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Bruno

Emma evitou meu olhar o resto da festa e eu queria me desculpar por causar esse desconforto nela, mesmo sabendo que foi apenas um acidente.

Alicia estava dormindo no meu colo quando os convidados já estavam indo embora e Emma ajudando os garçons a organizarem as louças utilizadas na festa. Meu telefone começa a vibrar no bolso com uma ligação do meu irmão e atendo, tentando falar baixo para não acordar a pequena.

Ligação on:

_ Oi Lucas. - sussurro.

_ Oi, se escondendo pra falar baixo assim?

_ Alicia tá no meu colo dormindo.

_ Ah, sim. Aliás, eu curioso sobre isso ainda.

_ Isso o que?

_ Você é como um tio pra menina?

_ Sim.

_ Entendi. E a mãe dela? São amigos mesmo? - pergunta sugestivo.

_ Sim, Lucas. Nunca vi Emma com outros olhos.

_ Nunca?

Flashes do nosso selinho passam pela minha mente junto com ela caminhando até mim mais cedo naquele vestido que a deixou...

_ É, nunca. Mas você não me ligou pra isso, né? - tento mudar de assunto.

_ Não mesmo. queria te avisar que vou viajar pra NY a trabalho na semana que vem e queria conversar com você.

Respiro fundo, imaginando que ele finalmente queira me contar.

_ Me passa o horário que qualquer coisa te busco no aeroporto, vai ficar comigo?

_ Óbvio! Pra que eu gastaria dinheiro com hotel?

_ Para não perturbar o seu irmão? - provoco e ouço ele rir.

_ Fala sério! morrendo de saudades de mim e das minhas perturbações.

_ Menos de 1%.

_ Mentiroso. - ouço alguém chamá-lo para ajudar em alguma coisa que não consigo entender. _ Preciso ir agora, nos vemos semana que vem.

_ Até semana que vem, Lucas.

Ligação off.

Coloco meu celular no bolso da calça novamente e vejo Emma se aproximar.

_ Me desculpa Bruno, acabei te atrasando. Tinha alguma coisa pra fazer depois daqui? - pergunta preocupada e nego.

_ Não, fica tranquila. Já podemos ir?

_ Sim, o resto do pessoal vai terminar de arrumar tudo.

_ Vai colocando ela no carro que eu pego os presentes.

Emma pega Alicia do meu colo e vou até a caixa cheia de presentes, tentando levar o máximo que posso até o porta-malas. Verifico se o cinto da cadeirinha está preso corretamente e sento no banco no motorista em seguida.

_ Quer passar pra comprar alguma coisa? Você quase não comeu na festa. - pergunto ao sair do estacionamento.

_ Não precisa, eu tô tão cansada que só quero dormir.

Ela se ajeita no banco e percebo sua luta para não fechar os olhos. Alguns minutos depois, Emma já caiu no sono e aproveito que o trânsito está congestionado para pedir uma comida pelo aplicativo, torcendo para que fique pronta logo.

Passo no restaurante para pegar o Macarrão com queijo que pedi e sigo para o apartamento das meninas. Estaciono meu carro na garagem e tento criar coragem para acordar Emma que dorme tranquilamente.

_ Emma. - chamo seu nome baixinho e me aproximo um pouco do seu rosto. _ Emma, nós já chegamos. - ela se remexe, abrindo um pouco os olhos.

Arrumo algumas mechas do seu cabelo que parecem cair nos seus olhos e ela me encara ainda sonolenta.

Não consigo parar de tocar em seu rosto e ela também parece não se importar com isso.

Ouvimos Alicia resmungar alguma coisa no banco de trás e nossa bolha parece estourar, pois Emma se senta rapidamente e tira seu cinto antes de sair do carro apressada. Vejo ela pegar suas bolsas e a pequena no colo, indo para o elevador.

Ainda sem entender o que acabou de acontecer, desço do carro com a sacola de comida nas mãos e peço ajuda do porteiro para pegar os presentes. Subo para seu apartamento dando uma gorjeta de agradecimento ao senhor e vou direto para a cozinha.

_ Você comprou comida? - Emma aparece ainda usando o vestido da festa, tendo tirado apenas o salto e as luvas.

_ Sim, sei que está com fome.

_ Obrigada. - agradece sentando no banco. _ Alicia está tão cansada tadinha, mal se mexeu quando fui trocá-la para por seu pijama.

_ É, a pequena aproveitou bastante hoje.

_ Valeu a pena então.

Concordo e pego dois pratos no armário, lhe servindo um pouco de macarrão.

_ Bruno, acho que não vou conseguir comer.

_ Por que?

_ Esse vestido é alugado e tô com medo de rasgar.

_ Por que não se trocou ainda?

_ Não alcanço o zíper, foi minha vizinha que me ajudar a colocar mais cedo. - confessa tímida e tento não rir.

_ Eu te ajudo. - me levanto ficando atrás do seu corpo e sinto sua pele se arrepiar quando toco em seus ombros desnudos.

Desço minha mão pelas suas costas até chegar no zíper e o desço lentamente.

Minha vontade de sorrir desaparece dando lugar a outro sentimento que não sei descrever. Me controlo para não descer minhas mãos ainda mais e tocar cada parte descoberta do seu corpo, e Emma parece tão afetada quanto eu.

Mas ela é mais rápida ao se afastar e pronunciar palavras que não pensei que pudessem afetar tanto.

_ Me desculpa pelo de antes e deveríamos esquecer, não é? Eu sei da sua história, você sabe da minha e tentar nomear ou falar sobre isso só complicará mais as coisas.

_ Emma, eu... - quero me desculpar também, mas ela parece tão nervosa com esse assunto que decido me calar.

_ Foi só um acidente né? - pergunta e apenas concordo.

_ É, só um acidente. Fica tranquila.

Ela sorri um pouco antes de correr para o quarto.

Volto para a bancada da cozinha e digo para mim mesma que ela está certa, nomear o que quer que tenhamos sentido naquele momento só complicará o que já temos agora.

E é com isso em mente que tento agir naturalmente quando ela volta, já de pijama, para a cozinha e jantamos juntos.

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