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Oito anos atrás...
Março, 2018
Melissa


_ Não precisa ser tão forte assim Mel!

Escuto Gabriel gritar do outro lado do campo, aonde estamos treinando há mais de duas horas.

_ Já não deu por hoje? Você pegou todas as bolas.

Ele começa a caminhar na minha direção, ajeitando a camisa nos ombros.

_ Tá cansada já? - ele debocha.

_ É lógico! Não sou uma atleta como você.

Seguro a bola nos meus braços e começamos a caminhar para fora do campo.

_ Hoje a janta é na sua casa?

_ Não sei, vou sair com o Bruno. - respondo ao atravessar a rua.

_ Tenho tanta pena dele, ter você como carrapato deve ser difícil. - diz e começa a rir em seguida.

_ Me chamou de quê? - solto a bola e seguro com força na sua orelha.

_ Ai! Eu tô brincando Melissa. - tenta puxar meu braço e aperto com mais força - Desculpa porra, desculpa!

Solto sua orelha e abro um sorriso gentil.

_ Psicopata.

Ele diz ao massagear a orelha e começo a rir. Eu e o Gabriel vivemos na base dos tapas e beijos.

[...]

Encaro meu reflexo no espelho e gosto do que vejo. Vou a um barzinho com o Bruno e o macacão preto que escolhi me caiu muito bem.

_ Filha, Bruno está te esperando aqui.

Escuto minha mãe gritar e pego minha bolsa, pronta pra descer.

Encontro Yuna no corredor, reclamando de fome e suponho que o Felipe não parou de estudar ainda, já que não o encontro na sala. Meu irmão está tão focado nos estudos que não consegue desacelerar nem nos fins de semana.

Assim que vejo Bruno parado do outro lado da rua, encostado no seu carro, sorrio sem perceber. Mesmo sendo alguns anos mais velho, ele é a pessoa que eu mais confio e a que mais me entende nesse mundo.

Crescemos juntos nesse condomínio, já que nossos pais são amigos desde novos. Somos todos uma família, não muito convencional, mas somos.

Gabriel me faz rir sempre que pode e em contrapartida, Lucas me faz ferver de raiva.

Fernando é um tanto quanto indiferente à nós, ficando no mundinho dele na maioria das vezes. Mas sempre que posso, o acrescento nas conversas e pergunto sobre suas pesquisas. Afinal, a melhor maneira de ouvi-lo falar, é conversar sobre seus experimentos.

Felipe é meu irmão mais velho, por questão de cinco minutos. Não discutimos muito, a não ser pelo último pedaço de pizza ou pelo controle da TV. Ele precisou muito de mim no momento em que contou para nossa família que era homossexual.

Minha mãe não se importou muito com o fato, somente queria garantir que o filho que ela havia criado mantivesse seus princípios morais. Já meu pai foi responsável por três dolorosos meses em que meu irmão chorava no quarto, sem parar.

Ele não ofendeu o filho com palavras, mas passou a evitar seu olhar.

O alívio é que tudo ficou bem depois de algumas sessões de terapia em família.

Assim que me vê, Bruno acena na minha direção.

_ Oi Mel. - da um beijo na minha testa e abre a porta do carro.

Reparo na caixa de chocolates que está no banco de trás.

_ Você nunca esquece. - aponto pra caixa e ele se senta ao meu lado.

_ Eu seria um homem morto se esquecesse. - o encaro e caímos na risada.

Quando estou bêbada, acabo ficando descontrolada demais e parecendo uma criança que, assim que vê chocolates, faz tudo o que mandam para tê-lo. Um fato que só eu e o Bruno sabemos.

Seria como assinar minha própria morte se o Gabriel descobrisse, ou pior, se o Lucas descobrisse.

Se existe alguém que usaria isso contra mim, com toda certeza é o Lucas.

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