O Poder eo Sonho

Capítulo 33 - Confusão

Tamara mais uma vez estava sentada na sala de meditação esperando por Paulo. Desta vez lágrimas escorriam pela face enquanto de olhos fechados tentava se forçar a meditar.

Tinha almoçado com Nanda naquele dia. Agora que ela tinha lhe apresentado sua namorada falava dela todo o tempo, com olhos brilhantes, totalmente apaixonada! Isso machucava tanto!

Depois de suportar Nanda falar sobre Cosmo todo aquele tempo, dizendo que por um tempo sentiu-se insegura pelas grandes diferenças de caráter, mas que agora sentia que a única coisa importante era que se amavam, ouvi-la dizer com todas as letras que amava Cosmo mais que tudo. Depois de suportar aquela declaração e se despedir de Nanda como se estivesse feliz por ela, Tamara andou pelas ruas da cidade descontrolada. Refez passos que caminhou com Nanda, e sem mais conseguir se controlar, foi em busca de Paulo, para tentar encontrar alguma paz nas palavras dele.

--Ei, o que é isso escorrendo em seu rosto? Raiva? – Ouviu a voz doce ao seu lado, abriu os olhos.

--Ah Paulo! Se soubesse como estou com raiva! Ela me magoou tanto hoje! – Ele fez sinal negativo com a cabeça segurando sua mão com carinho.

--Não Tamara! Não! Ninguém tem a capacidade de magoar outro ser humano. A mágoa é um sentimento que criamos em nós mesmos. Geramos expectativas egoístas de que as outras pessoas sejam como queremos, e quando agem diferente do que planejamos, essa expectativa quebrada é a mágoa que nós mesmos criamos. O que aconteceu? Você está diferente! – Tamara deu de ombros limpando as lágrimas.

--Ela me disse que ama a namorada, mais que tudo! Eu a amo tanto, e ela não percebe! – Ele afagou a mão que segurava entre as suas.

--É natural que ela ame alguém com quem tem um relacionamento. É natural que te conte, são amigas! Há pouco tempo seu amor parecia tão determinado a suportar qualquer coisa! O que está acontecendo?

--Antes passeávamos juntas, conversávamos sobre muitas coisas, mas ela não me falava da namorada! Final de semana passado ela me apresentou a sua "querida namorada", então hoje a gente saiu, e ela estava radiante, falava da namorada, trocaram mensagens bobas sem sentido, e ela ali, achando qualquer merda que a outra escrevia a coisa mais linda do mundo! A Cosmo escreveu uma mensagem para ela, que não demorasse, pois tinha ciúme do cubo! Ela achou isso o máximo! Que merda de cubo é esta?! Eu fiquei tão irritada! – Paulo tentou acalmá-la.

--É normal que elas tenham coisas de casal! Você pode encarar isto ou se afastar, o que não pode é deixar que seu amor mude para algo raivoso e exigente! O que está exigindo dela não é algo que ela tenha te oferecido! Você está criando mágoa, um fardo de mágoa que não suportará carregar por muito tempo. Não pode esperar que ela entenda e respeite um sentimento que ela nem sabe que você tem! Não se deixe involuir, não deixe que seus sentimentos te levem a algo que não é você. – Tamara suspirou.

--Eu sei! Mas é o que acontece! Não consigo impedir! Desde que eu vi as duas juntas meu amor se tornou algo muito egoísta! Ele parece vivo! É como se no meio da noite, este amor se revolvesse no meu peito, ele parece um ser descontrolado, que me acusa de covardia! Que pergunta se não vou fazer nada! Se simplesmente sou fraca demais para lutar por ela e vou deixar que Cosmo fique com tudo que é meu!

--Tam, olha as coisas que você tá dizendo! Sabe que nada no mundo é realmente de alguém! A posse é só um sentimento egoísta que inventamos. Um dos piores, ainda mais quando estamos falando de seres humanos. Outro ser tem de estar do nosso lado livremente porque assim o quer, e não porque é nossa posse! Este amor que te ataca está se tornando egoísta e descontrolado. Pergunte a si mesma se quer mesmo nutrir um sentimento assim! – Tamara fez um gesto aborrecido.

--Não consigo evitar! Tenho total compreensão que esta raiva que estou sentindo não é nada nobre! Desde que vi as duas abraçadas, trocando carinhos, beijos apaixonados, não tenho mais controle de nada! Não consigo mais compor, toda vez que tento criar a única coisa que vem em minha cabeça é a imagem feliz da Cosmo, e isto está me causando um ódio que nunca tive! Não sabe as coisas que andei fazendo! – Ele se preocupou.

--Não Tam, não! Precisa pôr para fora à sua maneira! Você sempre foi uma artista brilhante! Se se bloquear as coisas vão piorar! Isso vai acabar prejudicando seu trabalho e sua alma! – Ela deu uma risada seca entre lágrimas.

--Ah não! Não se preocupe com isso! Agora quando saio para tocar nas ruas, acabo tocando as músicas mais magoadas da face da terra, e percebi, que todos lá fora devem estar muito magoados, pois todos gostam muito mais do que quando eu tocava músicas doces e alegres! E quando consigo compor alguma coisa é uma música de pura raiva, ódio, ego ferido, rejeição e muita mágoa! Estou descontando mesmo é na minha vida pessoal! – Ele a olhou pesaroso.

--O que fez com você Tam?! – Ela derramou-se em lágrimas.

--Este amor está me mudando de uma forma Paulo... Eu começo a odiar todas as coisas que amava! Eu destruí todas as flores que plantei no jardim Botânico! Não suporto ver flores ou corações! Não suporto ouvir canções de amor! Até a minha gata Mix eu dei a uma amiga porque cada vez que eu olhava pra ela, lembrava do meu gato que agora é da Cosmo! A Mix não tinha culpa, e eu já não conseguia oferecer o mesmo carinho a ela! Eu não suporto mais nada das coisas que tanto amava! Estou evitando olhar as estrelas porque serão as próximas a ser odiadas! – Ele segurou-lhe mais forte a mão.

--Tamara, você compreende tudo que está acontecendo, então lute! Não deixe que isto te transforme! Você sempre teve seus meios de se encontrar! Não se entregue a esta rota destrutiva que está criando! – Ela se jogou nos braços dele soluçando tomada por um choro nervoso.

--Já não sei!.. Não sei se consigo! – Ele deixou que ela serenasse em seus braços, e isso levou algumas horas. Quando saiu dali Tamara caminhou pela cidade. Sem saber para onde ia, seus passos talvez buscassem restos de uma garota sonhadora e doce, que estava aos pedaços, aos poucos espalhada, uma parte perdida em cada canto de Lyon. Aquela garota doce, decidida, cheia de conhecimento de si mesma, agora só sabia dizer uma coisa sobre si, estava confusa.