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Felipe

_ Mateus está há 3 anos na fila de espera para o transplante de fígado, mas seu estado vem decaindo na última semana e quero que você o monitore. Qualquer mudança, mínima que seja, venha me avisar.

Dra.Carla me pede ao passar os prontuários do garoto de 16 anos.

_ Farei o meu melhor.

_ Sei que sim. - aperta de leve meu ombro e sorrio agradecido.

Trabalho com ela há pouco menos de duas semanas e sou grata por todas as oportunidades que ela me ofereceu até agora. É difícil encontrar médicos dispostos a serem bons professores.

Olho para sua mãe sentada na poltrona ao lado da cama e me aproximo para verificar o resultado dos exames de hoje. Ela acorda assustada percebendo minha presença e se levanta tão rápido que me assusto.

_ Encontraram um doador? Por favor, diz que sim!

_ Se acalme, senhora. Estou aqui para acompanhar o estado diário do seu filho e informar a Dra.Carla, mas ainda não obtivemos uma resposta positiva em relação ao transplante, sinto muito.

_ Não, tudo bem. Me desculpe, eu só... eu só tô em alerta a todo momento então, pode não ligar pra mim. É capaz de você ouvir muito essa pergunta de mim, várias vezes ao dia. - diz forçando um sorriso e tento retribuir como forma de confortá-la, mas sei o quão difícil deve estar sendo.

Saio do quarto logo após a enfermeira trocar os medicamentos e caminho em direção ao elevador. As portas se abrem e me surpreendo ao ver Miguel.

_ Acho que vamos para o mesmo andar. - diz tentando manter o profissionalismo, porém acabo sorrindo quando seu olhar encontra o meu.

_ Será que disfarçamos desse jeito na frente dos outros?

_ Tomara que não. Como está sendo o seu dia?

_ Acabei de presenciar o quão angustiante é para uma mãe ficar dentro do hospital, rezando para o bem-estar do filho. Então, não está sendo um dos melhores. - suspiro sendo o mais sincero possível e ele segura minha mão por dentro do bolso do jaleco.

Olho para ele assustado com medo de que alguém possa nos ver.

_ Não sei como melhorar o seu dia depois disso, e infelizmente as coisas só pioram no nosso trabalho. Mas você tem a mim para segurar sua mão, você sempre vai ter.

_ Uh, você ainda é tão clichê. - respondo envergonhado e ele ri.

_ E você ainda fica vermelho sempre que me ouve sendo clichê.

_ Ridículo. - murmuro baixo e aperto sua mão de volta.

As portas do elevador se abrem e tento sair depressa antes que alguém nos veja, mas sou parado ao ouvi-lo me chamar.

_ Oi? - respondo ao me virar para trás e o vejo se abaixar na minha frente.

_ Você sempre deixa seus cardaços assim. - diz enquanto os amarra novamente e só então percebo que poderia me espatifar no chão da maneira em que estavam. _ Pronto.

_ Obrigado, o que eu faria sem você?

_ Te amo. - manda um beijo no ar e sorrio. _ Agora vai que estão olhando.

Olha em volta percebendo algumas enfermeiras curiosas e saio correndo antes que isso possa cair nos ouvidos da minha superior. Vejo todos os meus amigos parados em frente à uma televisão e me aproximo.

Quem eu amava? Onde histórias criam vida. Descubra agora