Capítulo 2 - Sonho

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Nanda olhou o céu de Paris. Sorriu.

--Não acredito que eu estou aqui mesmo! – Falou sozinha. Era início de dezembro e o frio começava a aumentar. Este ano o inverno vinha mais cedo, havia lhe dito uma simpática senhora parisiense. Parou mais um instante a olhar o céu encantada, e entrou no carro que havia alugado, passando a dirigir, seguindo as ordens do GPS. Olhou mais uma vez o céu antes de entrar em um túnel. – Obrigado! – Sussurrou sorrindo agradecendo àquele céu, pois este céu foi o que a trouxe até ali, mesmo que ninguém acreditasse.

Foi uma luta enorme para chegar até ali. Não uma luta financeira. Não, sua família tinha dinheiro e este nunca foi o problema. Sua luta era por credibilidade.

Nanda Itiê tinha um pai e uma mãe, quatro irmãos e quatro avós que não acreditavam no seu trabalho, que riam do que ela fazia. Aliás, quase o mundo todo não acreditava no que ela fazia, mas isso seria simplificar, pois aquilo nem era o que ela fazia, na verdade, era quem ela era.

Nanda sempre foi assim, desde pequena. Amava rosa, todos os tons possíveis de rosa. Gostava de falar sozinha, de corações e borboletas. E estrelas, amava estrelas acima de tudo, e passava horas deitada no quintal a olhar as estrelas no céu. Não saberia contar quantas as vezes que ouviu dos pais e dos irmãos que era "retardada". E a retardada cresceu. Fez astronomia, formou-se sozinha em astrobiologia, e foi trabalhar no CUB, Centro de Ufologia Brasileiro, onde realizou grandes descobertas. Mesmo assim ninguém da família a levava a sério.

Em toda a sua vida, apenas uma pessoa acreditava nela, não compreendia, mas acreditava, e ele se foi.

Jonas foi seu grande amigo de infância. Apesar do jeito burro dele, e dos gostos totalmente diferentes, ele respeitava sua paixão pelo espaço. Foi ele que depois de grande amigo, tornou-se seu primeiro e único namorado. Os pais dele também eram pessoas muito queridas, e foi o pai dele que lhe disse, que devia estudar o que a fizesse feliz, e seguir o seu sonho. E faziam quatro anos que os três se foram.

Namoravam há bastante tempo, e se amavam muito. Ele foi com a família em uma viagem para o Egito, e o avião simplesmente sumiu. Sem destroços, sem comunicação nenhuma, desapareceu no ar.

Nanda gostava de imaginar que ele estava em algum planeta, olhando para ela por algum complicado sistema de espionagem da vida na terra dizendo "Tá vendo aquela boba lá? Eu conheço ela! Vai garota, você consegue, prova que estes caras existem!". Sabia que ele nunca voltaria, mas sentiria um carinho especial por ele para sempre, e sabia também que um dia amaria outra vez, e seria especial.

Esta pessoa apareceria, e automaticamente saberiam que eram o amor um da vida do outro. E bem de leve, aos poucos, se entregariam àquele sentimento. Esta pessoa lhe escreveria poemas, juntos desenhariam corações e olhariam as estrelas. Juntos passeariam por jardins e veriam borboletas coloridas enquanto sentiam o perfume das flores.

Esta pessoa lhe deixaria bilhetes de amor, e ela também lhe seria romântica, lhe levaria flores, passeariam de balão, e Nanda lhe escreveria uma canção, uma simples e doce, mesmo que não soubesse cantar nem tocar, aquela pessoa doce e romântica seria sensível à arte, e a ajudaria com a canção, e depois de pronta, Nanda mandaria essa canção para tocar em algum lugar do espaço, em um dispositivo de reconhecimento espacial ou satélite. A canção ia tocar no infinito, para que todo o espaço, todo o universo soubesse, que Nanda estava amando alguém especial.

Entrou no apartamento da família na Décines-Charpieu em Lyon, onde agora moraria. Mais uma vez olhou o céu pela janela. Estava mesmo ali. Estava vivendo seu sonho. Agora era sério.



NOTA: Você que está lendo ainda não sabe, mas vai amar a Nanda!

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