O Poder eo Sonho

Capítulo 14 - Aparências

--Nanda se acalma! Você é adulta! O que eles podem fazer?! Te castigar? – Nanda falava consigo mesmo em frente ao notebook. Havia uns dez minutos que tinha tomado coragem e mandado mensagem para a mãe dizendo que falaria com ela no Skype, e estava cada vez mais nervosa. Suas mãos tremeram quando aceitou a chamada de vídeo. Do outro lado sua mãe a olhava.

--Nanda?

--Oi Mãe, tudo bem? – A senhora gesticulou. Seu rosto em ricto enfurecido.

--Pergunta se está tudo bem?! Você é retardada?! Que papel ridículo foi esse?!

--Calma Mãe eu... – A interrompeu.

--Sua irmã viu na internet. Tentamos comprar todos os jornais na banca de importados do condomínio, mas alguns já tinham saído! A Ana Luísa Couto Melo veio me mostrar isso no clube! Na frente de todas as minhas amigas! Aos beijos com uma sapatão! – Nanda irritou-se.

--Mãe, ela não é sapatão! E é só uma amiga!

--É bom que seja mesmo! Agora a vergonha está feita! – O pai se juntou à Mãe na frente da tela.

--Nanda, estou te dando uma ordem, então preste bem atenção! Não quero que veja mais esta lésbica! Seja lá o que tiverem terminem! – Nanda abaixou a cabeça um tanto triste.

--Não temos nada Pai, é só minha amiga! Foi um momento... Eu... Nós... – Ele a interrompeu.

--Não me interessa o que vocês tem! Somente quero que cumpra minhas ordens! Não verá mais esta garota! Já basta estas retardadices de extraterrestre pra nos envergonhar, agora virou sapatão! Não admito isto! – Nanda sentiu uma dor estranha no peito. Um incômodo. Em nenhum momento nenhum deles perguntou o que aconteceu, se aquilo era verdade. Apenas queriam manter as aparências. Ela irritou-se. Respondeu ainda mantendo a educação.

--Pai, estou sendo o mais educada possível, mas vamos manter o respeito entre nós! Não estão falando com uma garotinha dependente de vocês! Sou uma mulher adulta, formada, e dona da minha vida! – O pai se enfureceu. Falava alterado a espumar de raiva.

--Ingrata miserável! Depois de bem criada e educada, formada em boas escolas, depois de tudo que te demos acha que manda na sua vida! Eu te ponho ordem Nanda! Te faço voltar e acabar com essa besteira toda de espaço, homenzinhos verdes e toda essa pouca vergonha de namoro lésbico! – Nanda também perdia a calma aos poucos.

--Bem criada Pai?! Bem criada?! Eu fui criada pelos empregados! Eu nunca tive carinho nem apoio de vocês! E vocês não me deram nada! Nunca me apoiaram em nada! Se a Tia Alice não tivesse deixado uma herança especificamente para mim, eu nunca poderia ter sido astrônoma! Ela sim me apoiou! A ela sim eu devo respeito! E não pense que não sei que você acabou com mais da metade do patrimônio que ela me deixou! Apenas não ligo! – A mãe também enfureceu-se.

--Deve respeito à sua tia? Ela está morta! Está morta e não vai te proteger! Era outra retardada cheia de deslumbres idiotas como você! Ela não fez mais que a obrigação! O dinheiro que deixou é pouco pela vergonha que fez nossa família passar! – Colocar a tia naquilo e ainda ofendê-la era o que Nanda não ia suportar! Bateu as mãos na bancada em torno do Notebook.

--Ela era uma vergonha Mãe?! Porque? Porque casou com um homem pobre? Porque não ligava para a aparência como vocês? Mãe, Tia Alice era uma artista incrível! Ela pintou a vida! Ela viu o mundo! Ela viveu, descobriu, e foi uma alma incrivelmente livre! Você é uma vergonha! – A mãe apertou os lábios em ricto de ódio!

--Nanda Itiê! Sua tia era uma vagabunda que deitava na cama de qualquer um! Andava por aí esmolambada a rodar mundo como uma ninguém! – Nanda bufou quase como um riso, fez gesto negativo com a cabeça como se aquilo fosse inacreditável.