces que sustentam o céu, enquanto outras duas vigas simbolizam a terra. É uma construção típica do xintoísmo, a religião nativa do país, e representa a entrada em um território considerado sagrado. Existem torii feitos de pedra, bronze e outros materiais também.
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[1011 PALAVRAS]
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IY- Ao Cair Da Noite
Random[EM PAUSA] Deixada num orfanato moribundo em Nova York aos 7 anos de idade, Akemi Watanabe foge do casarão mofado para viver como batedora de carteira nas ruas. Agora, 10 anos após a morte da mãe e o abandono da tia, ela continua sobrevivendo co...