Quem eu amava?

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Bruno

_ Estou te dizendo para que fique preparado, ainda não é oficial.

Minha mãe diz do outro lado da tela. Recebi sua ligação por vídeo há pouco, dizendo que tinha algo importante para me contar.

_ Você tem certeza?

_ Eu conheço meus filhos, ele está muito mais feliz nesses últimos dias.

_ Acha que é sério dessa vez? Sabe como ele é.

_ Ele não brincara com ela desse jeito, filho. Acho que Lucas a ama mesmo.

Respiro fundo com a informação e sinto um nó na garganta quando minha próxima pergunta sai.

_ E ela mãe? Melissa também ama o Lucas?

O silêncio que se estende é a minha resposta.

_ Eu já entendi, mãe. Tá tudo bem.

_ Sei que é estranho, mas ele confia no seu julgamento. Se disser que não concorda com o relacionamento dos dois, Lucas ficará inseguro.

_ Ele mudou bastante, mãe.

_ Pra melhor, meu filho. Pra melhor.

_ Sim. Vou esperar que ele venha até mim para me contar.

_ Você está bem? Eu não te contei porque quero que coloque os sentimentos dele acima dos seus. Só quero que perceba que ele está feliz com isso e se você não estiver, tem o direito de se afastar.

_ Melissa é minha melhor amiga mãe, apenas isso.

Tento deixar isto claro, mesmo que ainda doa dizer em voz alta.

_ Fica em paz, meu amor. Mamãe tá sempre por aqui, ok?

_ Sei disso mãe, eu amo a senhora.

_ Também te amo.

Desligo a chamada e encosto minha cabeça no travesseiro.

Deixar Melissa para trás foi a decisão mais difícil que tive que tomar, desde que ela nasceu eu fiquei encantado por aquela bebê e quis protegê-la de tudo. Nos tornarmos melhores amigos e confidentes um do outro foi tão natural quanto me apaixonar por ela.

Flashback - 4 anos atrás:

" Sinto meu braço arder pelo corte feito pelo vidro e agradeço à enfermeira que fez meu curativo.

Mais uma vez meu pai ficou agressivo por conta da pontuação do Lucas no vestibular, mesmo ele tendo conseguido entrar para a faculdade. Os dois discutiram feio e meu irmão saiu pela rua deixando nosso pai bravo para trás, o que resultou no seu surto de jogar coisas pelo chão da sala e infelizmente meu braço estava no caminho quando uma taça de vidro foi jogada.

Tentei tranquilizar minha mãe vindo para o hospital e tive que ouvir vários pedidos de desculpas do meu pai.

Meu celular vibra com uma mensagem da Melissa pedindo para me ver. Abaixo as mangas da camisa para esconder o curativo e dirijo até a praça perto de casa.

_ Bru! Você chegou! - diz entusiasmada me abraçando e retribuo forçando um sorriso, sentindo o ferimento doer.

_ Você parece animada, quer me contar algo?

_ Eu passei na faculdade! Vou ser uma advogada como você, vamos trabalhar juntos, defender as pessoas juntos, tudo juntos! - fala com uma rapidez absurda e acabo rindo.

_ Calma, você precisa respirar. - acaricio suas costas até que ela se acalme. _ Melhor?

_ Sim.

_ Você vai ser uma ótima advogada e uma mulher incrível. Parabéns minha linda. - beijo sua testa e ela me abraça novamente.

_ Obrigada Bru, você me ajudou tanto a estudar.

_ O mérito é todo seu.

_ Não, não. Inclusive, eu tenho um presente pra você de agradecimento. - se afasta para mexer dentro da sua bolsa.

_ Não era eu quem deveria te presentear?

_ Também. - dá risada enquanto segura uma caixinha nas mãos. _ Mas, este é o seu presente de formatura.

_ Você não precisava gastar dinheiro com isso, Melissa.

_ Precisava sim, toma.

Pego a caixinha nas mãos e quando abro vejo um relógio preto de couro que me deixa sem palavras. Fecho a caixa novamente e a estendo na sua direção.

_ Isso parece caro, não posso aceitar.

_ O que? É claro que pode. Eu comprei pra você, sem devoluções.

_ Mas...

_ Mas nada! Esse vai ser o seu relógio da sorte, tem que usar para ganhar suas causas.

Olho novamente para o relógio e solto um suspiro de derrota.

_ Tudo bem. Mas então quando você se formar lhe darei algo para sua sorte.

_ Bobinho, minha sorte já é você.

Meu coração se aquece com suas palavras e sorrio."

Abro a gaveta ao lado da minha cama e pego o relógio que uso desde aquele dia.

Olho para ele e penso se devo ou não continuar usando-o, já que o mesmo me faz sentir como se Melissa estivesse comigo em cada minuto do meu dia.

Ainda não conversamos direito sobre o nosso término, mas sei que lhe devo desculpas. A machuquei colocando ela e nosso relacionamento em segundo plano, fazendo-a esperar por mim todos os dias e lhe entregando migalhas de atenção e carinho.

Eu errei tanto.

Achei que só amá-la bastasse, achei que estivéssemos bem.

Mas ela merecia mais do que isso, mais do que eu podia oferecer naquele momento.

Eu estava me afundando e a levando junto comigo. Não fui justo.

E agora só me resta desejar com todas as minhas forças que Lucas a ame muito mais do que eu amei, que a conquiste todos os dias como eu deveria ter feito.

Guardo meu relógio e me permito chorar de saudade, de culpa, de arrependimento.

Falo para mim mesmo que amanhã será um novo dia, um dia melhor.