Capítulo 50 - Apenas Sofrer

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Nanda estava deitada no tapete da sala. Não, não havia acabado de descobrir que Carla a deixou. Três meses já haviam passado.

Três meses e tudo que conseguia era acordar na cama delas e chorar, tomar banho chorando, fazer seu trabalho sem nenhuma vontade e chorar, enviar relatórios e chorar, comer quando Davi obrigava e chorar, entrar no quarto do filho e chorar, dormir, chorar até dormir, toda noite.

Na primeira semana não ficou apenas chorando. Foi ao Clube do Lyon, andou por todos os lugares, procurou todos que conheciam Carla. Ela havia desaparecido da face da terra. Então tudo que podia fazer era se entregar e chorar.

Agora na última semana que se passou, apenas ficava estirada, a pensar, a sofrer, não havia mais lágrimas. Haviam se esgotado, mas ela ficava pateticamente jogada, a sofrer, sentir aquele vazio, lembrar dos braços de Carla em torno de seu corpo, e era tanto sofrimento vazio que até começava a sentir falta da época que chorava, pois não queria que aquele sofrimento passasse. Significava que era o fim, como uma doença. Se você está doente e começa a se recuperar significa que a doença passou, e que ela deixou você. Nanda não queria se recuperar, não queria que Carla passasse, mesmo que isso a fizesse sofrer.

Olhava o teto deitada no tapete, quando Davi entrou pela porta. Ele puxou-a por um braço sem nenhuma doçura e a fez sentar no sofá. Falou enérgico como um pai aborrecido.

--Agora já chega Nanda! Achei que você precisava do seu processo de sofrimento, que ia se recuperar, mas chega! Pare agora mesmo! Se não está disposta a esquecer lute por ela! Vá atrás dela e diga que não fez nada! Ou reconquiste-a se ela não acreditar em você! Comece tudo de novo com ela! Persiga-a como uma maluca e invada o quarto de hotel dela, a casa dela, roube as roupas dela, vire uma louca, mas faça alguma coisa! Tome uma atitude mulher! Ela já provou que não vai voltar a esta casa e se jogar nos teus braços. Então não adianta ficar trancada aqui pensando que ela vai voltar porque é a casa dela, que pelo jeito já não é! Corra atrás dela! – Mais uma lágrima escapou do olhar de Nanda.

--Se eu pudesse Davi! – Ele tirou um papel do bolso.

--Você pode. Acabei de te conseguir uma licença de três meses. Se o trabalho te impedia não te impede mais!

--Não é isto Davi! Dane-se o trabalho! Eu largaria tudo por ela, se ao menos eu soubesse onde ela está! – Ele arregalou os olhos.

--Nanda minha filha! Você é cega?! Você não vê as revistas de futebol que chegam toda a semana e estão bem aqui na sua frente? – Disse pegando uma revista na mesa de centro. – Carla está jogando pela seleção nos jogos olímpicos! Ela está no Brasil! – Nanda sorriu, como a três meses não sorria. Chorou, de esperança, de felicidade. Ia atrás da mulher da sua vida.

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